Seguindo os quatro argumentos anteriores, eu
evitaria erros (erros de polidez, erros morais etc.) ao não responder, ao
responder de forma elíptica, ao responder de forma oblíqua. E me seria dito: é
melhor, é mais justo, é mais decente, mais moral também, não responder; é mais
respeitoso com o outro, mais responsável diante do imperativo do pensamento
crítico, hipercrítico e sobretudo "deconstrutivo" que exige ceder o
menos possível aos dogmas e às pressuposições. Mas veja, se eu seguisse todas
essas boas razões e, acreditando ainda que essa não-resposta é a melhor
resposta, decidisse não responder, então correria riscos ainda piores. Quais?
1.
Primeiro, a primeira injúria ou injustiça seria parecer não
levar suficientemente a sério as pessoas e os textos que estão aqui ofendidos,
testemunhando em relação a eles uma ingratidão inadmissível e uma indiferença
culpada.
2.
Em segundo lugar, explorar as "boas
razões" para não responder para fazer um uso ainda estratégico do
silêncio: pois há uma arte da não-resposta ou da resposta adiada que é uma
retórica da guerra, uma astúcia polêmica. O silêncio polido pode se tornar a
arma mais insolente e a ironia mais mordaz. Sob o pretexto de esperar ter
relido, meditado, trabalhado para começar a responder seriamente (o que será de
fato necessário e pode demandar uma eternidade), a não-resposta como resposta
adiada ou como resposta evasiva, até mesmo absolutamente elíptica, pode sempre
colocar confusamente a salvo de qualquer objeção. E sob o pretexto de não se
sentir capaz de responder ao outro e a si mesmo, não minamos, teoricamente e
praticamente, o conceito de responsabilidade, na verdade a essência mesma do
sócio?
3.
Justificando sua não-resposta por todos esses
argumentos, refere-se ainda a regras, a normas gerais; portanto, falta ao
princípio de polidez e responsabilidade que lembramos anteriormente: nunca se
crer livre de qualquer dívida e por isso nunca agir simplesmente segundo uma
regra, conforme o dever nem mesmo por dever, ainda menos "por polidez".
Nada seria mais imoral e mais impolido.
4.
Nada seria pior do que substituir uma
resposta insuficiente, é certo, mas que ainda testemunha um esforço sincero,
modesto, finito e resignado por um discurso interminável. Este fingiria
oferecer, em lugar de uma resposta ou de uma não-resposta, um performativo mais
ou menos performativo e mais ou menos meta-linguístico sobre todas essas
questões, não-questões ou não-respostas. Uma tal operação se exporia às
críticas mais justificadas; ela ofereceria seu corpo; ela entregaria, como em
sacrifício, o corpo mais vulnerável aos golpes mais justos. Pois sofreria de um
duplo defeito; acumularia duas faltas aparentemente contraditórias: 1. a
pretensão de domínio ou de sobrevoo (meta-linguístico, meta-lógico, meta-metafísico
etc.) e 2. o tornar-se obra de arte (performance ou performativo literário,
ficção, obra), jogo estetizante de um discurso do qual se esperava uma resposta
séria, pensante ou filosófica.
O Que
Fazer?
Então o que fazer? É impossível
aqui responder: é impossível responder a essa questão sobre a resposta. É
impossível responder à pergunta pela qual nos perguntamos precisamente se
devemos responder ou não responder; se é necessário, possível ou impossível.
Esta aporia sem fim nos imobiliza porque nos liga duplamente (eu devo e eu não
devo; eu devo não; é necessário e impossível etc.). Em um mesmo lugar, sobre o
mesmo dispositivo estão as duas mãos atadas ou cravadas. O que fazer? Mas
também o que acontece já que isso não impede de falar, de continuar descrevendo
a situação, de tentar ser ouvido? De que natureza é essa linguagem já que ela
não pertence mais simplesmente nem à questão nem à resposta das quais viemos e
das quais ainda estamos verificando os limites? Em que consiste essa
verificação que nunca vai sem algum sacrifício? Chamaremos isso um testemunho
em um sentido que nem o martírio nem a atestação nem o testamento esgotariam? E
desde que isso nunca seja reduzido exatamente à verificação, à prova ou à
demonstração; em uma palavra: ao saber?
DERRIDA, Jacques. Passions.
Paris: Galillé, 1993.
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Jacques Derrida é conhecido
por suas contribuições à teoria da desconstrução e à filosofia contemporânea. Ele
expõe, neste texto, a complexidade da linguagem, a relação entre texto e
significado, e os desafios da comunicação e da interpretação e a
responsabilidade ética que emerge dos impasses cotidianos. Quem nunca os teve? O
que responder quando não há o que dizer ou quando há tanto a dizer que só o
silêncio seria capaz de expressar? Ao abordar a questão da não-resposta e suas
implicações, Derrida nos convida a considerar não apenas a natureza da
linguagem, mas também as relações interpessoais e sociais que essa linguagem
sustenta.
A vida cotidiana não
raramente nos coloca diante de dilemas. Um deles consiste na dificuldade de
responder adequadamente a situações que exigem uma postura ética e crítica. A
não-resposta pode parecer, à primeira vista, uma escolha prudente, evitando
erros de polidez ou injustiças. No entanto, essa escolha também pode ser vista
como uma forma de desresponsabilização. O autor sugere que a recusa em
responder pode ser interpretada como uma ingratidão ou indiferença em relação
ao outro, revelando um aspecto paradoxal da comunicação humana: ao evitar o
confronto, podemos, inadvertidamente, perpetuar o silêncio e mesmo a opressão.
Uma reflexão pertinente?
Acredito que sim, porque não é incomum nos depararmos com questões sociais e
políticas que demandam uma resposta clara e consciente. A hesitação pode ser interpretada
como reflexo de tensões entre o desejo de ser respeitoso e a necessidade de
agir de maneira responsável. Optar pelo silêncio ou pela evasão significa
exatamente o que em um mundo saturado de informações?
Com seus jogos de
palavras de múltiplas nuanças, Derrida nos lembra que um significado nunca é
fixo. Ele está sempre em movimento. Significados se transformam conforme
contextos e interações. Aliás, é esta a ideia da passagem aqui discutida: a não-resposta,
ele não apenas aborda a falta de comunicação, mas também provoca uma reflexão
sobre o que significa realmente "responder". Presença e ausência são
um jogo que pode servir para que se compreenda um pouco melhor a forma como nos
relacionamos com os outros e conosco.
Por que não refletir com
alguma profundidade sobre os impasses cotidianos que enfrentamos nas interações
humanas? A não-resposta pode ser tanto uma estratégia defensiva quanto uma
forma de evasão moral. Esta dualidade nos leva a reconsiderar o peso de nossas
abordagens comunicativas e a assumir uma postura mais responsável diante das
complexidades do diálogo humano. Não se trata apenas de uma análise crítica da linguagem,
mas de um convite a um compromisso ético com o outro. E parece que isso é tanto
mais necessário quanto pode ser impossível. A escolha entre a palavra e o silêncio,
redescobrimos novas formas de fazermo-nos presente uns para os outros neste
mundo repleto de tantas e tão desconcertantes incertezas.