sexta-feira, 22 de abril de 2011

As Cartas

Esta é uma história real que descobri através da correspondência escrita por Francisco para sua Maria, a mulher por quem ele se apaixonou ainda muito jovem. As primeiras cartas são dos anos 20. Eles ficaram noivos só em 1932, porque se tratou de um romance aparentemente contrariado. Todos os papéis que dão testemunho destes fatos estariam no lixo, não fosse um querido amigo meu encontrá-los e guardá-los durante muito tempo. Ele possuía uma loja de antiguidades que eu visitava quase todos os dias, pois ficava perto da minha casa. Tornamo-nos grandes amigos nesta época. Paulo Roberto, este meu querido amigo, trabalhava com antiguidades, porcelanas, cristais, livros e todas as tralhas que, em geral, vão parar nessas lojas. Um dia, quando estava por se mudar dali, ele me chamou: "Maristela, vem cá que tenho uma coisa pra ti", disse ele, muito sério. Fomos até a parte dos fundos da loja e ele, então, entregou-me uma sacola plástica empoeirada e amarrada, dizendo que ali havia coisas que ele não queria mais guardar, mas que achava que estariam melhor se ficassem em minhas mãos. Foi um presente dado com muito carinho. Não explicou mais nada na hora, mas sorriu para mim com ares certa cumplicidade. Em casa, mais tarde, abri a sacola com cuidado, curiosa para saber o que era aquilo. Descobri então que eram cartas, cartas de amor e, entre surpresa e emocionada, fui lendo e me encantando com uma história que aconteceu aqui em Porto Alegre. Impressionante constatar ainda o imenso talento deste Francisco como escritor e poeta, e o amor profundo que devotou à sua Maria durante tantos e tantos anos.
Foi a minha vez de guardar os papéis. Arrumei lugar para tudo: cartas, recortes de jornal, fotos, cartões, santinhos, telegramas, fitas e demais objetos que estavam na tal sacola, coisas que me inspiram um profundo respeito pelo que significaram um dia àqueles a quem pertenceram. Coloquei todas as datadas em ordem cronológica conforme as décadas. São dos anos 20 e 30, e há as dos anos 40 e 50 também, que envolvem pessoas próximas do casal. Há cartas sem data e muitas poesias. Um cartão de Natal de 1961 dá contas de que Francisco e Maria casaram-se.

Lugar de Memória


Lugares de Memória



Antes de abordar a questão dos lugares de memória, quero dizer que a melhor parte deste meu espaço é sua descontinuidade. Não pretendo criar nada linear, até porque o tempo, esta matéria prima da vida, é coisa que disputo aos relógios. Vou simplesmente tecer recordações com palavras. A temática da duração sugere que se ultrapasse, que se transcenda a concepção contínua, seja do tempo, seja da memória, e isso nos acontece se conseguirmos nos fixar no instante. Memórias haverá tantas quanto grupos há, porque a história é uma operação eletiva, que requer intelecto, daí pertencer a todos em geral e a ninguém em particular. Memória Social se desencontra da História, no sentido clássico do termo, justamente aí, onde não se emprega o intelecto, mas os sentimentos, as emoções, que outorgam significado àquilo que vivemos. Todavia, é a História que reconhece os lugares de memória que as sociedades constroem para com isso tentar reparar ou inviabilizar perdas. Lugares de memória dão ensejo a rituais onde as memórias se prendem e se integram, não sem desprestigiar a paisagem urbana. Lugares de Memória são materiais e, simultaneamente, simbólicos.  Nessa funcionalidade, conectam perdas e aquisições. Porque na medida que se perdem memórias, adquirem-se  museus, bibliotecas, praças, bem como ritos, comemorações que buscam compensar o abandono de alguma coisa que foi significativa para o coletivo. Não é o indivíduo que escolhe ou elege um lugar de memória, lugar este que dará, por sua vez, lugar a ritos, onde o grupo se subtrai à linearidade do tempo comum. Emerge daí uma indiscutível sensação de nostalgia, que cresce com a saudade, que aumenta nesses espaços, fazendo reviver uma experiência, uma recordação.
A foto foi tirada na Pinacoteca de São Paulo.

domingo, 3 de abril de 2011

Santo Agostinho e a Memória

Vencerei então esta força de minha natureza, subindo por degraus até meu Criador. Chegarei assim diante dos campos, dos vastos palácios da memória, onde estão os tesouros de inúmeras imagens trazidas por percepções de toda espécie. Lá também estão armazenados todos os nossos pensamentos, quer aumentando, quer diminuindo, ou até alterando de algum modo o que nossos sentidos apanharam, e tudo o que aí depositamos, se ainda não foi sepultado ou absorvido no esquecimento. Quando ali penetro, convoco todas as lembranças que quero. Algumas se apresentam de imediato, outras só após uma busca mais demorada, como se devessem ser extraídas de receptáculos mais recônditos. Outras irrompem em turbilhão e, quando se procura outra coisa, se interpõem como a dizer: “Não seremos nós que procuras?” Eu as afasto com a mão do espírito da frente da memória, até que se esclareça o que quero, surgindo do esconderijo para a vista. Confissões de Santo Agostinho, Capítulo VIII

Coletânea de Textos

RESENHA DO LIVRO “OS SETE PECADOS DA CAPITAL”, DE SANDRA JATAHY PESAVENTO (EDITORA HUCITEC, 2008/ BRASIL). A resenha ora disponibilizada no Scribd é um trabalho coletivo, cujos autores foram colegas e colaboradores da inesquecível professora e historiadora gaúcha Sandra Jatahy. Trata-se de uma pesquisa histórica realizada sobre os personagens do urbano da capital gaúcha, Porto Alegre do século XIX, pesquisa esta que originou este livro sobre os “sete pecados da capital”.

sábado, 2 de abril de 2011

3527 - Seminários Paisagens e Identidades Urbanas

A cidade e o caráter espaço-temporal da experiência humana. Diversidade das formas de ocupar e habitar o espaço urbano. Cidade, memória e esquecimento. Trabalho e lazer na cidade. Cidade e cultura. Grupos sociais e suas transformações identitárias.Documentação escrita e áudio-visual dos diferentes espaços da cidade, com o objetivo de contextualizar, no tempo e no espaço, os grupos e instituições que servem de objeto ou de local de pesquisa e intervenção dos mestrandos.

2482 - Memória Social

Memória: abordagens teóricas. Memória individual e coletiva. Tempo, espaço e memória.

Memória; relações com a literatura, antropologia e construção de identidades. Tradição, mito, imaginário e universos simbólicos. Seletividade, narratividade e memória. Linguagens da memória.

Estação Canoas


Felizmente acho que consegui alguma coisa não muito óbvia nesta foto. Canoas não é uma cidade que se faça olhar. É preciso algum esforço para fugir aos cinzas e à pressa na estação. A noite chegando, os ruídos, os olhares das pessoas no trem evitando cruzarem-se, apesar da falta de espaço. Nada disso parece algum dia chegar a tornar-se rotineiro.

Memória Social e Bens Culturais

O Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais-PPGMSBC do Unilasalle possui curso de Mestrado Profissional interdisciplinar, recomendado pela Capes, atuando a partir de temas como gestão cultural, indústrias criativas, economia da cultura, patrimônio cultural, memória social, linguagens culturais, projetos culturais e sociais e instituições culturais. Possui excelente infraestrutura com espaços próprios para estudo e laboratórios para desenvolvimento de pesquisas. Conta com recursos informacionais modernos e bibliotecas em rede, com acervos atualizados de obras bibliográficas e periódicos científicos das mais renomadas instituições de ensino superior. Seu quadro docente passa por qualificação permanente e é renovado de acordo com a demanda do campo da cultura e do corpo discente.

Os egressos do Mestrado Profissional em Memória Social e Bens Culturais terão competências e habilidades técnicas necessárias para o manejo dos recursos e instrumentos disponíveis para criar, revitalizar e impulsionar o desenvolvimento de instituições voltadas para os bens culturais e memória social; para trabalho educacional voltado à sensibilização e instrumentalização de indivíduos, grupos e comunidades para o reconhecimento, a compreensão e a valorização dos bens culturais; para coordenar e equacionar diferentes atividades e ações, relativas à memória social e aos bens culturais; para a promoção da reflexão, discussão e proposição de políticas culturais para produção, difusão, preservação e acesso a bens culturais e instituições culturais; para, a partir de pesquisa e diagnóstico controlar ferramentas de formulação, viabilização, implementação e avaliação de projetos.

A Estação

Os efeitos do cinza.