Cartas de amor encerram palavras vivas. Com isso quer-se dizer que não se tratam de vocábulos restritos às definições que se encontram nos dicionários, esses códigos reguladores de limites. Emoções não se transmitem pelas palavras, apenas ideias. Ninguém ousaria jamais afirmar que a pauta musical, embora escrita com precisão, seja a própria música, pois o que vai ali é tão-só uma ideia. A música propriamente dita, aquela que se dirige à audição, tampouco seria ela encontrável num gráfico que pudesse traduzir sua escala em decibéis. No entanto, uma música pode, não transmitir, mas despertar emoções, acionando a memória afetiva de quem a escuta, obviamente se estiver relacionada a determinadas vivências individuais ou mesmo sociais, como tão comumente encontramos naquelas canções que se diz serem do nosso tempo. Existe aí uma pertinência eminentemente cultural pelo compartilhamento de elementos simbólicos que também identificam gerações, diferenciando uma da outra, por exemplo. De forma semelhante, com palavras, trata-se, pois, de ir além, de descobrir, em cartas de amor, o poder da linguagem, não no que ela pura e simplesmente esclarece, mas no que ela encobre na lógica absurda das paixões, no que elas têm de mais paradoxal e, por isso mesmo, de mais inspirador...
Em Cartas de Amor como Bens Culturais: Interpretando Linguagem e Memória.
Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social, em andamento junto à UERJ. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes que despertam em mim o desejo de pesquisar.