Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas ao meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, concluído em 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao meu Doutorado em História Social, USP, concluído em 2017 e, por fim, ao meu pós-doc em Psicologia Social junto à UERJ, concluído em 2023. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Etiqueta
"E não confundamos educação com etiqueta, pois a etiqueta pode não ser originada por esse perfeito sentimento, como impulso instantâneo, mas imposta por conveniências mercantis. A etiqueta, nestes casos, é o instrumento do disfarce, a dissimulação aplicada, e a arma da hipocrisia".
domingo, 8 de fevereiro de 2015
A PANÓPTICA
As sociedades ocidentais da
atualidade dispõem de meios de vigilância e de controle com os quais os antigos
regimes totalitários teriam apenas sonhado. E atualmente eles são empregados
cada dia um pouco mais. A essa vigilância soma-se o “politicamente correto”,
que procura normatizar a opinião pelo emprego de palavras impostas a todos, ao
estilo do “pensamento único”. Substitui-se o debate pelo sermão, de um
higienismo invasivo, que visa modelar comportamentos em nome do bem, conformando
preferências e dileções. Isso vai diretamente de encontro à liberdade de
expressão, à propaganda, enfim, que se denomina hoje publicidade.
A segurança tornou-se, nos
últimos anos, uma preocupação política essencial. Satisfazer a esta preocupação
sem atingir as liberdades é um problema que não vem de ontem. No seio das
“sociedade do risco”, a insegurança real ou presumida engendra um clima de
incerteza e de medo apropriado a fazer nascer todos os fantasmas. O aparelho
securitário faz uso desse clima para colocar a sociedade sob controle. Os
totalitarismos clássicos desaparecem. São assim outras lógicas, mais sutis, de
servidão e de dominação que aparecem. Elas tomam a forma de uma engrenagem
complexa de proibições e de regulamentações que se legitimam pelas ameaças
onipresentes. Os pretextos são sempre excelentes: trata-se de lutar contra a
delinquência, de vigiar nossa saúde, de aumentar a segurança, de melhor
controlar a imigração ilegal, de proteger a juventude, de lutar contra a
“cybercriminalidade”, etc. A experiência mostra, porém, que as medidas adotadas
no início apenas em relação a um pequeno número são a seguir sempre estendidas
ao conjunto dos cidadãos. Uma vez o princípio admitido, resta apenas
generalizá-lo.
“Desde alguns anos, tentam ―
escreve o filósofo Giorgio Agambem ―, nos convencer a aceitar como dimensões humanas
e normais de nossa existência práticas de controle que sempre foram
consideradas como excepcionais e propriamente desumanas”. O problema é que,
para se assegurarem de sua segurança, os homens têm, em todos os tempos, se
mostrado prontos a abandonar suas liberdades. A “luta contra o terrorismo” é,
desse ponto de vista, exemplar. Ela permite instaurar, em escala planetária, um
estado de exceção permanente. Nos Estados Unidos, os atentados de setembro de
2001 tiveram como consequência direta enormes restrições das liberdades
públicas. Esse modelo está a caminho de se generalizar. Do fato de sua
onipresença virtual, o terrorismo provoca medos eminentemente rentáveis e
exploráveis. Contra o inimigo invisível, a mobilização só pode ser total, pois
em tais circunstâncias todos são infalivelmente suspeitos. A luta contra o
terrorismo permite aos poderes públicos que se imponham frente à sua própria
sociedade civil, tanto quanto frente aos seus inimigos designados. Além dessa
realidade imediata, o terrorismo pode assim se definir como fenômeno gerador de
um terror convertível em capital político, que aproveita menos aos seus autores
do que àqueles que dele se servem como repositório, para condicionar e
amordaçar seus próprios cidadãos.
Hostis a toda opacidade social,
as democracias liberais se dão um ideal de “transparência” que só pode se
realizar pelo esquadrinhamento social. A
sociedade transforma-se então em um bunker
protegido por distintivos, códigos de acesso, câmeras de vigilância. A
multiplicação de espaços privativos, sempre com a finalidade de segurança, subtrai
tais espaços ao fluxo social e termina por fazer desaparecer a própria noção de
espaço comum, que é aquela da cidadania. Assim se dá lugar a uma Panóptica, de
outro modo mais temível do que aquela prevista por Jeremy Bentham, mas cuja
função é a mesma: tudo ver, tudo entender, tudo controlar. No interior de uma
sociedade de assistência generalizada, ― na qual os problemas sociais dependem
apenas da “célula de assistência psicológica” e onde a obsessão ingênua do
“diálogo” dá a entender que, pela discussão, tudo é negociável e pode encontrar
uma solução ―, a conformidade ou “monocromia” (Xavier Raufer) se faz do mesmo
jeito que se opera, em informática, a formatação de um disco rígido, de maneira
que aceite apenas uma única categoria de softwares ou de programas.
Compreende-se melhor, a partir daí, que a ideologia dominante fale mais
naturalmente de direitos que de liberdades, pois a instauração de um novo
direito se complementa, inevitavelmente, de um controle ilimitado de sua
aplicação.
A figura que a sociedade de
mercado procura promover é aquela do eterno adolescente refém de uma permanente
adição ao consumo: a mercadoria como droga. Economia compulsiva, onde a energia
é convertida em pura agitação, em simples capacidade de se distrair. Essa
distração, no sentido pascaliano da palavra, aproxima-se de uma diversão. Ela
desvia do essencial e contribui assim para um desapossamento de si. Provocar
medo de um lado, divertir de outro, ou seja, desviar-se do essencial, impedir
que se possa refletir, dar prova de espírito crítico. Tudo fazer para que as
pessoas produzam e consumam, sem se interrogar sobre algo além de suas preocupações
e desejos imediatos, sem jamais se engajarem em um projeto coletivo que as
possa tornar mais autônomas. A sociedade assim docilizada se torna essa “tropa
de animais tímidos e industriosos” dos quais falava Tocqueville. Eis o ideal da
criação de aves em confinamento.
O fato mais marcante é a
correlação que se observa entre a perda de autoridade e a obsolescência
política do Estado-nação e o reforço de seu aparelho repressivo. Então, mesmo
quando se distancia cada vez mais do domínio econômico e social, o Estado
legifera e controla mais e mais seus cidadãos. A vantagem para ele é que, em
matéria de segurança, não tem obrigação de resultado. Melhor ainda: seu
interesse é de não obtê-lo, porque assim pode justificar a perenização de suas
políticas de controle e de segurança. “Não se reelege um governo promotor da
segurança total porque ele teria conseguido reduzir a insegurança. Ele é
reeleito porque a insegurança persiste” (Percy Kemp). O verdadeiro objetivo não
é, pois, tanto o de suprimir a insegurança, que é dádiva para aqueles que dela
se aproveitam, mas o de mantê-la, de modo a tornar possível a manutenção de uma
vigilância cada vez mais generalizada.
Trata-se, afinal e contas, de
criar um caos latente que, sem ultrapassar certo patamar, seja suficiente para
inibir qualquer tentativa de reação coletiva. A mesma tática foi observada no
passado contra as “classes perigosas”, com o objetivo inconfessável de eliminar
os desviantes, os portadores de uma palavra discordante. Hoje, são os próprios
povos que, aos olhos da Forma-Capital e das oligarquias reinantes são
globalmente transformadas em “classe perigosa”. É aos povos que é preciso
domesticar. Para impedi-los de elaborar projetos coletivos de emancipação e de
autonomia, é bastante inspirar-lhes medo. É para isso que serve a Panóptica.
“Quando não existe o martírio físico, dizia Péguy, são as almas que não
conseguem mais respirar”.
Robert de Herte, L'Panoptique. Éléments n°117, 2005, disponível em
http://grece-fr.com/?p=3788
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
sábado, 17 de janeiro de 2015
Fernando Pessoa
Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro.
Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do
rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá, e é esta a razão intima de todo o meu
sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem
há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha
mágoa é mais antiga.
Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a
consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu. Puseram-me
a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me
deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Março, às nove horas e dez
da noite, a minha vida sabe a valer isto.
No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do
meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde
pendem; estão enrolados muito alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na
minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu
estado de alma neste momento. Como à veladora do «Marinheiro» ardem-me os
olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por
interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a
brochura a descoser-se.
Se eu não estivesse escrevendo a você, teria que
lhe jurar que esta carta é sincera, e que as cousas de nexo histérico que aí
vão saíram espontâneas do que sinto. Mas você sentirá bem que esta tragédia
irrepresentável é de uma realidade de cabide ou de chávena — cheia de aqui e de
agora, e passando-se na minha alma como o verde nas folhas.
Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase
é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma
grande vontade de chorar. Pode ser que se não deitar hoje esta carta no correio
amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e
esgares dela no «Livro do Desassossego». Mas isso nada roubará à sinceridade
com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
Fernando Pessoa, in 'Carta a Mário de Sá-Carneiro
(1915) '
Fonte: Citador
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Sensibilidades
“Dicotomias eloquentes: o corpo físico é um
mundo cego, um receptáculo, enquanto os territórios íntimos da alma são a presa
da emoção, do movimento”
LOTTERIE, Florence. Littérature et sensibilité. Paris: Ellipses, 1998, p 15.
LOTTERIE, Florence. Littérature et sensibilité. Paris: Ellipses, 1998, p 15.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
No Museu Júlio de Castilhos
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Sobre o amor
![]() |
Cartão de felicitações de Francisco para Maria. Documento de 03 de novembro de 1924. |
Assim como dois contrários em grau
intenso não podem estar juntos em um sujeito; assim no mesmo coração não podem
caber dois amores, porque o amor que não é intenso, não é amor. Ora grande
coisa deve ser o amor, pois sendo assim, que não bastam a encher o coração mil
mundos, não cabem em um coração dois amores (VIEIRA, 1939, p. 237).
VIEIRA, Antônio. Sermões e Lugares Selectos. Bosquejos histórico-literários, selecção,
notas e índices remissivos, por Mário Gonçalves Viana. Porto: Ed. Educação
Nacional, 1939.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Informação
Seguramente, um envelope que passou pelos correios nos fornece um indício seguro de sua origem. Torna-se verossímil, confiável e - por que não? - histórico.
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