quarta-feira, 15 de abril de 2020

Recorte de Pesquisa


Há ainda uma relação interessante e digna de registro que nos vem de um artigo publicado por La Grasserie (1908, p. 225). Ele relaciona a psicologia coletiva à psicologia linguística. O termo psicologia linguística, não obstante exato, seria inusitado, ainda que poucos, porém importantes pensadores, tais como Sayce, Max Müller, Darmesteter, Whitney, Humboldt, Steinthal, tenham se dedicado ao seu estudo. Essa psicologia linguística, todavia, ainda não desfrutaria de uma autonomia nítida, por tratar-se de uma “ciência mista situada entre a psicologia propriamente dita e a linguística”(id. ibid.) razão pela qual teria o que chama de uma inferioridade provisória. Aos psicólogos gerais, pareceria muito técnica e, aos linguistas profissionais, menos nítida que os elementos morfológicos e fonéticos aos quais se deveria a evolução das palavras, das formas e mesmo das ideias. Seu objeto, contudo, teria considerável extensão, extensão esta que nem o psicólogo nem o linguista aprofundaram, razão pela qual demandaria novas investigações que pediriam a colaboração de outros ramos da psicologia. A psicologia, por sua vez, em um plano abstrato e já bem antigo, estudaria o espírito humano em geral. Ela seria antiga e a única psicologia clássica (id., p. 226).  Ao lado dessa psicologia clássica estaria a psicologia individual, concreta, que, ao contrário da primeira, abordaria um dado ser, colocado ao alto da escala biológica, porém distinto de todos os outros. Ele estaria presente nos romances e nas biografias, mas, fosse real ou imaginário, seria sempre individual. Entre essas duas psicologias, estaria a psicologia coletiva, recente e mais ampla do que aquela voltada ao estudo de um único indivíduo, porém mais restrita que a outra, coletiva do gênero humano, limitando-se “grupos mais ou menos extensos e de diversos tipos: psicologia étnica, aquela das classes, aquela das profissões, aquela das raças, aquela das multidões” (id. ibid.). Seriam essas psicologias coletivas às quais a psicologia linguística de relacionaria, abordando porém fatos já separados de seu produtor. Nesse sentido, seria uma psicologia coletiva, voltada a grupos de homens, ao produto de seus pensamentos. A linguagem, conclui Grasserie (id., p. 255), em seus mais variados aspectos, desde sua forma mais elevada que seria a versificação até a mais inferior, a gíria, seriam objeto dessa psicologia linguística, nova, mas nem por isso menos importante no campo da linguagem.

Grasserie, R. de La (1908) De l'ensemble de la psychologie linguistique. Revue philosophique de la France et de l'étranger, t. LXV a. 33. Paris: Félix Alcan, éditeur, pp. 225-255.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

As palavras e as mulheres


Vista como sistema simbólico, a língua exprimiria relações sociais e não se limitaria apenas a facilitar a comunicação. A língua permitiria mesmo a censura, a mentira, a violência e outras coisas, tais como o prazer e o gozo, e até a opressão. Assim, o modo como o indivíduo se relaciona com a língua remeteria à forma como ele se relaciona socialmente, variando de acordo com parâmetros tais como classe social, grupo étnico, idade, profissão, região e outros, em especial, a diferenciação sexual. Há uma língua dos homens e outra das mulheres? A língua é, afinal, sexista? Parece que sim. A questão, todavia, permanece: seria suficiente suprimir, por exemplo, termos considerados como sexistas para a mentalidade sexista fosse, por sua vez, suprimida também?
Escrito em linguagem simples, às vezes polêmica, a obra traz elementos de sociolinguística como base para uma argumentação feminista.
Ref.: YAGUELLO, Marina. Les mots et les femmes. Essai d'approche socio-linguistique de la condition féminine. Paris: Payot, 1992.

sábado, 4 de abril de 2020

Alfred Espinas


“Parviendra-t-on à déterminer les lois de la vie sociale pour l'humanité? nous l'ignorons. Mais nous croyons que ces lois, si jamais elles sont découvertes, auront un grand caractère de généralitéet formeront le couronnement naturel deslois qui régissent le système du monde.”(ESPINAS, 1877, p. 12)

Por que falar deste livro? Particularmente interessei-me por ele quando descobri que aparece como primeira frase de o "O Homem Delinquente" de Cesare Lombroso. Primeira parte, primeiro capítulo, e a remessa a outra obra: "Depois que Espinas aplicou seu estudo da zoologia à ciência sociológica...". Naturalmente há outras obras ali mencionadas, mas Espinas marcou, até porque esse seu estudo é citado outras vezes ao longo da obra e deste capítulo, em particular, no qual Lombroso examina a aparência dos delitos entre plantas e animais, especulando a propósito de supostas "leis sociais" que, uma vez descobertas, pudessem ser generalizadas de sorte a nos facultar a compreensão do fenômeno criminal, na verdade, a possibilidade de sua naturalização, tudo bem ao gosto do século XIX.

ESPINAS, Alfred. Des sociétés animales, étude
de psychologie comparée. Paris: Germer Baillière et Cie, 1877.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Das decisões

"O patrício ou o mandarim em assuntos econômicos, profissionais, científicos, artísticos ou literários pertence à mais perigosa das aristocracias; aquela que se reserva o direito de opinar ou de decidir sem que assuma a responsabilidade de seus pareceres ou resoluções. 
Trata-se de votos ou sentenças, proferidas por autoridades em determinados assuntos, que se escudam no pressuposto de cultura adquirida nos bancos acadêmicos ou no trato cotidiano dos livros. Estas autoridades, revestidas da chancela legal, decidem questões que afetam o destino e a existência dos homens com um simples passar de olhos, uma inspeção superficial, ou uma informação indireta, ouvida através do relator."
CANNABRAVA, Euryalo. Teoria da decisão filosófica. Bases psicológicas da matemática, da linguística e da teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1977, pp. 38-39.