Pela cidade, com suas cores, sua luzes, suas sutilezas de azul e verde.
Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social junto à UERJ, com estágio concluído em 2023. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes.
domingo, 27 de janeiro de 2013
domingo, 20 de janeiro de 2013
Imagens Imaginadas
Imagens imaginadas são as paisagens e as coisas que eu vi pelos olhos da fotografia. Muitas vezes, banalidades pelas quais se passa todos os dias sem que nos causem maior impressão.
Nem por isso, por sua simplicidade, as imagens contêm menos de beleza.
Nem por isso, a banalidade retira às coisas imaginadas com a máquina sua potencial capacidade de nos surpreender e encantar.
Tem um pouco do próprio ato de pintar essa fração de segundo da foto, seja com um simples celular, seja com uma câmera de gente grande como a que me acompanha hoje. Para fabricar uma imagem entra muito de imaginação e, depois, de contentamento, pela redescoberta que toda fotografia guarda em si. Entra muito da curiosidade de mexer naquilo, de controlar a luz, de sublinhar uma cor, de suprimir um componente, como se negociássemos com a criatura, a fim de torná-la mais identificada com a gente mesmo, descompromissada com o real de onde a retiramos com a mágica da luz captada pela lente.
E ainda, afinal, a eternidade virtualmente resguardada e sempre pronta ao resgate da emoção que a criou.
Nem por isso, por sua simplicidade, as imagens contêm menos de beleza.
Nem por isso, a banalidade retira às coisas imaginadas com a máquina sua potencial capacidade de nos surpreender e encantar.
Tem um pouco do próprio ato de pintar essa fração de segundo da foto, seja com um simples celular, seja com uma câmera de gente grande como a que me acompanha hoje. Para fabricar uma imagem entra muito de imaginação e, depois, de contentamento, pela redescoberta que toda fotografia guarda em si. Entra muito da curiosidade de mexer naquilo, de controlar a luz, de sublinhar uma cor, de suprimir um componente, como se negociássemos com a criatura, a fim de torná-la mais identificada com a gente mesmo, descompromissada com o real de onde a retiramos com a mágica da luz captada pela lente.
E ainda, afinal, a eternidade virtualmente resguardada e sempre pronta ao resgate da emoção que a criou.
sábado, 19 de janeiro de 2013
A Cidade
A cidade. Lugar de encontros e desencontros, aproximações e distanciamentos. Suas sensibilidades e seus discursos mudos, que é preciso saber encontrar, saber ver, saber ler e saber interpretar. A fotografia pode ser um instrumento hábil para apontar essa subjetividade profunda, assim expressa nesses discurso das cidades, marcadas, em cada canto, por tatuagens, fragmentos de histórias de vidas, de sociabilidades.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Cartas
Marcadores
Cartas,
Cartas de Francisco para Maria
sábado, 12 de janeiro de 2013
Revista Vida Brasil
DE BEIJA-FLOR A AVESTRUZ
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Foi engraçado e inspirador. Escrevi uma crônica motivada pelo Natal. Foi uma carta a Papai Noel onde falei de saúde e disse que comia pouco. “Como um passarinho” foi a expressão que usei. O texto foi publicado aqui na Revista Vida Brasil e ilustrado pelo editor, Celso Mathias, com um lindo beija-flor: delicado, pequeno, suave. Naturalmente, eu me senti o máximo. Algo assim como o último biscoitinho do pacote: livre, leve e solta.Bem, houve controvérsias.
E pior: um testemunho de peso lançado contra o beija-flor porque, segundo Rogério Centofanti, eu me comporto, à mesa, como um avestruz, um bicho que engole tudo o que vê. Não é bem assim. Sou comedida. Olhando para mim, ninguém, absolutamente ninguém, pode dizer que sou comilona, voraz, gulosa, exagerada. Não que eu seja esquálida. Longe disso! Mas realmente não acho que eu coma demais. De modo algum!
Em todo caso, como fui contraditada energicamente em diversos comentários apostos à crônica, achei melhor me explicar. Afinal, fui comparada a um avestruz e isso está bem longe de consistir numa observação lisonjeira, embora pudesse ter sido pior. Pelo menos fiquei no lucro, pois não fui chamada, por exemplo, de perua ou de pata... Quem sabe de chester? Aquela ave que é 70% peito e coxas. Deuzolivre! Avestruz, ao menos, é uma ave de lindas plumas, embora esteja bem longe da delicadeza sugerida pelo beija-flor.
Tudo começou em São Paulo. Até eu ir parar naquele paraíso gastronômico, nada me tentava ou atentava em matéria de comida. Ficava na saladinha básica, no dia-a-dia corrido voltado a mil atividades, sem tempo de ficar pensado no que ia comer. Simples. Hora de comer, quando se tem tempo para isso, não tinha mistério algum. Ia qualquer coisa mesmo. O que houvesse. Simples assim. Sem grandes ponderações a respeito de temperos, tipos de pratos, variedades, etc.
Em São Paulo, porém, a coisa é bem diferente. A própria cidade cheira acomida. Chegando por Congonhas, tudo já começa com o aroma do café especial, exclusivamente servido na cafeteria que fica bem em frente às escadas rolantes. Sempre no ponto. Tem sabor. Cheiro e sabor. É delicioso. O paladar como que desperta quando se chega àquela cidade. E, no meu caso, duplamente, porque fui lá a convite justamente de quem me transformou nesse avestruz... Pois é, Rogério. Ele é o único culpado, acreditem.
Não posso dizer que não foi divertido. Hoje vou a São Paulo quase que a cada dois meses, e vou pensando em comida, confessadamente. No início, porém, não ia tantas vezes. Nem conhecia a cidade que foi, aos poucos, me sendo apresentada em detalhes, em cada um de seus esplendores e misérias, bairros, aromas, paladares, paisagens. Em São Paulo se come de tudo, e não há como ficar no bife, no frango e na saladinha. A cidade nos seduz, porque o apelo por comida faz parte de tudo aquilo. Sente-se o paladar despertar a cada esquina. Mesmo na rua, o que é oferecido tem excelente aparência e é bem servido. Acho que até uma criatura de vida ascética ficaria meio transtornada em São Paulo, diante de tantos tipos de comida.
Na primeira vez que fui para lá tive um encontro inesquecível com uma lasanha. Era inverno, julho, jantar num dos tradicionais restaurantes do Bixiga. E ela, a lasanha, foi absolutamente inesquecível. O restaurante? Temático. Tinha embutidos e queijos pendurados do teto e fazendo parte da decoração. Toalha de mesa xadrez nas cores verde, vermelho e branco. Garçons que a gente jurava que recém haviam chegado da Itália. E a lasanha? Ah! Servida na própria forma onde fora montada. De carne, com aquele molho vermelho, denso, cheiroso, a massa no ponto, o queijo derretido, saboroso... Foi traumático. Comi moderadamente. Não tive coragem de descolar o queijo da parte interior e exterior da forma.
Depois de, cerimoniosamente, haver dito que estava satisfeita, vi o garçom levar embora o prato ainda cheio daquela parte que adere à forma com massa e queijo que ficam meio torradinhos pela ação do fogo. Eu me controlei, porque não podia, diante de um paulistano, me atirar assim num prato. O que ele pensaria de mim? Uma morta de fome. Minha avó Josephina me ensinou que, diante de outras pessoas, durante uma refeição, deve-se sempre demonstrar certa frugalidade. Nunca repetir o prato, e sair da mesa sentindo um pouco de fome. Comer demais tinha a ver com falta de educação. Demonstrar interesse por comida não é de bom tom. Não fica bem. Não é adequado, sentenciava ela. Deve-se prestar atenção na conversa, jamais na comida.
Bem, Dona Josephina teria se orgulhado de mim naquele restaurante italiano do Bixiga, pois comi moderadamente, me comportei bem, e disse que estava satisfeitíssima, embora morrendo de vontade de ter limpado a forma até fazer ver o fundo daquela assadeira de ferro, que teria voltado para a cozinha sem nenhum átomo da melhor lasanha que já comi na minha vida. Até hoje, passados mais de cinco anos, lembro-me daquele prato que eu não devorei. Rogério teria ficado horrorizado. Logo ele, tão paulistano. E eu? Ah! Delicada, educada, comedida.... Pois é. As aparências enganam. Fui mantendo a pose. E o discurso: não ligo muito para comida. Qualquer coisa vai bem. Sou muito de frango e de salada. Pior é que nada disso é mentira! Em Porto Alegre, no tal paralelo 30, dificilmente saio da casinha em matéria de comida. Até porque muitos dos tidos por bons restaurantes daqui ficam devendo até mesmo para comida vendida na rua em São Paulo.
Pois bem. Fui me comportando até que um dia Rogério resolveu me mostrar a parte decadente da cidade. Avenida São João, parte baixa, que fica sob o viaduto conhecido como Minhocão. Lixo, paredes pichadas, moradores de rua, cachorros vira-latas, imóveis maltratados, alguns abandonados. Há até um castelo por lá, literalmente aos pedaços. Mas nada daquilo me chocou. Era a cidade em seu outro lado. Um comércio forte mostrava que ali havia moeda circulando: livros usados, móveis de escritório e ainda um encantador antiquário com verdadeiros tesouros em matéria de móveis, cristais e porcelanas. Só em São Paulo isso pode acontecer.
Estávamos caminhando havia um bom tempo, e Rogério parecia preocupado com segurança. Afinal, aquela região é mesmo conhecida pelo risco que apresenta. No entanto, eu parei de repente, e disse a ele que estava sentindo um cheiro delicioso. O que é isso que cheira tão bem? Quero comer essa coisa, seja o que for! Ele me disse que era Yakissoba, comida japonesa, na verdade, chinesa. Eu disse que não comia comida japonesa, mas que queria comer fosse lá o que fosse que cheirava daquela maneira. Ele argumentou que era um bar suspeito, situado bem debaixo do Minhocão, que a comida estava sendo feita na calçada por um vietnamita que nem era japonês, que ele estava com receio até mesmo de sentar lá e que, se eu quisesse comer o melhor Yakissoba do mundo, ele me levaria até o Bairro Liberdade, num bom restaurante. Mas eu quero este, insisti. Então, com cara de quem se sente derrotado, ele suspirou e deu a última palavra, encerrando o caso: “Sim, senhora”.
Nunca comi um Yakissoba como aquele. O cheiro tinha tudo a ver com o sabor. Feito na hora, com aqueles molhos estranhos, os legumes, as carnes misturadas: eu quis de frango e porco. Foi uma iniciação àqueles temperos. Hoje como Yakissoba até mesmo de hashi. Mas aquele, feito em pleno Minhocão, na calçada, às portas de um bar com mesinhas de fórmica sem toalha, por um senhor que nem português sabia falar, ah... Inesquecível. Nem na Liberdade, num tradicional restaurante daquele bairro oriental, comi melhor.
Outro episódio constrangedor para Rogério deu-se no Brás. Insisti para provar tapioca feita na rua. Bem ao lado, um vendedor discursava com a maior eloquência. Vendeu-me banha de peixe-boi e uma lata da milagrosa Pomada Doutorzinho. Rogério nada dizia. Apenas suspirava em silêncio, olhava para o alto e pagava as compras. Adorei a tapioca feita com manteiga de garrafa. Só em São Paulo isso acontece.
Depois foi a história da feijoada. Feijoada? Não, não como, disse eu num restaurante, hora de almoço. Pedi frango e salada. Rogério pediu, para ele, a tal da feijoada. Eu comia meu filé de peito magro e alfaces e via, curiosa, chegarem à mesa vários pratos que compuseram um conjunto: arroz, couve, uma bisteca de porco gordinha, maravilhosa, que parecia suculenta, torresmo, uma cumbuca cheia de feijão e outra cheia de carnes e embutidos maravilhosamente apetitosos que haviam sido cozidos no caldo do feijão. Tudo cheirava muito bem. Eu olhava e comia o esquálido filé de frango. Rogério perguntou se eu queria provar... Ah, sim! Eu provo. E fui provando, até que não sobrou mais nada da feijoada. Ele olhou para os pratos vazios, pediu café, pagou a conta. Saiu quieto. Até hoje não sei exatamente o que pensou do episódio. Eu, contudo, fiquei sabendo que feijoada em São Paulo é um prato sofisticado, se comparado àquela coisa que servem frequentemente por aí, com orelhas e pedaços da cabeça de um porco boiando em caldo de feijão.
Bem, depois do episódio da feijoada, assumi, em São Paulo, minha gula. Já não ficava muito receosa sobre o que Rogério pensaria ou deixaria de pensar. Ele, contudo, já não perdia tempo perguntado se eu queria saladinha e carne magra. Em Embu das Artes, para onde fomos passear uma tarde, nem me perguntou o que eu queria comer. Pediu logo um baião de dois. O prato gigantesco veio parar diante de mim. Não sobrou nada. Estava simplesmente delicioso. A partir desta visita a Embu das Artes, nunca mais me preocupei em escolher o que comer em São Paulo... Rogério escolhe, e eu apenas me dou ao trabalho de me deliciar.
Ele nem mesmo se mostrou surpreso quando me apresentou ao famoso virado à paulista. Demorou, porque é prato servido às segundas-feiras. Dificilmente estou por lá às segundas. Mas chegou o dia, enfim. E eu literalmente devorei o tutu de feijão, o arroz, a bisteca de porco, a enorme banana à milanesa, o ovo frito, a couve e cada um dos deliciosos torresmos. E pedi sobremesa. Um doce caseiro. E café expresso. Rogério pareceu chocado. Suspirou, pagou a conta e, calado, me fez caminhar por alguns quarteirões. Precaução desnecessária. Meu aparelho digestivo certamente é semelhante ao da tal ave emplumada à qual ele insiste em me comparar.
A partir de então creio que Rogério resolveu fazer experiências comigo em São Paulo. Na Liberdade, descobri o sabor da tempurá. Enorme, frita na hora, com legumes e camarões. Aos domingos, na Praça da República, ele me faz repassar as barracas onde todo tipo de guloseima é servida. Uma noite, na av. São João, provei acarajé e achei uma delícia, com pimenta e tudo.
Exceto peixe. Peixe, não! Porque eu simplesmente detesto peixe. Não suporto o cheiro, o sabor, o aspecto... No entanto, em Santos, este ano, devorei um linguado temperado com alcaparras. Neste último Natal, comi bacalhau (algo que eu nunca suportei) preparado com capricho pelo próprio Rogério. Desta vez, sem nenhum constrangimento, raspei até o fundo da panela. Não sobrou nada.
Definitivamente, o beija-flor, em São Paulo, vira de fato um avestruz. Culpa do Rogério, é claro, naturalmente.
Autor: Maristela Bleggi Tomasini
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Cartas
E eu estou convencido: entre dois seres que se buscam,
não deve ser discutido o amor. Dante aconselhava: non raggionare da loro. Eu
sei o que é o amor, conheço a sua expressão humana, não desconheço a sua
significação natural, sou sensato, não exijo mais do que a mulher pode dar,
tenho certeza de que não existe o absoluto, sei que no continuo está incluido o
descontinuo, que no inconsciente dorme muita cousa que não devemos saber (porem
que hoje já se póde descobrir, felizmente ou infelizmente!) e que tudo na vida
é um jogo interessante e universal e tu, meu amor, o mais bonito brinquedo que
a vida me deu[1].
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Cartas,
Cartas de Francisco para Maria
domingo, 6 de janeiro de 2013
Escritas de Si
A escrita de si, ou escrita pessoal, é uma fonte
privilegiada para tecer a rede de subjetividades que se pode perceber sobre
certa questão, em determinada época, levando a uma busca mais contundente de
conteúdos e valores. (SANTOS, 2008)
[1] SANTOS, Nádia Maria Weber.
História, subjetividade e cultura em leituras sensíveis do EU: um exemplo nas
escritas ordinárias de hospício. IN: PESAVENTO, Sandra Jatahy; SANTOS, Nádia
Maria Weber; ROSSINI, Miriam de Souza (Org). Narrativas, Imagens e Práticas Sociais. Porto Alegre: Asterisco,
2008, p. 76.
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