"O vínculo estreito entre língua e cultura sempre gerou inúmeros comentários. Herder, um dos primeiros a fazer um uso sistemático da palavra “cultura”, baseava sua interpretação da pluralidade das culturas em uma análise da diversidade das línguas (Herder, 1774). Sapir tentará elaborar uma teoria das relações entre cultura e linguagem. O pesquisador deve não apenas considerar a língua como um objeto privilegiado da antropologia, por ser um fato cultural em si, mas deve também estudar a cultura como uma língua. Em oposição às concepções substancialistas da cultura, ele a definia como um conjunto de significações aplicadas nas interações individuais. Para ele, a cultura é fundamentalmente um sistema de comunicação (Sapir, 1921). A hipótese chamada “Sapir-Whorf” (a linguagem como elemento de classificação e organização da experiência sensível), que Sapir relativizou negando que houvesse uma correlação direta entre um modelo cultural e uma estrutura linguística, orientou toda uma série de pesquisas sobre a influência exercida pela língua sobre o sistema de representações de um povo. Língua e cultura estão em uma relação estreita de interdependência: a língua tem a função, entre outras, de transmitir a cultura, mas é, ela mesma, marcada pela cultura. Lévi-Strauss, cuja antropologia deve muito ao método de análise estrutural em linguística, também sublinhou a complexidade das relações entre linguagem e cultura: “O problema das relações entre linguagem e cultura é um dos mais complicados que existem. Pode-se primeiramente tratar a linguagem como um produto da cultura: uma língua em uso em uma sociedade reflete a cultura geral da população. Mas, em outro sentido, a linguagem é uma parte da cultura; ela constitui um de seus elementos, [...]. Mas isso não é tudo: pode-se também tratar a linguagem como condição da cultura e por duas razões; é uma condição diacrônica, pois é sobretudo por meio da linguagem que o indivíduo adquire a cultura de seu grupo; educa-se, instrui-se a criança pela palavra; ela é criticada ou elogiada com palavras. Colocando-se em um ponto de vista mais teórico, a linguagem aparece também como condição da cultura, na medida em que a cultura possui uma arquitetura similar à linguagem. Tanto uma como outra se edificam por meio de oposições e correlações, isto é, por relações lógicas. Consequentemente pode-se considerar a linguagem como uma fundamentação, destinada a receber as estruturas correspondentes à cultura encarada sob diversos aspectos. Estruturas que são mais complexas, às vezes, mas de mesmo tipo que as suas.” (1958-p.78-79)."
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais, trad. Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC, 1999, p. 93-94.
Espaço inicialmente reservado a produções relacionadas a meu Mestrado em Memória Social e Bens Culturais, Lasalle, 2012. Depois, em boa parte, direcionado a pesquisas vinculadas ao Doutorado em História Social, USP, 2017. Atualmente (2019), dará lugar a publicações conexas a meu pós-doc em Psicologia Social, em andamento junto à UERJ. Além disso, contempla temas como memória, história, arquivos pessoais, cotidiano, arte, fotografia e outros saberes que despertam em mim o desejo de pesquisar.