domingo, 25 de dezembro de 2011

Objetos Biográficos







São estes os objetos que Violette Morin chama de objetos biográficos, pois envelhecem com o possuidor e se incorporam à sua vida: o relógio da família, o álbum de fotografias, a medalha do esportista, a máscara do etnólogo, o mapa-múndi do viajante... Cada um desses objetos representa uma experiência vivida, uma aventura afetiva do morador. Diferentes são os ambientes arrumados para patentear status, como um décor de teatro: há objetos que a moda valoriza, mas não se enraízam nos interiores ou têm garantia por um ano, não envelhecem com o dono, apenas se deterioram. Só o objeto biográfico é insubstituível: as coisas que envelhecem conosco nos dão a pacífica sensação de continuidade. Reconhece Machado de Assis: “Não, não, a minha memória não é boa. É comparável a alguém que tivesse vivido por hospedarias, sem guardar delas nem caras, nem nomes, e somente raras circunstâncias. A quem passe a vida na mesma casa de família, com os seus eternos móveis e costumes, pessoas e afeições, é que se lhe grava tudo pela continuidade e repetição” Não só em nossa sociedade dividimos as coisas em objetos de consumo e relíquias de família. Mauss encontra essa distinção em muitos povos: tanto entre os romanos como entre os povos de Samoa, Trobriand e os indígenas norte-americanos. Há talismãs, cobertas de pele e cobres blasonados, tecidos armoriais que se transmitem solenemente como as mulheres no casamento, os privilégios, os nomes às crianças. Essas propriedades são sagradas, não se vendem nem são cedidas, e a família jamais se desfaria delas a não ser com grande desgosto. O conjunto dessas coisas em todas as tribos é sempre de natureza espiritual. Cada uma dessas coisas tem nome: os tecidos bordados com faces, olhos, figuras animais e humanas, as casas, as paredes decoradas.Tudo fala, o teto, o fogo, as esculturas, as pinturas.BOSI, Eclea, excerto do capítulo 1 – “A substância social da memória” – “Sob o signo de Benjamin” [Walter Benjamin], do livro O tempo vivo da memória: ensaios de Psicologia Social (São Paulo: Ateliê Editorial, 2003).

As Rebeliões do Efêmero

“Além disso, as mobilizações contemporâneas se fazem com as novas tecnologias de informação, nas quais tudo se passa “aqui e agora”. Essa temporalidade é a do efêmero, mas em sentido pós-moderno, uma vez que ele se reduz ao episódico, compensado pela visibilidade promovida pelas mídias. Sua lógica é a do espetáculo que não se vincula a qualquer fundamentação teórica, adquirindo a forma do “evento”. No passado, a vida se organizava no tempo longo e nos laços duradouros, cuja “metafísica” subjacente dizia respeito à percepção da impermanência de tudo, da lei do efêmero, da vanidade das coisas e da grandeza do instante. As manifestações públicas e ocasionais contemporâneas se constituem no âmbito de um vazio ideológico e no quadro do antiintelectualismo do mundo moderno, o que se expressa na pseudoparticipação popular
e em governos que se fazem através das mídias, pela televisão e pela propaganda.”
MATOS, Olgária Chain Feres, As Rebeliões do Efêmero, publicado em O E. de São Paulo, edição de domingo, 25 de dezembro de 2011, caderno aliás, travessia 2011/2012 J5.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MWM Construindo a Inclusão Social

O texto agora disponível neste blog consiste em um breve relato da visita guiada realizada em 26 de setembro de 2011 à MWM International, empresa que possui sede no município de Canoas/RS, com a finalidade de tomar contato com o plano de inclusão social no trabalho voltado a pessoas portadoras de necessidades especiais, notadamente de ordem mental, procurando ressaltar os aspectos mais contundentes do desdobramento desse plano de ação, segundo seus gestores no âmbito do departamento de recursos humanos da empresa.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Encontro

Final de semestre. E nosso encontro desta semana. Obrigada, Almeri, por mandar a foto para gente!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Creative Commons

Creative Commons é, resumidamente, uma licença padronizada, com atribuição automática, a partir da qual todo criador de conteúdos culturais pode conceder permissão para que terceiros façam uso total ou parcial do material publicado, inclusive operando modificações na obra, desde que o nome do autor seja citado, para preservação de seu direito autoral. Ou seja: todos podem reutilizar, transformar partes de seu trabalho e usá-lo para qualquer fim, salvo propaganda. Copiar e distribuir a obra inteira também é proibido. Importante é nunca deixar de atribuir a autoria a quem criou o vídeo, fez as fotos, pintou o quadro ou escreveu o texto, por exemplo. Só podem ser licenciados conteúdos originais, outros materiais utilizados a partir de obras já licenciadas e também conteúdos que já se encontrem em domínio público. Liberei hoje todo o material de meu blog IMAGENS IMAGINADAS, que exibe fotografias e pequenos textos relacionados às fotos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sobre Identidade

A identidade do ponto de vista individual é uma polêmica da atualidade, algo inerente ao mundo moderno. Interessa à Antropologia, como à Sociologia e as Ciências Psicológicas, mas não importava muito nas sociedades tradicionais, onde não foi objeto de pensamento conceitual, pois se limitava à sensação de pertinência a determinado grupo ou família, fazendo-se deduzir a partir das atribuições inerentes à pessoa quando seu nascimento e, mais tarde, conforme sua atuação junto à comunidade. Subjetivamente, organiza-se a identidade ao redor de um sentimento de ser que os gregos representaram miticamente. Enfim, a realização do sujeito estaria em procurar estar conforme a ordem das coisas. Numa sociedade na qual exista uma ordem pré-fixada, a identidade não se constitui num problema. Na Idade Média, por exemplo, prevalecia o valor lealdade; sendo assim, a questão colocava-se quanto a quem ser leal, a identidade decorrendo diretamente dessa submissão.
A sociedade assim constituída de segmentos imbricados uns nos outros, permanecendo, contudo, distintos uns dos outros, tem nessa limitação também uma limitação à hostilidade que só irá desencadear-se quando o Estado-Nação começar a fazer-se presente homogeneizando toda essa diversidade. Assim é que o questionamento afeito a responder o que é identidade opera-se, em parte, como reação à dissolução dos liames sociais pela modernidade e, de outra, com o desenvolvimento da noção de pessoa no Ocidente, noção esta nascida no século XVIII para conferir a alguém uma liberdade individual independente das antigas pertinências, daí resultando estreita ligação entre a identidade pessoal e o individualismo.
Referência Bibliográfica
BENOIST, Alain, ENTRE RECONNAISSANCE ET DESYMBOLISATION:LE STATUT DE L’IDENTITE DANS L’HISTOIRE OCCIDENTALE, resumo de uma conferência pronunciada em Nápolis.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Anima

Na Psicologia Analítica, trabalha-se com a noção de que no inconsciente masculino existem traços de características femininas, respeitando a ligação com o pólo biológico que também traz o gene feminino nos homens, embora em menor quantidade. Estes “traços” serviram de contraponto à consciência, que, no caso, é masculina. Jung denominou o conjunto dessas características femininas na psique masculina de anima, que vem do latim “alma”. É verdadeira a contraposição na psique feminina: o inconsciente das mulheres carrega traços masculinos, cujo “conjunto” foi denominado por Jung de animus.
Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do homem ― os humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a capacidade de amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas nem por isso menos importante, o relacionamento com o inconsciente. Nas suas manifestações individuais o caráter da anima de um homem é, em geral, influenciado por sua mãe. Se o homem sente que sua mãe teve sobre ele uma influencia negativa ― ou então, quando sua mãe torna-se ausente, como no caso de Lima Barreto ― sua anima vai expressar-se, muitas vezes de maneira irritada, depressiva, incerta, insegura e susceptível.
SANTOS, Nádia Maria, Narrativas da loucura e histórias de sensibilidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Realismo

O erro do realismo foi acreditar que o real se revela à contemplação e que, em consequência, podia-se fazer dele uma pintura imparcial. Como seria isso possível se a própria percepção já é parcial, se a nomeação, por si só, já é modificação do objeto?
SARTRE, Jean-Paul, Que é a literatura. São Paulo: Ática, 1989, p. 50.