Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social junto à UERJ, com estágio concluído em 2023. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
sábado, 17 de janeiro de 2015
Fernando Pessoa
Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro.
Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do
rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá, e é esta a razão intima de todo o meu
sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem
há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha
mágoa é mais antiga.
Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a
consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu. Puseram-me
a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me
deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Março, às nove horas e dez
da noite, a minha vida sabe a valer isto.
No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do
meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde
pendem; estão enrolados muito alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na
minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu
estado de alma neste momento. Como à veladora do «Marinheiro» ardem-me os
olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por
interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a
brochura a descoser-se.
Se eu não estivesse escrevendo a você, teria que
lhe jurar que esta carta é sincera, e que as cousas de nexo histérico que aí
vão saíram espontâneas do que sinto. Mas você sentirá bem que esta tragédia
irrepresentável é de uma realidade de cabide ou de chávena — cheia de aqui e de
agora, e passando-se na minha alma como o verde nas folhas.
Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase
é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma
grande vontade de chorar. Pode ser que se não deitar hoje esta carta no correio
amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e
esgares dela no «Livro do Desassossego». Mas isso nada roubará à sinceridade
com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
Fernando Pessoa, in 'Carta a Mário de Sá-Carneiro
(1915) '
Fonte: Citador
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Sensibilidades
“Dicotomias eloquentes: o corpo físico é um
mundo cego, um receptáculo, enquanto os territórios íntimos da alma são a presa
da emoção, do movimento”
LOTTERIE, Florence. Littérature et sensibilité. Paris: Ellipses, 1998, p 15.
LOTTERIE, Florence. Littérature et sensibilité. Paris: Ellipses, 1998, p 15.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
No Museu Júlio de Castilhos
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Sobre o amor
Cartão de felicitações de Francisco para Maria. Documento de 03 de novembro de 1924. |
Assim como dois contrários em grau
intenso não podem estar juntos em um sujeito; assim no mesmo coração não podem
caber dois amores, porque o amor que não é intenso, não é amor. Ora grande
coisa deve ser o amor, pois sendo assim, que não bastam a encher o coração mil
mundos, não cabem em um coração dois amores (VIEIRA, 1939, p. 237).
VIEIRA, Antônio. Sermões e Lugares Selectos. Bosquejos histórico-literários, selecção,
notas e índices remissivos, por Mário Gonçalves Viana. Porto: Ed. Educação
Nacional, 1939.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Informação
Seguramente, um envelope que passou pelos correios nos fornece um indício seguro de sua origem. Torna-se verossímil, confiável e - por que não? - histórico.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
sábado, 3 de janeiro de 2015
Percursos Devocionais
Será possível desvendar os caminhos concretos fixados no mundo sensível por obra da fé, que ora apazígua, ora atormenta as almas? Haveria um método que, bem empregado, nos propiciasse um retrato de como a devoção participa ativamente na formação de grupos sociais, de como ela aproxima pessoas, de como se torna um fator de socialização, fomentando a construção de templos que, uma vez erigidos, dão lugar a uma rotina de cultos a que se somam escolas e comércio de bens e serviços? Como fazer para descobrir esses caminhos, quem os percorre e por que e como o faz. Qual o significado de tantas capelas muitas vezes escondidas, não raro abandonadas, quase esquecidas ao longo de estradas e ruas de tantas pequenas cidades? E o que elas nos contam sobre essa arte que é sacra, que uma estética simplória, sofrida e torturada construiu, e cujos vestígios podemos documentar?
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