sábado, 24 de dezembro de 2022

 "Conhecimento não se apoia apenas na verdade, mas também no erro."

JUNG, G. La psique y sus problemas actuales. Buenos Aires: Poblet, 1944, p. 71.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Enamorar-se


“Alguém disse que o enamoramento é a sobrevalorização das diferenças marginais que existem entre uma mulher e outra (ou entre um homem e outro)”.

GINZBURG, Carlo. Huellas. Raíces de un paradigma indiciario. In: Tentativas. México: Universidade Michoacana de San Nicilás de Hidalgo, 2003, p. 93-155, p. 154.

 

Reflexão

Em toda parte e sempre, a vitória é dos otimistas, dos povos ou dos indivíduos que acreditam a priori que a verdade é bela e que a vida é boa. Toda a Antiguidade clássica teve deuses sorridentes; o próprio Egito, a mais grave das nações antigas, teve fé no triunfo final da luz sobre as trevas e no reino do bem. Ora, para assegurar-se de que o otimismo é um erro, é suficiente, parece-me, imaginar a duração infinita dos tempos passados. A vida universal é uma busca impaciente. Mas o que é um objetivo sempre perseguido e jamais alcançado, após quase uma eternidade de tentativas, senão uma quimera? E o que é uma perseguição sem objetivo, a não ser a pior das maldições? A própria duração do universo atesta, pois, a impossibilidade de seu feliz desfecho. Dizer que o mundo é um grupo imenso e uma eterna série de evoluções seguidas, invariavelmente, de dissoluções é dizer que tudo não é, em toda existência, senão esperança e decepção, fluxo incessante de esperança seguido de um inevitável refluxo. E é muito tarde para supor que surgisse jamais, enfim, em meio a tudo isso, algum esforço vitorioso, algum elã não enganoso, alguma vontade não decepcionante!

Gabriel Tarde

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Clóvis Bevilacqua e a gradação da responsabilidade: sugestão e contágio nos crimes cometidos pelas multidões


O que importava determinar, para Clóvis, nos crimes cometidos pelas multidões exaltadas era “até que ponto a suggestão do grupo, até que ponto o contagio da emoções modificou a individualidade daquelles que foram impellidos ao crime” (1896, p.50).

Temos aí, pois, um traço psicológico destacado pelo jurista, qual seja, uma espécie de suscetibilidade individual ao contágio, expressão, aliás, que se repete entre os autores. Indivíduos suscetíveis são identificados por Clóvis como os reconhecidamente perversos e os impressionáveis. Os primeiros “experimentados na pratica dos maleficios” (id., ibidem) se deixariam arrebatar  “até o delirio sanguinario” (id., ibid.); os segundos, “espiritos intensamente vibrateis, mas de conducta perfeitamente honesta, sentirão a vertigem do abysmo que se cava tenebroso em torno da mente agitada e nelle se precipitarão” (id., ibid.). Remetendo a exemplos citados por Sighele e Joly, que se adequariam a esses temperamentos, não deixa de fazer alusão à literatura, mencionando Là-Bas e fazendo referência à descrição grotesca de uma missa negra que se encontra nesta obra, sobre a qual comenta: “sordido sacrilegio e abjecta bacchanal, torcendo os espíritos, como se fossem frageis caniços e rojando os corpos no pó, revolvendo-os raivosamente na lama infecta de uma volúpia repellente” (id., p. 51).

Clóvis cita apenas o título: Là-bas. Em que pese não explicitar a autoria da obra, dificilmente não se trataria de outra que não o romance de Huysmans, publicado na França em 1891, que aborda o satanismo contemporâneo. A cena à qual faz referência é, muito provavelmente, esta:

Então Durtal sentiu-se estremecer, pois um vento de loucura sacudiu o salão. A aura de grande histeria seguiu o sacrilégio e curvou as mulheres; enquanto os meninos do coro incensavam a nudez do pontífice, algumas mulheres se precipitaram no Pão Eucarístico e, de rastros, agarraram-no, arrancaram-lhe pedaços úmidos, beberam e comeram essa divina imundície. [...] Era um barracão de hospício exasperado, uma estufa monstruosa de prostitutas e loucas. Então, enquanto as crianças do coro se aliavam aos homens, a dona da casa subia, retorcida, no altar, empunhando, com uma mão, a haste do crucifixo e, com a outra, o cálice, sob com as pernas nuas; ao fundo da capela, nas sombras, uma criança que ainda não se mexera, subitamente curvou-se para a frente e gritou até à morte, como um cão! (HUYSMANS, J.-K., 1895, p. 378-379)

Clóvis entende que a responsabilidade do que fosse dominado por uma multidão é menor do que a dos diretores de uma eventual ação criminosa que demandasse punição. Essa conclusão seria confirmada tanto pela ciência quando pelo bom senso popular. Tal responsabilidade, contudo, comportaria limites e gradações que poderiam ser encontrados mediante a aplicação da teoria da identidade e da finalidade. Importaria, pois, questionar se o indivíduo permaneceu o mesmo antes e depois do ato cometido, coordenado este com suas tendências. Sua responsabilidade então seria plena. Se, todavia, ele encontrasse na multidão apenas um estímulo, algo que agisse nele como, por exemplo, o álcool, ainda assim, ter-se-ia responsabilidade plena, embora não no mesmo grau da hipótese anterior. Já nos casos em que houvesse completa alucinação do agente, transformado pela ação violenta do meio circundante, a responsabilidade poderia ser inteiramente nula ou, conforme as circunstâncias, muito restrita. Mas, nos casos em que houvesse uma combinação de energias convergentes: de um lado, a sugestão de uma ação ilícita cinda do exterior; de outro, a consonância dessa finalidade ilícita com as tendências individuais, a responsabilidade do agente sofreria uma gradação, sendo “tanto maior quanto mais harmonica fôr essa consonancia, quanto mais conservar o homem a sua feição individual, a sua personalidade no torvelinho das paixões do grande numero” (id., ibid.).

Referências

Bevilacqua, C. (1896). Criminologia e Direito. Bahia: Livraria Magalhães.

Huysmans, J.-K. (1895). Là-bas. Paris: Tresse & Stock.

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Esta postagem é um recorte de pesquisa. Trata-se de saber como a chamada psicologia coletiva chegou no Brasil, quem se preocupou com ela, estudando seu funcionamento especialmente com relação aos crimes cometidos por multidões. Entender como se daria esse suposto "contágio", na ausência de vetores biológicos, físicos, concretos, que justificassem uma ação coletiva voltada para um fim ou objetivo específico. Enfim, perguntas sem resposta. O tema, contudo, é bem explorado por Clovis, especialmente porque se ocupa mais em saber quem seriam os suscetíveis, os mais sugestionáveis. 


terça-feira, 21 de junho de 2022

Temas Globais Contemporâneos


 Prezado estudante,

A equipe de gestão da EaD Unilasalle sente-se honrada em entregar a você este material didático. Ele foi produzido com muito cuidado para que cada Unidade de estudos possa contribuir com seu aprendizado da maneira mais adequada possível à modalidade que você escolheu para estudar: a modalidade a distância. Temos certeza de que o conteúdo apresentado será uma excelente base para o seu conhecimento e para sua formação. Por isso indicamos que, conforme as orientações de seus professores e tutores, você reserve tempo semanalmente para realizar a leitura detalhada dos textos deste livro, buscando sempre realizar as atividades com esmero a fim de alcançar o melhor resultado possível em seu estudos. Destacamos também a importância de questionar, de participar de todas as atividades propostas no ambiente virtual e de buscar, para além de todo o conteúdo aqui disponibilizado, o conhecimento relacionado a esta disciplina que está disponível por meio de outras bibliografias e por meio da navegação online. Desejamos a você um excelente módulo e um produtivo ano letivo. Bons estudos! Gestão de EaD Unilasalle


sábado, 5 de março de 2022

INGREDIENTES DA HISTÓRIA: TEMPO, NARRATIVA E PAISAGEM (Recorte de pesquisa)


Mas então, eram outros os tempos e outros os cenários. Para apreciá-los adequadamente, contudo, é preciso ter presente que o tempo histórico não é simultâneo nem obedece à mecânica prosaica de um antes seguido de um depois. O tempo histórico, cujo caráter narrativo é eminentemente temporal, é tão complexo quanto o tempo dos homens. Ele pode tanto lançar-se às vanguardas como petrificar-se sobre o que passou, o que explica a simultaneidade de ideias em atrito que antecedem à formação de concepções, de conceitos e de categorias como tais, tanto quanto das verdades que lhes vão servir de alicerce.

Além disso, história e escrita acontecem simultaneamente, portanto, na temporalidade. Assim, com razão Jean Kaempfer & Raphaël Micheli (2005) que, para estudar a temporalidade narrativa, exploraram nossa noção de tempo, dividindo-a em cinco categorias. Haveria um tempo apriorístico, conceitual, filosófico, portanto. Haveria um tempo fenomenológico, o tempo de nossas emoções, fonte do passado memorável que guarda lembranças e recordações. Haveria um tempo antropológico, substrato rítmico que se alterna entre o sono e a vigília, organicamente obediente ao corpo e a ele condicionado. Haveria um tempo objetivo, medido por relógios e calendários e sinalado pelos antes e depois. Finalmente, um tempo linguístico, fundamento de um não-presente que tem por pressuposto um passado constituído, um momento de enunciação e uma posteridade situada além da escrita. Dessa sorte, a temporalidade seria uma dimensão fundamental da conduta narrativa, — da trama da história, observe-se —, conferindo à experiência humana um caráter temporal.

E não há também um tempo das paisagens? Um tempo das metrópoles, célere, apressado; um tempo das províncias, lento, resistente, de sorte que as datações, embora certas, porque impregnadas da objetividade dos números, é incerta e inconfiável sempre que servir de marco histórico.

E é diante desses ingredientes coletados in natura em discursos e retratos que se quer descobrir uma psicologia coletiva ainda nascente, embalada no berço, inconsciente de suas origens, sem dúvida, jurídicas, mas ainda e, sobretudo, psicológicas, sociológicas, biológicas e, consequentemente, políticas.

Seja como for, fato é que o XIX foi marcado pelo poder do saber, que superara o poder da crença, derrotando a fé, ao menos na prática. A razão, enfim, exultava. O mundo mudara sua face. A máquina mecanizava também o espírito e recriava as cidades. A velocidade encurtava as distâncias e, depois dos rios, as ferrovias exerceram também a missão civilizadora. A produção aumentava e, com ela, o consumo. Os homens se deslocavam. Arrancados aos lugares onde, por gerações, estiveram fixados, passam a habitar as periferias das cidades que se hipertrofiam. Mentalidades tornam-se outras. O próprio tempo se altera quando o apito das fábricas regula rotinas antes pautadas pelos sinos dos campanários. Escravos de Jó exercitam o zigue zigue zá na urbs, expostos não mais às forças da natureza, mas às econômicas, novas regentes dos poderes políticos que, cada vez mais, passam a sujeitar os homens, os reinos, os estados em suas novas bases. Porque as antigas fizeram-se saudosamente românticas, ao sabor de Rousseaus e de Beccarias já distantes. Era preciso repensar o mundo, destituindo-o — não sem grandes resistências — de todos os resquícios metafísicos herdados da velha escolástica. Era preciso expulsá-los das almas para poder-se apropriar dos corpos.

Insista-se nesse cenário. Ele é nossa introdução. É nosso fundo, ou o palco no qual vai entrar em cena essa psicologia que nos interessa estudar. É preciso fazê-lo sem perder vista que ela aparece no mundo suscitada pela emergência de multidões que assumiam um caráter ameaçador diante daqueles que detinham não apenas a oportunidade de observá-las, mas ainda a de descrevê-las e de analisá-las, como de fato o fizeram, deixando-nos um valioso legado documental, tesouro que nos mostra o nascimento de uma ciência para cuja formação contribuíram jornalistas e literatos, além de historiadores e cientistas, simplesmente porque o assunto interessava a todos.


Kaempfer J. & Micheli, R. (2005). La temporalité narrative. Lausanne: Université de Lausanne. Recuperado de https://www.unige.ch/lettres/framo/enseignements/methodes/tnarrative/tnintegr.html#tnsommar em 05/05/2019.

 


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Nota de Silvio Venturi

 

A Opinião de um Médico Alienista[1]

 

Nota de Silvio Venturi

 

A propósito da discussão entre Sighele e Ferri a respeito da inteligência da multidão, tenho a dizer que, em certo sentido, estou de acordo com um e com outro (mais com Sighele que com Ferri), mas eu quero dizer também que considero a coisa de um ponto de vista diferente.

Vou explicar-me.

O orador que fala a uma multidão encontra nesta multidão o eco exato de suas próprias palavras, quando ele não faz senão exprimir — e eu poderia dizer resumir e evocar — ideias e sentimentos que a multidão já possuía mais ou menos confusos ou inconscientes. Nesse caso, a coletividade encontra no orador, como no foco de um espelho, o ponto onde sua opinião se reflete e de onde ela se propaga com uma intensidade multiplicada.

Se, ao contrário, o orador manifesta ideias ou sentimentos que vão de encontro à opinião pública, ele não é aplaudido nem mesmo compreendido.

Quero lembrar, a propósito, a discussão que Mausdley fez entre os homens de gênio: existem, de um lado, aqueles que farejam e exprimem as tendências intelectuais e morais do momento histórico no qual eles vivem; existem, de outro, os precursores, aqueles que pensam com uma novidade e uma ousadia que chocam os hábitos comuns. Os primeiros podem obter a glória durante sua vida, mas esta glória não irá além de sua morte, porque eles são os homens de seu tempo e eles passam com ele. Os segundos terão uma glória de além-túmulo, quando se houver chegado a compreender o homem que havia previsto o amanhã.

Entre essas duas categorias de homens de gênio, existe aquela dos utopistas, ou seja, a dos homens que, ainda que tenham talento, tem tido a infelicidade de expor ideias às quais o progresso humano não aquiesce e que, em conseqüência, permanecem fora da celebridade.

Todos os dias nós assistimos a demonstração prática daquilo que acabo de dizer. Nas assembleias (sobretudo nas assembleias políticas) os oradores mais estimados e que dominam como déspotas o seu público são aqueles que, no fundo, não dizem nada de novo, mas que sabem se aproveitar das paixões e manejar as ideias fundamentais e comuns[2]. Ao contrário, os verdadeiros inovadores, os pensadores profundos e originais encontram, necessariamente, a hostilidade e a ironia.

Eis, pois, segundo penso, o erro da polêmica entre Ferri e Sighele. Este último, reconhecendo que os sentimentos podem se propagar e se adicionar numa multidão, parece não perceber que isso é devido ao fato de que os sentimentos são um patrimônio comum, e que o orador não os cria, mas tão-só os evoca. Em outras palavras, Sighele parece esquecer que, se o orador arrasta atrás dele o seu público, é porque ele diz... aquilo que o público já pensava.

Ferri, de seu lado, reconhecendo que não apenas os sentimentos, mas também as ideias se adicionam e se reforçam numa multidão, é, em minha opinião, — se ele se limita a constatar que as ideias dos indivíduos que formam o público se ampliam pela sugestão de um orador de talento, — porque eles consideram um problema qualquer de um modo menos unilateral e com muito mais de amplidão e de objetividade.

Após cada discussão pública, podem-se constatar dois fatos inegáveis: antes de tudo, que a ideia exposta pelo orador será modificada, e, em segundo lugar, que ela será modificada na opinião de cada um, no sentido de que não mais será uma ideia extrema e ousada, mas bem uma maneira mais exata e mais positiva, ainda que menos geral, de ver as coisas. Ela terá ganhado em extensão, quer dizer, em difusão, aquilo que perdeu em altura, ou seja, em genialidade.

Eis por que, — eu repito, — Sighele tem razão, quando diz que, em relação aos produtos intelectuais, a troca de idéias diminui a intensidade da ideia inicial; e, de outra parte, Ferri também tem razão, porque a discussão, eliminando o perigo das utopias, eleva e mesmo corrige a ideia inicial.

Após isso, eu penso que toda discussão entre sentimentos e idéias, — distinção feita por Sighele e aceita em parte por Ferri, — é inútil. Tudo depende do grau de cultura e de moralidade do público ou da multidão à qual o orador se endereça. Segundo esse grau, um sentimento ou uma ideia podem ser compreendidos ou não, podem criar o entusiasmo ou deixar os ouvintes indiferentes. Para limitar-me ao exemplo relatado por Sighele e Ferri, é evidente que Garibaldi pôde arrastar atrás dele seus compatriotas com a palavra mágica da “unidade da Itália”, porque, em 1859, essa idéia da unidade de nosso país tornara-se um sentimento comum. Alguns séculos antes, por exemplo, na época de Dante, e mesmo algumas dezenas de anos mais cedo, por exemplo, na época napoleônica, essa idéia não era senão o sonho de algumas individualidades geniais, e não teria conseguido inflamar o público.

A propósito, para melhor esclarecer meu pensamento, quero lembrar aqui a teoria do gênio que formulei alhures. O gênio, segundo penso, é um novo ramo que, de tempos em tempos, se desprende da árvore colossal da atividade humana. Do mesmo modo, cada variedade biológica provém de uma espécie preexistente e pode ser considerada como o ponto de partida de uma outra espécie que irá se desenvolvendo e que se afirmará no amanhã. É por isso que as idéias do gênio não podem ter um sucesso imediato, da mesma maneira que a variedade que se anuncia na ordem zoológica ou vegetal não pode ter imediatamente a honra de ser classificada como uma espécie[3].

Hoje ninguém saberia entusiasmar uma tribo de hindus com a palavra igualdade. Esta mesma palavra encontrou muitos obstáculos, quando foi pronunciada pelos primeiros cristãos e, ao contrário, ela sublevou o mundo, quando foi proclamada pela Revolução Francesa; todavia, ela era o símbolo de uma ideia, assim como hoje. Mas, anteriormente, era a ideia de alguns precursores, ideia estranha e mesmo desconhecida do público; a seguir, esta ideia tornou-se comum e mais: a ideia foi transformada em sentimento.

Sílvio Venturi.



[1] SÍLVIO VENTURINI, o distinto médico alienista italiano, acreditou, quando da polêmica entre SIGHELE, TARDE e FERRI, dever intervir no debate por um artigo publicado na Critica Sociale de 1º de dezembro de 1894. SIGHELE resumiu esse artigo que contém novos apanhados.

[2] Ver a respeito SIGHELE, Psychologie des sectes, Giard et Brière, Paris, 1898, p. 195 e seg.

[3] VENTURI, a seguir, desenvolveu essa idéia em seu livro Le mostruosità dello spirito, Milão, 1899.­­