Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social junto à UERJ, com estágio concluído em 2023. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes.
terça-feira, 25 de junho de 2013
sábado, 15 de junho de 2013
REVISTA VIDA BRASIL
PENSANDO BEM...
terça-feira, 18 de junho de 2013
Qualquer hora, quando eu tiver tempo.
Cogumelos
terça-feira, 18 de junho de 2013
Inusitada - É que tem dessas coisas. Pequenos imponderáveis que a gente registra; porque não é apenas de grandezas que a vida é feita. Somos todos cotidianos. Querendo ou não, uma boa dose de surpresa existe sempre por aí, perdida nas nossas rotinas, desviada de nosso olhar: voltado sempre para o próximo instante, a próxima hora, a próxima obrigação a ser cumprida. Qualquer hora, e compro prendedores de roupa. Depois saio por aí enfeitando as árvores, pondo brincos em suas folhas.
Qualquer hora, quando eu tiver tempo.
Qualquer hora, quando eu me sentir menos assim.
Menos o quê?
Ah! Preterida. Preterida?
Ah! Preterida. Preterida?
Pois é. Bem que um "f" nesta palavra faria toda a diferença...
Esforço
Eu me esforço bastante para ser assim... Como se diz? Acho que ajustada. A-jus-ta-da. Será mesmo? Devo ter educação, boas maneiras, sorrir, falar baixo, fazer de conta que não vejo tudo o que vejo, que não ouço tudo o que ouço, que não sei nada de tudo quanto eu sempre soube, que não ligo, que não dói, que não sinto. Enfim, faz de conta que não sou eu, que nem sei de mim. Posso mesmo ser este papel que decora a parede, onde tem um prego fincado bem fundo, para que ali se pendure um aviso: FECHADO.
Um Papel
E meus olhos não fugiam do pequeno papel dobrado deitado ao chão lado a lado ao cigarro que alguém fumou até além do fim. E deu-me tamanha vontade de desdobrar e de ler. Fiquei perguntando aos tais botões, que devo ter de meus, se não havia alguma coisa ali escrita, e que a água lavaria tal e qual batismo místico, e que algum gari varreria, tal e qual fosse lixo, e que lixo bem era, certamente. E se houvesse ali algo escrito? Pudera! Que houvesse por certo algum recado, bilhete, endereço, nota, quem sabe, um abraço uma dedicatória, uma perda... Ah, quantas dessas notas irrecuperáveis não se desperdiçam ao longo da vida, e que uma chuva não leva, e que um gari não varre e que eu não juntaria por comodidade, por inspiração, por quereres de mistérios que gosto de inventar assim. Por nada.
Contra o fundo azul
É tão simplesmente bonito sentir apenas as cores e seu impacto sobre o fundo dos olhos. O azul purificado de um dia luminoso e o rosa matizado de branco e de maravilha, mais o escuro dos troncos e... pronto! Irresistível. É preciso fotografar e torcer pela fidelidade da lente que introduz a eternidade do efêmero, que prolonga o prazer de perceber as coisas assim, por nada, por puro acaso. Na paisagem, na asa de um inseto, no reflexo fugidio provocado pelo vidro de uma janela que bate com o vento, nesses pequenos nadas que não contam, mas que humildemente compõe uma parte tão pouco perceptível da vida.
Contornar é ótimo. Pois é. O gato subiu no telhado, me engana que eu gosto, eu não tinha escolha, nem alternativa, eu não queria, mas. Manda quem pode, obedece quem tem juízo, ou quem precisa, ou mesmo quem quer, mas não assume. Tirar o corpo fora é possível, sim, mas sempre se deixa alguma coisa na reta, contando com fato de que os farrapos com os quais acobertamos nossas desculpas não deem margem a boatos do tipo que anuncia, por exemplo, a nudez do rei. Ah! Como a linguagem permite essas dubiedades, e como esses discursos têm se tornado assombrosos, ao menos do ponto de vista das coisas ditas republicanas. É notório o quanto todos têm se tornado sutilmente respeitosos, e o quanto a coerência anda em alta. Difícil é engolir e digerir os sapos & cobras que nos são servidos nesses banquetes de delicadeza, nessas considerações alinhavadas com tanta doçura. Eu me sinto lisonjeada por merecer tantas satisfações. Eu até tenho conseguido fingir bem direitinho que acredito piamente em tudo quanto me dizem. Alguma dúvida?
Convívio
Quase sempre acabamos transformando uma conversa numa disputa, depois numa briga, depois num mal-estar que perdura por dias, até que cedemos novamente. Ruim por perto, ruim também quando longe, porque sinto falta de alguma coisa nele que nem sei direito o que poderia ser. Nunca soube e acho que nunca vou saber. Ele também, eu acho. Presumo que soframos os dois como doidos cada vez que acontece uma briga que nos coloca um de cada lado. Contudo, de longe, continuamos sempre a nos espreitar reciprocamente, até que, devagar, um poupando o ego do outro, cuidadosamente, nos reaproximamos utilizando até uma linguagem cerimoniosa. Depois cedemos, para lamber feridas e recompor vaidades.
Cogumelos
Eles nasceram assim. Tão perto, que me atentaram. Então fotografei e documentei os cogumelos do Parque da Redenção. Tão perto! Nasceram praticamente colados! Este parque é cheio desses mistérios, de coisas e pessoas muito estranhas com as quais a gente se depara sem esperar. É um lugar onde os imponderáveis abundam... — Que frase mais pedante, céus! — Só que me deu vontade de escrever assim, bem assim, por desaforo, por derrisão, para mexer com a paciência do leitor ocasional, que vem aqui sem saber por que, e depara-se com essas manifestações tão inesperadas. Na falta de coisa melhor, nada como sair em busca de mistérios. Nem que sejam assim, bem singelos, simplórios ou, melhor dizendo, à maneira dos pernósticos: prosaicos. Pensei na hora emarrancá-los, tomar posse deles, sentir nas mãos seu estofo macio, que lembra a borracha que apaga o grafite. Pensei na hora em cheirá-los, e lembrar-se daquele leve odor de mofo de livros, que eu amo sentir. Pensei na hora em comê-los talvez, mas deu-me dó separá-los, desgrudá-los um do outro, só pela vaidade de ser mais forte, e de dispor de poder para tanto. Ponderei essas coisas todas. Meu cérebro é cheio dessas bobagens inconfessáveis, que só não são pura doidice pela imensa elasticidade do conceito de literatura. Qualquer bobagem que a gente escreva pode ser literatura. A pós-modernidade é tolerante, e as bienais proliferam. Por que não proliferar então os cogumelos geminados? Por que não fotografá-los? Afinal, são bonitos e têm a tal da atitude. Atitude? Sei lá. Deve ser algo assim o que eles têm.
Cidades
Cada uma sendo do jeito que é. É certo que se pode olhar para elas a partir de dados que dizem tudo: pode-se saber quantos moram nela, o que fazem, quanto ganham, se há carros, aeroportos, se há rios, se há mares, se há velhos, jovens, adultos, se os há, e quantos há de cada um. Mas nada fala tanto da cidade quanto nosso olhar de ver, quando se aprende a atentar, não para as coisas mensuráveis e quantificáveis, mas para esses dados avulsos, essas coisas soltas, esses pequenos grandes achados que se inscrevem em muros, paredes, calçadas, e que são feito tatuagens. Dessas coisas únicas, que não se repetem: marcas individuais que definem uma cidade dentre tantas e tantas outras.
Fluidos
Com a primeira semivogal tonalizada, como deve ser. Fluidos. Lembro-me de quando ouvi pela primeira vez esta palavra aplicada por um espiritista dado a discursos sobre as tais estranhas forças que nos cercam. Tudo é cheio de forças — dizia ele — de fluidos, de emanações, de energias que se deslocam pelo espaço, mesmo estando fora do espaço como se entende espaço. Contingentes, imprecisas, sempre refugindo ao alcance de nossos parcos sentidos. Criança ainda, aquilo impressionou-me profundamente, acossou-me a imaginação, e fiquei a me representar os tais fluidos pelo espaço, à deriva, formando estranhos desenhos ainda mais leves e sutis que aqueles que eu costumava flagrar nas nuvens. Dei-me conta de que imaginava os tais fluidos do espiritista como algo assim: uma sutilíssima fumaça que desenha formas abstratas pela paisagem, irradiando luares, vibrações, assombros. Pensamento consolador. Como qualquer verdade que se oponha a esse cotidiano prosaico que nos esmaga com sua retórica precisa e seca.
Frases Feitas
Quando se diz que se faz de tudo, ou qualquer coisa, ou quando se diz que quanto maisse reza mais assombração aparece; e quando o Roque diz que tem dia que é noite, penso em todas as frases feitas que tenho feito e desfeito ultimamente, rosário desfiado de predições que se debulha, tipo dia de muito véspera de pouco, mais vale não ter que ter e perder, e todas essas outras bobagens, miudezas, coisas pequenas, mas, verdade é, afinal de contas, que manda quem pode obedece quem quer.
Ausências & Presenças
Talvez não seja exatamente o que pensamos uma ausência. Há outros onipresentes a quem designamos um exílio emocional tão determinante que jamais se fazem presentes e, ainda que estejam por perto, sua ausência é sempre absoluta. Nascem mortos, ou se morrem, ou os matamos nós, dolosa ou culposamente. Outros dentre os outros são sempre esquecidos, porque nunca chegaram a ser lembrados, a não ser de modo fugidio e, não fossem agendas e lembretes, não tomavam existência nem corporeidade nunca. Até que se desejaria não os esquecer, até que se desejaria, por delicadeza ou complacência, lembrá-los mais vezes, só que, ainda assim, nos fogem, nos escapam, e nada deles deixa rastro de memória que nossa sensibilidade possa capturar, indiferentes que são. Muito iguais, nunca chegaram a tomar corpo e assim ficaram, para sempre fragmentados. Outros há, todavia, cuja presença é tão intensa que já fazem parte de nós, presentificam-se em nosso interior, ficam sempre ali e de tal forma, e com tamanha persistência, que viram um pouco outros eus da gente também. E, no fim, nos acostumamos com suas presenças que ausência alguma é capaz de esmorecer. Deixam de ser outro e passam a ser um pouco a gente mesmo. Ou a gente mesmo vira esse outro lá por dentro. O que não sei dizer é se isso é assim mesmo ou só impressão minha.
E me virás como? Singular ou todo cheio de plurais, a desafiar-me as mágoas, como quem espreita minha intimidade? Não sei. Apenas estarei lá, fugindo ao óbvio que nos ameaça, recomeçando o final, desde o princípio, quando éramos apenas o verbo. Este, uma vez carne, conheceu então a dor e o silêncio.
Descobri que gosto de me reler de vez em quando. Estava folheando essas páginas, brincando com o cursor para cima e para baixo, e me relia. Tentava lembrar-me de como era eu mesma antes de ontem. De como os dias passam e do quanto de nós fica pelas passagens. E pensava nessas mesmas passagens, que são largas, estreitas, escuras, claras, de todo jeito, e que também são lentas, podem ser rápidas, por vezes tormentosas, a vida levando a gente de arrasto. Passa, amanhece, os arranhões dão conta de que ontem foi ontem, e que ontens talvez se escondam nos nossos amanhãs. A vida deve ser feita de corredores e de relógios, de tensões e de acontecimentos. O que não se sabe bem é quando é para sempre ou para nunca mais.
Relatividade
Toda nova racionalidade traz consigo uma nova estética. O Bom, o Justo e o Belo, tão clássicos, ensejam hoje grandes discussões, relativizam-se, descompartimentam-se. Percebem-se fragmentos de um real que se abstrai. Tudo é muito relativo. Sei. Inclusive esta relatividade toda.
Autor: Maristela Bleggi Tomasini
sexta-feira, 14 de junho de 2013
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Porto Alegre
“Il ne suffit
pas de reconstituer pièce à pièce l’image d’un événement passé pour obtenir un
souvenir. Il faut que cette reconstruction s’opère à partir de donnés ou de
notions communes qui se trouvent dans notre esprit aussi bien que dans ceux des
autres, parce qu’elles passent sans cesse de ceux-ci à celui-là et
réciproquement, ce qui n’est possible que s’ils ont fait partie et continuent à
faire partie d’une meme société. Ainsi seulement, on peut comprendre qu’un
souvenir puisse être à la fois reconnu et reconstruit”
HALBWACHS, Maurice. La mémoire collective. Paris: Presses Universitaires de
France, 1968, p. 13.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Apologia da História
“Os
fatos humanos são, por essência, fenômenos muito delicados, dentre os quais
muitos escapam à medida matemática. Para bem traduzi-los, portanto para bem
penetrá-los (pois será que se compreende alguma vez perfeitamente o que não se
sabe dizer?), uma grande finesse de linguagem, [uma cor correta no tom verbal]
são necessárias. Onde calcular é impossível, impõe-se sugerir”
BLOCH,
Marc. Apologia da História. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 54-55.
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