sábado, 17 de maio de 2025

ESPLENDORES E MISÉRIAS DO AMOR OCIDENTAL: Entre a Ordem, o Caos, Cartas de Amor e Literatura

Este livro é anárquico e repleto de contradições. Rompe com a ordem esperada de um discurso que não é nem acadêmico nem literário, misturando gêneros textuais de maneira imperdoável. Isso pode confundir o leitor que se depara com abordagens muito diferentes entre si. Não obstante isso, todas se voltam ao mesmo tema, refletindo-o a partir de diferentes perspectivas. Em uma longa e densa introdução, não sei bem se justifiquei essa desordem ou se me desculpei por ela.

Não evitei o tom literário e até poético. Sei o quanto ele pode parecer dissonante neste livro, tendo em vista a abordagem de conteúdos acadêmicos produzidos por autores acadêmicos. No entanto, ele também traz literatura e faz literatura. Além disso, é experimental, porque se volta à vida real. Essa promiscuidade ― não faltará quem aplique este adjetivo ― é uma questão delicada que só o leitor pode julgar. Seja como for, sou reincidente nesta falta, visto que estou entre aqueles que entendem que, em matéria de ciências sociais, a subjetividade é inseparável da pesquisa. E, se podemos afirmar que a pesquisa em ciência social recai sobre determinado campo, este é explorado à luz da subjetividade do pesquisador e só a partir desse primeiro passo que terá lugar o processo de legitimação: Quem sou eu para falar de amor? Como e por que me habilito a tanto? Depois, em termos de pressupostos teóricos, penso que o amor se define muito mais pela multiplicidade de pertinências disciplinares que apresenta, bem como pelas incontáveis referências paradigmáticas e epistemológicas que propõe — e isso, independentemente das implicações temporais. O amor atravessa o tempo, e sua natureza proteiforme parece tornar isso possível. Ele se adapta às mais diferentes demandas sociais e culturais, e não seria abusivo supor que o discurso amoroso — sua manifestação rastreável pelo pesquisador — tenha nascido com a escrita.

Quem sou eu para falar de amor? Sou simplesmente aquela que encontrou cartas perdidas, fruto de um descarte, cartas que me levaram da ciência social à história social, à arquivologia, à interdisciplinaridade. A partir de então, estudar o amor foi uma inevitável consequência. Este livro, por sua vez, também foi, a seu modo, inevitável.

É bem verdade que categorizar e simplificar seria o melhor caminho, mas preferi a liberdade. Um mosaico literário, mistura de estilos que não é um simples capricho, mas uma resposta à natureza paradoxal do objeto. Minha escolha arriscada, que passa por uma imperdoável transgressão estética, contudo, foi inevitável, como meio de manter a coerência temática que atravessa cada capítulo.

O que espero do leitor? Além da paciência, que ele possa ler cada capítulo como uma lente e este livro como um caleidoscópio. Porque penso que o amor não pode ser reduzido a uma única narrativa, tampouco a categorizações.

A hibridez, aqui, é não apenas pós-moderna, mas profundamente necessária, pois o amor, em sua essência, resiste à categorização. Não se pode, portanto, esperar dele que se submeta a uma esperável coesão estilística, o que me permite alternar tons teóricos, coloquiais e ficcionais. Muito me esforcei para dar qualidade à escrita em um português que considero polido. Procurei ser rigorosa nos ensaios, empática nas crônicas, metaficcional no conto. Tentei fazer da Introdução um guia e penso que sua leitura será proveitosa.

Que este livro, portanto, não seja lido como um corpo estático, mas como um campo em movimento. Se, em alguma medida, minha escrita pareceu indisciplinada, é porque o objeto também o é. O que ofereço aqui é um olhar que fixa diferentes ângulos, um giro caleidoscópico, para que cada fragmento de amor brilhe à sua maneira, como brilha, brilhou ou brilhará, a seu modo, em cada sujeito em seu tempo e circunstância. Talvez aí resida o sentido maior deste livro. 

Disponível em: ESPLENDORES E MISÉRIAS DO AMOR OCIDENTAL: Entre a Ordem, o Caos, Cartas de Amor e Literatura


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