sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cartas


Minueto de uma Noite de Chuva
Chove prata. Na sala, onde escrevo à luz de ouro
do store, há pelo ambiente um esgarçar de sedas...
e, no ar, cuido sentir, esvoaçando, ledas,
as asas de cetim de encantado besouro:
São versos que componho ao céu do teu olhar,
à sombra de teu vulto indolente, de pluma,
à luz de teu sorrir, feito todo de espuma,
ao som de tua voz cristalina, de luar.
São versos em que falo em minha dor fremente,
em tudo o que vivi, e que amei e perdi,
em tudo o que passou, em tudo o que sofri,
numa ronda sem fim, longa e perdidamente...
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Enquanto as horas vão caindo, silenciosas...
e eu penso em ti, em minha pobre alma dorida,
em nosso triste amor, em minha infeliz vida...
E as finas gotas de chuva rolam, chorosas...
27 de julho de 23.

Poesia de Francisco para Maria remetida em agosto de 1923