Cartas, cartões, bilhetes,
pequenos recados, agendas, diários, vivências rascunhadas, testemunhos
eloquentes de um dado fático que se fez registrar. Não raro a perda, o descarte
que sobrevêm, a dispersão. Muitas vezes, esses pequenos universos de particularidades,
guardados significativos acumulados por alguém ao longo do tempo, encontram
quem por eles se deixe fascinar, seja pela variedade de formas que assume a
imensa pluralidade dos tipos documentais, seja, às vezes, pela tentativa de
compreender ou mesmo dar significado aos mais imprevistos e imprevisíveis
conteúdos que tais documentos encerram.
IN OBLIVIUM surge como um gabinete virtual
destinado ao compartilhamento de pesquisas empreendidas sobre arquivos
pessoais, expondo dados e resultados, e disponibilizando ainda imagens virtuais de documentos, em sua maioria pertencentes ao arquivo pessoal desta pesquisadora.
IN OBLIVIUM. No esquecimento, as lembranças. No papel onde o tempo imprimiu
suas marcas, apagou palavras e inscreveu tantas manchas, a busca pela
completude. Ver em cada dado de arquivo o registro de uma atividade,
encontrando ali o cotidiano em sua rica ou pobre expressão, simples ou
complexa, eis aí uma atividade humana, testemunho de alegrias ou dissabores,
esperanças ou decepções. Arquivos vivem, não morrem. Diz-se deles que apenas se
fazem inativos, encantados, — por que não? —, à espera da pergunta cuja
resposta já se encontra neles de antemão inscrita.
Como pedra bruta à espera da
lapidação, assim estes documentos jazem adormecidos ao crepúsculo do
esquecimento a que foram arrastados. Tocar neles, estudá-los, armazená-los,
percorrer suas formas, tipos e conteúdos é tarefa fascinadora, que inspira,
muitas vezes, uma atividade artística. Porque tais papéis se constituem, muita
vezes, em verdadeiras raridades. São únicos. São precisos em seus detalhes. E
quem vier, por exemplo, a ler as cartas que Francisco escreveu para Maria
saberá disso, se não porque tal aqui se afirma, certamente porque não se
furtará de, por um momento, travestir-se ora em remetente, ora em destinatária.
É que nem os estudiosos se
livram dessa perversão do encantamento pelos velhos papéis, mesmo nesse tempo
em que as páginas amarelas assumem a forma da luz e se deixam conduzir pela
World Wide Web. Seja. Talvez sem isso fosse impossível a preservação desse
testemunho de hábitos passados, de práticas que rapidamente se precipitam no
esquecimento.
IN OBLIVIUM. Para que a memória persista.
Maristela Bleggi Tomasini