Mostrando postagens com marcador Arquivos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arquivos. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Lembranças


Muitos se recordam desses livros adquiridos em branco. Encadernados com gosto, colecionavam lembranças. As meninas, principalmente, os tinham. Eram emprestados para que as amigas, colegas do colégio em especial, anotassem ali pensamentos, poesias, recordações. Eu mesma tive um, que se perdeu. 

Este, que aparece na foto, obtive recentemente. Pertenceu a uma senhora que hoje conta  mais de 90 anos. O livro, presente de sua mãe em 1945, traz anotações de amigas até 1949, na maior parte, transcrições de poesias. Por entre as páginas, manuscrito em letra caprichada sobre folha quadriculada tomada de algum caderno, está o Se, de Kipling e um recorte de jornal, sem data, com outro poema intitulado Perdoa-me, de Delmar Barrão.

Fica o registro. 

sábado, 24 de julho de 2021

Quando a fonte é muito pessoal...

 

A condição de produto de gente comum, que viveu uma vida comum e que produziu escritos que teriam por destino o lixo, remete a uma descartabilidade absoluta, e é isso o que vai conferir à fonte, em sua singularidade, a pertinência ao âmbito do que Perec chamou de infra-ordinário, algo que, não obstante sua trivialidade, mesmo sua futilidade,  pode ser perfeitamente bem compreendido na perspectiva literária que este autor soube tão bem descrever a partir de sentimentos colocados em primeira pessoa. Perspectiva de alguém que nos fala dos jornais que o entediam, que nada lhe ensinam. De alguém que se pergunta onde estaria todo o resto, todo o resto que vivemos: o banal, o cotidiano, o que é comum, evidente, habitual. Esses pequenos nadas, prosaicos, que não indagam nem respondem, teriam uma densidade talvez tão próxima de nós que, anestesiados, jamais somos levados a interrogá-los, pois aí vivemos sem pensar, como peixes que ignoram o aquário, sendo preciso dotá-los talvez de uma atenção especial que lhes permitisse a sua descoberta. E como deveríamos proceder então para interrogar este habitual que nos anestesia, como se dormíssemos nossa própria vida em um sono desprovido de sonhos? Onde estaria nossa vida, nosso corpo e nosso espaço? Como falar das coisas comuns? Como persegui-las, desalojá-las, desencravá-las da ganga na qual restam incrustadas? Como dar-lhes um sentido e uma linguagem, na medida em que elas falariam, enfim, daquilo que é e daquilo que seríamos? Talvez fosse o caso — arrisca Perec — de se fundar uma nova Antropologia capaz de falar de nós e de procurar em nós aquilo que, por tanto tempo, pilhamos aos outros, abandonando o exótico pelo endótico.

PEREC, Georges. L’Infra-Ordinaire. Paris: Editions du Seuil, 1989, p.10-11.


quinta-feira, 5 de março de 2015

Minha Querida Lysia

Publicação 2015
Trecho de uma das cartas de Maria. 
Minha Querida Lysia

TOMASINI, Maristela Bleggi. Minha Querida Lysia. In: FREITAS, Talitta Tatiane Martins. (Org.). Anais do VII Simpósio Nacional de História Cultural: Escrita, circulação, leituras e recepções, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. ISBN: 978-85-67476-12-4

quinta-feira, 17 de julho de 2014

In Oblivium (em breve)


Cartas, cartões, bilhetes, pequenos recados, agendas, diários, vivências rascunhadas, testemunhos eloquentes de um dado fático que se fez registrar. Não raro a perda, o descarte que sobrevêm, a dispersão. Muitas vezes, esses pequenos universos de particularidades, guardados significativos acumulados por alguém ao longo do tempo, encontram quem por eles se deixe fascinar, seja pela variedade de formas que assume a imensa pluralidade dos tipos documentais, seja, às vezes, pela tentativa de compreender ou mesmo dar significado aos mais imprevistos e imprevisíveis conteúdos que tais documentos encerram. 

IN OBLIVIUM surge como um gabinete virtual destinado ao compartilhamento de pesquisas empreendidas sobre arquivos pessoais, expondo dados e resultados, e disponibilizando ainda imagens virtuais de documentos, em sua maioria pertencentes ao arquivo pessoal desta pesquisadora.

IN OBLIVIUM. No esquecimento, as lembranças. No papel onde o tempo imprimiu suas marcas, apagou palavras e inscreveu tantas manchas, a busca pela completude. Ver em cada dado de arquivo o registro de uma atividade, encontrando ali o cotidiano em sua rica ou pobre expressão, simples ou complexa, eis aí uma atividade humana, testemunho de alegrias ou dissabores, esperanças ou decepções. Arquivos vivem, não morrem. Diz-se deles que apenas se fazem inativos, encantados, — por que não? —, à espera da pergunta cuja resposta já se encontra neles de antemão inscrita.

Como pedra bruta à espera da lapidação, assim estes documentos jazem adormecidos ao crepúsculo do esquecimento a que foram arrastados. Tocar neles, estudá-los, armazená-los, percorrer suas formas, tipos e conteúdos é tarefa fascinadora, que inspira, muitas vezes, uma atividade artística. Porque tais papéis se constituem, muita vezes, em verdadeiras raridades. São únicos. São precisos em seus detalhes. E quem vier, por exemplo, a ler as cartas que Francisco escreveu para Maria saberá disso, se não porque tal aqui se afirma, certamente porque não se furtará de, por um momento, travestir-se ora em remetente, ora em destinatária.

É que nem os estudiosos se livram dessa perversão do encantamento pelos velhos papéis, mesmo nesse tempo em que as páginas amarelas assumem a forma da luz e se deixam conduzir pela World Wide Web. Seja. Talvez sem isso fosse impossível a preservação desse testemunho de hábitos passados, de práticas que rapidamente se precipitam no esquecimento.

IN OBLIVIUM. Para que a memória persista.

Maristela Bleggi Tomasini


sábado, 26 de outubro de 2013

Dar nome aos documentos: da teoria à prática



Registro minha participação como ouvinte, em São Paulo, do seminário internacional "Dar nome aos documentos: da teoria à prática" realizado pelo iFHC - Instituto Fernando Henrique Cardoso e ARQ-SP - Associação de Arquivistas de São Paulo, nos dias 24 e 25 de outubro. A realização do evento justifica-se, porque "arquivos, bibliotecas, museus e centros de memória enfrentam hoje, mais do que nunca, a dificuldade de nomear adequadamente os documentos que precisam descrever e disponibilizar para consulta. Na medida em que se interessam por tudo aquilo que pode servir de fonte para a pesquisa, e não apenas por documentos que correspondem a atos de caráter  administrativo e jurídico, lidam com uma variedade muito grande de linguagens, suportes, técnicas de registro e formatos, sem dispor de repertórios que os auxiliem nessa tarefa. Tomando por base a experiência de organização do acervo multifacetado da Fundação iFHC, o seminário Dar nome aos documentos: da teoria à prática pretende reunir especialistas para discutir problemas conceituais e terminológicos, com a perspectiva de estabelecer uma plataforma de entendimento capaz de responder não apenas às necessidades daqueles que atuam em instituições de custódia, mas também às de profissionais de outras áreas, igualmente empenhados na nominação dos documentos de que se ocupam". 
Fotos: MTomasini. Acima, à esquerda, exposição permanente de objetos dados como presentes a Fernando Henrique Cardoso, quando este ocupava a Presidência da República; à direita, abertura oficial  do evento que contou com a presença do ex-presidente. Abaixo:detalhes das instalações do iFHC.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Mostra internacional no Paço das Artes discute o status do arquivo na produção contemporânea

Com abertura prevista para 1° de outubro, a exposição Arquivo Vivo reúne 22 obras que discutem a concepção de arquivo. A coletiva conta, ainda, com série de mesas-redondas, exibição de filmes e oficinas sobre o tema; entrada gratuita
O Paço das Artes inaugura no dia 1o de outubro (terça-feira), às 19h, a mostra internacional Arquivo Vivo. Organizada pela diretora e curadora do Paço das Artes, Priscila Arantes, a exposição apresenta 22 trabalhos de artistas nacionais e internacionais, divididos em instalações multimídia, projetos em vídeo, arte digital, fotografia, entre outros.
Integram a coletiva nomes como Cristina Lucas (Espanha), Yinka Shonibare MBE (Inglaterra), Nicola Costantino (Argentina), Hiraki Sawa (Japão), Berna Reale (Brasil), Raquel Kogan (Brasil), Marilá Dardot (Brasil), Rosangela Rennó (Brasil), Regina Parra (Brasil), Mabe Bethônico (Brasil), Ivan Navarro e Mario Navarro (Chile), Voluspa Jarpa (Chile), Letícia Parente (Brasil), Paula Garcia (Brasil), Eduardo Kac (USA/Brasil), Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti (Brasil), Masaki Fujihata em colaboração com Frank Lyons (Japão), Vesna Pavlović (Sérvia), Christian Boltanski (França), Lucas Bambozzi (Brasil), Pablo Lobato (Brasil), Edith Derdyk (Brasil).
Entenda a mostra
A curadoria dialoga com o conceito de “Mal de Arquivo”, proposto por Jacques Derrida, que entende o arquivo como uma operação performática ou como um dispositivo incompleto e, por isso, sempre aberto a novas escrituras. “Artistas que se apropriam de material de arquivo, que criam arquivos fictícios, que desenvolvem projetos a partir de uma modalidade arquival, que reencenam obras de arte, criadores que colocam em debate os processos de catalalogação e arquivamento, e os que incorporam o arquivo no próprio tecido corporal são alguns dos selecionados para Arquivo Vivo”, explica Priscila Arantes.

A A coletiva apresenta a investigação destes criadores a partir de três vetores: arquivo e apropriação de documentos e obras da história e da história da arte; arquivo no corpo e corpo como arquivo; arquivo de artista, arquivo institucional e banco de dados.
A primeira seção reúne projetos que reencenam obras/documentos emblemáticos da história e da história da arte, como, por exemplo, o vídeo La Liberté Raisonné, em que Cristina Lucas faz uma releitura de A Liberdade Guiando o Povo, de Eugene Delacroix, e o trabalho Vera Cruz, de Rosangela Rennó, que dialoga com a carta escrita por Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil.
É possível destacar também a instalação Cara Metade, da dupla chilena Ivan e Mario Navarro. Os artistas abordam a cooperação militar entre França e Brasil, em especial, em relação às táticas de tortura exportadas da Europa para América Latina via ditadores brasileiros na década de 60. Com a recente abertura dos arquivos políticos, a obra chama atenção por lançar luz a esse período obscuro, que completa 50 anos em 2014.
Já artistas como Letícia Parente e Eduardo Kac são alguns dos que utilizam o corpo como escritura ao incorporarem marcas e indícios de um corpo-arquivo, um corpo-mensagem. No vídeo Marca Registrada, Parente costura a inscrição Made in Brazil na sola do pé. Kac traz registros da implantação de um microchip com um vídeo de identificação no próprio tornozelo em Time Capsule.
Por fim, destacam-se propostas nos quais os artistas colocam em cena arquivos pessoais ou criam complexos sistemas de banco de dados, a exemplo da sequência de fusões de retratos antigos em preto e branco do francês Christian Boltanski na obra Entre-Temps, e Expiração 09, compilado do material do arquivo audiovisual de Pablo Lobato. No início da exposição, um software idealizado pelo artista define o período de existência de cada vídeo aleatoriamente. Todos serão apagados de forma definitiva no fechamento da temporada no Paço das Artes.
Arquivo Vivo encerra a trilogia sobre o tema, abordado pela instituição nos projetos Livro_Acervo (2010), que inclui a enciclopédia Temporada de Projetos 1997-2009, e Para Além do Arquivo (2012-2013), mostra feita em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza (CE).
Atividades paralelas
A exposição conta com uma série de mesas redondas com artistas participantes, colecionadores e curadores como Miguel Chaia e Denise Mattar, e exibição de filmes (ver abaixo). Entre eles, Vento de Valls, de Pablo Lobato, e O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares, que aborda os bastidores da participação dos Estados Unidos na execução do golpe militar brasileiro, em 1964.
Haverá, ainda, a oficina Arquivos na realidade Urbana Aumentada (A-RUA), que será ministrada pela artista Suzette Venturelli. A programação prevê também atividades, desenvolvidas pelo Núcleo Educativo da instituição com o objetivo de aprofundar as discussões sobre os assuntos expostos.
Sobre a curadora
Priscila Arantes é crítica de arte, curadora, pesquisadora e professora universitária. É diretora técnica e curadora do Paço das Artes desde 2007, onde desenvolve projetos no campo da arte contemporânea. É também professora de cursos de pós-graduação e graduação em “Arte: história, crítica e curadoria” na Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/SP). Em 2012, recebe prêmio da Paul Getty Foundation para participação na conferência anual do College Art Association (CAA). Entre 2007 a 2010, é diretora adjunta do MIS (Museu da Imagem e Som/SP). Formada em filosofia pela USP, possui mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e pós-doutorado em Artes pela Unicamp (2010) e Penn State University (USA/2012). É parecerista da Capes/MEC no campo das artes, membro do Conselho deliberativo da Anpap (Associação nacional de Artes Plásticas) e, em 2010, integra o Conselho da Revista do Pólo de Arte Contemporânea da Bienal Internacional de São Paulo. Entre suas curadorias destacam-se Circuitos Paralelos: retrospectiva Fred Forest (Paço das Artes, 2006), Bia Medeiros: trajetórias do corpo (Caixa Cultural RJ e BSB,2008), I/legítimo: dentro e fora do circuito (MIS e Paço das Artes, 2008) e “Crossing” [Travessias} (Paço das Artes, 2010).
Paço das Artes
Instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, o Paço das Artes foi criado no início dos anos 70 e é conhecido como um centro de exposição e reflexão sobre a produção artística contemporânea. Caracterizado como um espaço experimental e multidisciplinar, promove exposições temporárias que compreendem os diversos segmentos da arte contemporânea: desenho, pintura, escultura, fotografia, performance, videoarte, arte digital, instalações multimídia, entre outros. Nos últimos anos, a instituição apresentou exposições de artistas importantes do cenário da arte contemporânea, como Pipillot Rist, Yang Fudong, Marina Abramovic, Bill Viola, entre outros.
___
PROGRAMAÇÃO
MESAS REDONDAS
2/10 (quarta-feira) | O Arquivo na Produção Contemporânea
19h às 19h40 - Priscila Arantes e Simone Osthoff
20h às 21h30 - Lucas Bambozzi, Rejane Cantoni, Leonardo Crescenti e Raquel Kogan
3/10 (quinta-feira) | O Arquivo na produção contemporânea
19h às 19h40 – Pablo Lobato e Camilo Tavares
20h às 21h30 - Berna Reale, Regina Parra, Marilá Dardot e Edith Derdyk
17/10 (quinta-feira) | Arquivo, Acervo e Colecionismo
19h30 às 21h30 - Miguel Chaia e Denise Mattar
___
FILMES
4 / 10 (sexta-feira)
17h - Ventos de Valls, de Pablo Lobato (2013, 83 min, documentário, HD, Brasi)
19h - O Dia que Durou 21 anos, de Camilo Tavares (2012, 77 min, documentário, Brasil)
5 e 6/10 (sábado e domingo)
15h30 - Ventos de Valls
17h30 - O Dia que Durou 21 anos
___
OFICINA
1º e 2/11 | 14h às 18h | Arquivos na realidade Urbana Aumentada (A-RUA)
A artista Suzette Venturelli ministra oficina em que apresenta ferramentas para a criação de Realidade Aumentada desenvolvida por artistas. Além disso, destaca tecnologias aplicadas na visualização de dados arquivados para o espaço urbano.
___
NÚCLEO EDUCATIVO
1/10 a 8/12 | Espaço Traduções
Os visitantes poderão adicionar, em um blog criado especialmente para a exposição, fotos, vídeos, depoimentos e outros registros que dialoguem com a ideia de arquivo.
23/11 | 14h às 16h | Paço Criança – Livro de Artista
Pais e filhos poderão criar um arquivo familiar, a partir de suas experiências, invenções e apropriações.
Concepção (Núcleo Educativo do Paço das Artes): Cristiane Ferreira de Almeida, Larissa Buran e Mariana Maia Sesma
(Programação sujeita a alterações)
___
SERVIÇO
EXPOSIÇÃO ARQUIVO VIVO | GRÁTIS
Abertura: 1o de outubro, terça-feira, às 19h
Visitação: 2 de outubro a 8 de dezembro de 2013
Horários: terça a sexta-feira, das 11h30 às 19h | sábados, domingos e feriados, das 12h30 às 17h30
Classificação: Livre
Acesso e elevador para cadeirantes | Ar condicionado | Não tem estacionamento próprio
Na inauguração, haverá o lançamento dos catálogos da Temporada de Projetos 2011 e da 1ª edição da Temporada de Projetos 2013.
Paço das Artes
Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, São Paulo | (11) 3814 4832 | www.pacodasartes.org.br
Imagens: mtomasini