É notável como Francisco descreve a nostalgia que encontra
nas praças abandonadas, objeto do poema aqui retratado, sem data, mas muito
provavelmente escrito em 1923 e remetido a Maria nesta época. Ele, ao mesmo
tempo em que descreve os lugares como são no presente, evoca seu passado,
mencionando a fonte com repuxo “antes faiscante do luxo de rica pedraria” e que
agora transmite apenas “sua melancólica solidão”, circunstância que ele não
deixa de qualificar como irônica, fazendo-nos sentir o quanto o tempo pode
tirar às coisas. Percebe-se nisso que Francisco resgata um pouco do luxo
perdido, restaurando, na memória, os velhos tempos das praças, quando novas.
Essa forma poética de ver a cidade, destacando partes de sua geografia, de
retratá-la a partir de dados conformados ao abandono, à solidão, tornam os
escritos de Francisco instigantes, repletos de prosopopeias onde mesmo as
árvores são belas em sua senilidade. É possível percorrer a cidade imaginária
na qual Francisco amou, e que é ainda Porto Alegre descrita com poesia e
sensibilidade a partir de diversos lugares que nos são apresentados através da intensa subjetividade franciscana. Nesta cidade existem praças abandonadas, como existem arrabaldes,
tema de outro desses poemas escritos nos anos vinte, mais precisamente em 1923.
Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social junto à UERJ, com estágio concluído em 2023. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018
Velhas Praças
Da civilidade
"Não posso
ver-te. Essa impossibilidade é irremediavel. Resigno-me. Para sua felicidade, a
creatura humana, em face do irremediavel, resigna-se facilmente ou
difficilmente, conforme a intensidade do golpe. Eu me resigno também, não em
toda extensão do acto. A resignação é o último estado da alma. Ella pertence
aos sábios e aos philosophos. Mas, falo da resignação total, da resignação
bondade, que esquece e perdoa. E na minha alma move-se um turbilhão de paixões
diversas e contrarias..." Trecho de carta de Francisco para Maria, década de 1920.
A civilidade parece impor um custo, uma
disputa entre a vontade de agir e uma ordem vigente. Cobra-se, ao menos no que
se extrai das afirmativas de Francisco nesta carta. É de bom-tom resignar-se,
não obstante as paixões da alma, sacrificado o interesse pessoal à vista das
conveniências ditadas pela socialidade e pela civilidade, aspectos que devem
ser aproximados por sua vez. É que, ao estabelecer regramentos aplicáveis a
tipos ideais, a etiqueta, torna tais
tipos efetivamente reais, tão reais
quanto o legado epistolar de Francisco.
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