quinta-feira, 17 de julho de 2014

In Oblivium (em breve)


Cartas, cartões, bilhetes, pequenos recados, agendas, diários, vivências rascunhadas, testemunhos eloquentes de um dado fático que se fez registrar. Não raro a perda, o descarte que sobrevêm, a dispersão. Muitas vezes, esses pequenos universos de particularidades, guardados significativos acumulados por alguém ao longo do tempo, encontram quem por eles se deixe fascinar, seja pela variedade de formas que assume a imensa pluralidade dos tipos documentais, seja, às vezes, pela tentativa de compreender ou mesmo dar significado aos mais imprevistos e imprevisíveis conteúdos que tais documentos encerram. 

IN OBLIVIUM surge como um gabinete virtual destinado ao compartilhamento de pesquisas empreendidas sobre arquivos pessoais, expondo dados e resultados, e disponibilizando ainda imagens virtuais de documentos, em sua maioria pertencentes ao arquivo pessoal desta pesquisadora.

IN OBLIVIUM. No esquecimento, as lembranças. No papel onde o tempo imprimiu suas marcas, apagou palavras e inscreveu tantas manchas, a busca pela completude. Ver em cada dado de arquivo o registro de uma atividade, encontrando ali o cotidiano em sua rica ou pobre expressão, simples ou complexa, eis aí uma atividade humana, testemunho de alegrias ou dissabores, esperanças ou decepções. Arquivos vivem, não morrem. Diz-se deles que apenas se fazem inativos, encantados, — por que não? —, à espera da pergunta cuja resposta já se encontra neles de antemão inscrita.

Como pedra bruta à espera da lapidação, assim estes documentos jazem adormecidos ao crepúsculo do esquecimento a que foram arrastados. Tocar neles, estudá-los, armazená-los, percorrer suas formas, tipos e conteúdos é tarefa fascinadora, que inspira, muitas vezes, uma atividade artística. Porque tais papéis se constituem, muita vezes, em verdadeiras raridades. São únicos. São precisos em seus detalhes. E quem vier, por exemplo, a ler as cartas que Francisco escreveu para Maria saberá disso, se não porque tal aqui se afirma, certamente porque não se furtará de, por um momento, travestir-se ora em remetente, ora em destinatária.

É que nem os estudiosos se livram dessa perversão do encantamento pelos velhos papéis, mesmo nesse tempo em que as páginas amarelas assumem a forma da luz e se deixam conduzir pela World Wide Web. Seja. Talvez sem isso fosse impossível a preservação desse testemunho de hábitos passados, de práticas que rapidamente se precipitam no esquecimento.

IN OBLIVIUM. Para que a memória persista.

Maristela Bleggi Tomasini