Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social junto à UERJ, com estágio concluído em 2023. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes.
domingo, 29 de abril de 2012
segunda-feira, 23 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Maupassant
Guy de Maupassant (1850-1893)
Adoro Maupassant. Tenho sua obra em 17 volumes colocada em lugar de honra numa estante. Este fascinante escritor, insuperável mestre do conto, viveu pouco mais de quarenta anos, e morreu atormentado pela loucura. Seu O HORLA, na versão escrita em forma de diário, descreve em primeira pessoa os transtornos sofridos por alguém que narra os acontecimentos sobrenaturais com que se depara no dia-a-dia. Horla, — título do conto, — é nome próprio, palavra com que o autor batizou a criatura misteriosa que assombra o personagem que escreve o diário. Essa palavra, contudo, tem a mesma pronúncia da expressão hors là, que significa o que está fora daqui, o que se situa além. Uma de minhas passagens favoritas é esta:
Adoro Maupassant. Tenho sua obra em 17 volumes colocada em lugar de honra numa estante. Este fascinante escritor, insuperável mestre do conto, viveu pouco mais de quarenta anos, e morreu atormentado pela loucura. Seu O HORLA, na versão escrita em forma de diário, descreve em primeira pessoa os transtornos sofridos por alguém que narra os acontecimentos sobrenaturais com que se depara no dia-a-dia. Horla, — título do conto, — é nome próprio, palavra com que o autor batizou a criatura misteriosa que assombra o personagem que escreve o diário. Essa palavra, contudo, tem a mesma pronúncia da expressão hors là, que significa o que está fora daqui, o que se situa além. Uma de minhas passagens favoritas é esta:
12 de maio — Tenho um pouco de febre desde alguns dias; sinto-me sofrer ou, antes, sinto-me triste. De onde vêm essas influências misteriosas que transformam em desencorajamento nossa felicidade e nossa confiança em desespero? Dir-se-ia que o ar, o ar invisível está cheio de Forças desconhecidas, das quais nós sofremos a vizinhança misteriosa. Desperto cheio de alegria, com vontade de cantar na garganta. — Por quê? — Será um arrepio de frio que, roçando minha pele, abalou meus nervos e escureceu minha alma? Será a forma das nuvens, ou a cor do dia, a cor das coisas, tão variável, que, passando por meus olhos, perturbou meu pensamento? Sabe-se? Tudo aquilo que nos cerca, tudo aquilo que nós vemos sem enxergar, tudo aquilo em que roçamos sem conhecer, tudo aquilo em que tocamos sem palpar, tudo aquilo que encontramos sem distinguir têm sobre nós, sobre nossos órgãos e, através deles, sobre nossas idéias, sobre nosso coração ele mesmo, efeitos rápidos, surpreendentes e inexplicáveis. Como é profundo esse mistério do Invisível! Nós não o podemos sondar com nossos sentidos miseráveis, com nossos olhos que não sabem perceber nem o muito pequeno, nem o muito grande, nem o muito perto, nem o muito longe, nem os habitantes de uma estrela, nem os habitantes de uma gota d’água... Com nossos ouvidos que nos enganam, porque eles nos transmitem as vibrações do ar em notas sonoras. Eles são fadas que realizam esse milagre de transformar em ruído esse movimento e, através dessa metamorfose, dão nascimento à música que torna cantante a agitação muda da natureza... Com nosso olfato, mais fraco que aquele de um cão... Com nosso paladar que mal pode distinguir a idade de um vinho! Ah! Se nós tivéssemos outros órgãos que realizassem em nosso favor outros milagres, quantas coisas poderíamos descobrir ainda em torno de nós!
A propósito, é sobre uma passagem desse famoso conto de Maupassant, — O HORLA, — que estudiosos de psicologia coletiva se debruçaram, indicando-a, inclusive. Maupassant é citado por Rossi, por Sighele e por Ferri, entre outros. Vale a pena conhecer esta passagem do diário que, na obra, aparece com a data da Queda da Bastilha, passagem que chamou a atenção de muitos estudiosos das multidões:
14 de julho — Festa da República. Passeio pelas ruas. Os petardos e as bandeiras divertem-me como a uma criança. É, todavia, muito estúpido ser feliz em data fixa, por decreto do governo. O povo é uma tropa imbecil, ora estupidamente paciente e ora ferozmente revoltado. Diz-se-lhe: “Alegra-te.” Ele se alegra. Diz-se-lhe: “Vai bater-te com teu vizinho.” Ele vai bater-se. Diz-se-lhe: “Vota pelo Imperador.” Ele vota pelo Imperador. Depois, diz-se-lhe: “Vota pela República.” E ele vota pela República. Aqueles que o dirigem são também estúpidos; mas, em lugar de obedecer a homens, eles obedecem a princípios, os quais não podem ser senão nadas, estéreis e falsos, por isso mesmo que são princípios, quer dizer, idéias reputadas certas e imutáveis nesse mundo onde não se está seguro de nada, pois a luz é uma ilusão, pois o ruído é uma ilusão.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Patrimônio Cultural
09/04/2012 22:05 - Atualizado em 09/04/2012 22:43
Itália tem dificuldade para manter patrimônio cultural
Devido à crise, país é obrigado a pedir ajuda ao setor privado e União Europeia
Quarto destino turístico mundial, a Itália sempre teve orgulho de seu patrimônio cultural, enriquecido por séculos de história – da era romana ao barroco, passando pelo Renascimento. Atualmente, no entanto, o país, estrangulado pelo peso de sua dívida colossal e pelos planos de austeridade em sequência, não tem conseguido manter seu tesouro, e vem sendo obrigado a pedir ajuda ao setor privado e ainda à União Europeia.
Em Roma, partes se desprenderam pela enésima vez do Coliseu, monumento que simboliza a capital, apesar de cercado pelo trânsito e enegrecido pela poluição. E, assim, o maior anfiteatro romano recebe, cada vez pior, seus seis milhões de visitantes. Por falta de dinheiro, o governo fez um apelo ao setor privado para patrocinar a restauração desta construção excepcional, e foi atendido pelo proprietário do grupo Tod's, Diego Della Valle, que prometeu investir 25 milhões de euros. Mas Della Valle ameaçou no dia 12 de janeiro retirar-se do projeto, após a abertura de uma investigação sobre possíveis irregularidades. O assunto ainda está longe do final, enquanto que a restauração, divulgada há três anos, teria começado em março. Além do Coliseu, "todo o patrimônio italiano precisa atenção", advertiu a associação nacional de arqueólogos italianos pedindo "recursos adequados". Desabamentos em Pompeia É o caso perto de Nápoles, onde o célebre sítio arqueológico de Pompeia, classificado como patrimônio mundial da Humanidade pela Unesco desde 1997, foi palco, em dois anos, de uma série de desmoronamentos, com o último deles destruindo a casa de Loreius Tiburtinus, uma das mais belas da cidade. Aguardando uma solução do tipo "Coliseu", Roma obteve uma ajuda de 105 milhões de euros da União Europeia, como parte de um plano de manutenção e restauração, programados para pelo menos quatro anos. Esta situação gravíssima pode piorar, uma vez que o estado italiano dedica apenas 0,21% de seu orçamento à cultura, contra, por exemplo, 1% na França, ao mesmo tempo em que a península assegura possuir a metade do patrimônio cultural mundial. O orçamento anual de 1,8 bilhão de euros não serve senão para preencher brechas, deixando para as artes a parte mais pobre. Em 2011, 'La Scala' e o 'Piccolo Teatro de Milan', duas instituições prestigiosas de nível internacional, se viram, assim, com 17 milhões de euros a menos. O administrador francês do 'La Scala', Stéphane Lissner, fez um apelo ao governo de Mario Monti para "não sacrificar" a cultura ao pacote de austeridade, destacando que o percentual consagrado ao setor pelo governo italiano é um dos "mais baixos da Europa". O Fundo Único para o Espetáculo (FUS), que subvenciona os teatros italianos, atingiu, em 2011, um teto histórico: 231 milhões de euros, ou seja, uma queda de 50% em relação a 2010. Só para a cidade de Roma, 31 estabelecimentos podem fechar. Em relação ao cinema, há uma verdadeira debandada: a associação profissional de autores para o cinema e a televisão "100autori" expressou no dia 13 de janeiro "grave preocupação com as novas reduções de orçamento e cancelamentos de projetos". Uma situação confirmada por Gustav Hofer, um jovem documentarista que, para seu segundo trabalho, precisou "ir ao exterior para buscar financiamentos". "Na Itália, são dedicadas apenas algumas migalhas para os documentários", lamentou. |
domingo, 8 de abril de 2012
O Parque dos Objetos Mortos
A passagem crua e invencível do tempo, a efemeridade "moderna" dos objetos, "o fim da linha do consumo" - a imagem mesma do perecimento -, aludidas genérica e um tanto metaforicamente na menção inicial ao imaginário do desmanche, aparecem no depósito de reciclagem do Loteamento Cavalhada em toda sua dramatização e opulência material. Diariamente, cerca de uma tonelada do lixo de Porto Alegre é descarregado e processado no local. Junto aos montes de garrafas plásticas, alimentos em decomposição e toda sorte de dejetos, é inevitável, constante e chamativa a presença de velhos aparelhos de televisão, fitas de vídeo-cassete, máquinas de escrever e vinis antigos. Passear no parque dos objetos mortos é defrontar-se com uma memória social impregnada na materialidade decomposta das coisas; do mesmo modo, fecha-se diante de nós a vida média dos objetos (sempre progressivamente encurtada) e um ciclo ou processo produtivo-industrial espiralado (produção ® consumo ® descarte ® coleta ® reciclagem ® [re]produção).
SILVEIRA, Fabrício. O parque dos objetos mortos: por uma arqueologia da materialidade das mídias. Ghrebh – Revista de Semiótica, Cultura e Mídia. 2003. Disponível em: http://revista.cisc.org.br/ghrebh2/artigos/02fabriciosilveira032003.html acesso em 08/04/2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Reforma Ortográfica
Notícia
PROFESSORES VÃO AO SENADO PEDIR SUSPENSÃO DA REFORMA ORTOGRÁFICA
Os professores Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha, e Ernani Pimentel estiveram ontem no Senado para pedir a suspensão da reforma ortográfica, resultado de um acordo firmado em 1990 entre todos os países de língua portuguesa.
O acordo foi assinado pelos países que tinham o português como língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste (que não era independente à época), Brasil e Portugal. As mudanças trazidas pelo acordo --como a ausência de acento na palavra "ideia"-- já são aplicadas aqui desde 2009, em período de "acomodação" que deve durar até o final deste ano.
Para os professores, o conteúdo do acordo é de difícil aplicação por ser "ilógico" e contraditório. Eles condenaram também a forma como o acordo está sendo implantado no país e apontaram várias divergências entre as novas regras e o que está disposto no VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), elaborado pela Academia Brasileira de Letras e usado como referência para verificar a grafia das palavras.
Os professores querem que a adoção obrigatória do acordo no Brasil --que ocorre em janeiro do ano que vem-- seja suspensa. Dessa forma, haveria mais tempo para discutir mudanças no conteúdo, inclusive com os outros países signatários. "Como nós vamos costurar todo o imbróglio decorrente da adoção estapafúrdia dessa reforma ortográfica?", questionou Cipro Neto. -
A não-adesão de países como Angola e Moçambique e a baixa aceitação de Portugal, que só recentemente sancionou a lei que tornou o acordo obrigatório no país, também foram citadas como problemas do acordo. Até 2015 os portugueses estarão em período de acomodação, mas segundo Cipro Neto lá também existe a intenção de rever o texto.
Pimentel, idealizador do movimento "Acordar Melhor" (que pede mudanças no acordo) criticou duramente a ABL. "É a segunda vez que a academia é convidada para esse debate e não comparece. Isso mostra um comportamento adequado à época do autoritarismo, uma posição aristocrática. Eles não vieram porque não têm argumentos para justificar esse acordo que está aí", afirmou.
Apenas no século 20, foram feitas nove reformas da língua portuguesa. Cipro Neto afirmou que a audiência dessa quarta "foi um primeiro passo", mas que uma eventual "reforma da reforma" não será fácil.
"Reforma ortográfica é como uma garrafa pet, leva muito tempo para ser deglutida. É preciso ter muito cuidado quando se coloca em vigor uma reforma, ela precisa ser muito bem feita para que não haja problemas como esses que temos hoje", afirmou.
A ABL, por meio da assessoria, informou que o feito pela comissão do Senado era pessoal a Evanildo Cavalcante Bechara, tesoureiro da academia. Como ele está em viagem, não pôde comparecer à audiência pública. Quanto às divergências apontadas por Cipro Neto e Pimentel, a assessoria da ABL informou que apenas Bechara poderia se pronunciar sobre a questão.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Ficções e Verdades
Tzvetan Todorov, Ficções e Verdades. — Estudo que aborda a diferença entre a verdade do romancista e aquela do sábio (por exemplo, do etnólogo). Distinguem-se aí verdade de adequação e verdade de descobrimento, a analisam-se suas relações a partir de dois exemplos: a Descrição da Ilha Formosa na Ásia de G. Psalmanazar (1704), narrativa pretensamente verdadeira de uma viagem que não aconteceu, e as cartas de Américo Vespúcio (1503-1507), descrição de quatro viagens duvidosas.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Editais do Fac 2012
Caros,
convidamos para o lançamento dos 16 editais do FAC 2012, que acontece na próxima terça-feira, 3 de abril, às 17 horas no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, com a presença do governador Tarso Genro.
Esperamos por vocês.
Cordialmente,
Clarissa Pont
FAC R$ 10 milhões: maior investimento direto à cultura
na história do Rio Grande do Sul
Em 2012, o Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura, aposta
no fomento direto para estimular todos os setores e etapas que envolvem
os processos criativos nas diversas regiões do Estado
através de 16 editais do Fundo de Apoio à Cultura / FAC.
Na próxima terça-feira, 3 de abril, o governador Tarso Genro anunciará um investimento total de R$ 10 milhões que permitirá à Secretaria da Cultura realizar os dois primeiros editais de Estímulo ao Desenvolvimento da Economia da Cultura, um para sociedade civil e o outro para prefeituras municipais. As duas seleções serão publicados no dia 4 de abril e somam um total de R$ 5 milhões. O evento acontece às 17 horas no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana e é aberto ao público.
O diferencial destes primeiros editais é que, ao invés de determinarem áreas culturais, os textos propõem que cada segmento encaixe seu projeto em uma das finalidades do processo criativo, reforçando o conceito de Economia da Cultura. Tal iniciativa dialoga com um conceito contemporâneo de cultura, no qual as fronteiras entre as áreas estão diluídas. Assim, a seleção de projetos de todas as áreas culturais e artísticas acontecerá de acordo com cinco finalidades : Apoio à Criação e Produção; Apoio ao Registro e à Memória; Apoio à Difusão e à Circulação; Apoio à Programação Continuada em Espaços Culturais e Apoio à formulação de Indicadores, Informação e Qualificação.
Ainda no primeiro semestre de 2012, serão lançados editais para concessão de apoio à programação em Feiras de Livro, somando R$ 500 mil, e a projetos de eventos com mais de cinco edições realizadas, no total de R$ 1 milhão. O FAC também vai conceder Prêmios nas áreas de Artes Cênicas, das Artes Visuais, da Música e do Audiovisual , além de bolsas para criação nas áreas de literatura, dramaturgia e roteiros. Projetos de educação patrimonial, de circulação de acervos históricos e de curadoria de acervos em museus públicos de artes visuais também compõem o conjunto dos 16 editais do FAC neste ano.
O Fundo de Apoio à Cultura, estabelecido por lei em 2001, só teve um único edital lançado até hoje, em dezembro de 2010. Esta seleção distribuiu um valor total de R$ 880 mil reais em 2011.
domingo, 1 de abril de 2012
Sobre método
Por outro lado, em termos de método, a História se faz antropológica quando se volta para as fontes na prática de uma descrição densa, como assinala Geertz, a tecer, como fonte, toda a gama de relações e de observações possíveis, em uma recomposição cuidadosa de toda a gama de significados socialmente estabelecidos que possa conter. Trabalhar com a História Cultural seria desvendar essa teia, na busca do universo simbólico contido em cada traço do passado. Nessa medida, tanto o texto antropológico quanto o histórico seriam, sempre, ficções, construções a partir dos registros do comportamento humano no tempo, em que seria buscado tanto o dito quanto o não-dito, tanto a presença quanto o silêncio.
PESAVENTO, Sandra Jathay. Os novos parceiros da história, IN:_________. História e História Cultural. BH: Autêntica, 2003, p. 111.
PESAVENTO, Sandra Jathay. Os novos parceiros da história, IN:_________. História e História Cultural. BH: Autêntica, 2003, p. 111.
Assinar:
Postagens (Atom)