A passagem crua e invencível do tempo, a efemeridade "moderna" dos objetos, "o fim da linha do consumo" - a imagem mesma do perecimento -, aludidas genérica e um tanto metaforicamente na menção inicial ao imaginário do desmanche, aparecem no depósito de reciclagem do Loteamento Cavalhada em toda sua dramatização e opulência material. Diariamente, cerca de uma tonelada do lixo de Porto Alegre é descarregado e processado no local. Junto aos montes de garrafas plásticas, alimentos em decomposição e toda sorte de dejetos, é inevitável, constante e chamativa a presença de velhos aparelhos de televisão, fitas de vídeo-cassete, máquinas de escrever e vinis antigos. Passear no parque dos objetos mortos é defrontar-se com uma memória social impregnada na materialidade decomposta das coisas; do mesmo modo, fecha-se diante de nós a vida média dos objetos (sempre progressivamente encurtada) e um ciclo ou processo produtivo-industrial espiralado (produção ® consumo ® descarte ® coleta ® reciclagem ® [re]produção).
SILVEIRA, Fabrício. O parque dos objetos mortos: por uma arqueologia da materialidade das mídias. Ghrebh – Revista de Semiótica, Cultura e Mídia. 2003. Disponível em: http://revista.cisc.org.br/ghrebh2/artigos/02fabriciosilveira032003.html acesso em 08/04/2012