domingo, 27 de novembro de 2011

A Ordem do Tempo

... é característico da ordem temporal ter um sentido, poder ser percorrida em sentido direto e em sentido inverso, o sentido direto sendo sempre o mesmo; é, em uma palavra, implicar numa ordem de anterioridade e de posterioridade que não saberia ser interventiva. Quando eu me represento uma sucessão de imagens no tempo, é-me impossível fazer com que o começo seja o fim e o fim o começo. Dois termos quaisquer tomados desta série são um anterior e outro posterior, e isso para sempre, independente da ordem na qual eu os encontro. Não é, pois, pela posição das imagens que o tempo difere do espaço, mas unicamente pela ideia da necessidade de uma ordem. A ordem do tempo não se impõe como um fato, pois que eu posso percorrê-la num sentido ou noutro; ela se impõe como uma necessidade. O tempo não resulta, pois, de uma ligação de fato entre imagens, mas de um encadeamento necessário de imagens.
ALAIN, Émile Chartier (1899), Sur la mémoire. Une édition électronique réalisée à partir de l’article d’Alain (Émile Chartier) (1899), “ Sur la mémoire ” in Revue de Métaphysique et de Morale, VIIe année, janvier 1899, pp. 26-38, mai 1899, pp. 302-324, septembre 1899, pp. 563-578, Dans le cadre de la collection: "Les classiques des sciences sociales".

sábado, 26 de novembro de 2011

Cartas: desafio metodológico

Debruçar-se assim sobre muitas dezenas de cartas, escritas uma por uma ao longo de anos e anos, e sempre dirigidas a uma mesma mulher, é percorrer as folhas do diário da viagem íntima de uma alma que vai na direção de outra, presa de um encanto que contagia e fustiga a imaginação. É a curiosidade que deseja refazer este cenário, montando o palco onde esse amor foi sentido, como foi visto, de que lembranças foi feito, esboçando assim seus protagonistas, não em sua verdade histórica, mas em sua manifestação existencial. Francisco é um homem feito de palavras e, de suas palavras, extrai-se o osso que dará forma a Maria, esse feminino onde coexistem Santa Teresa e Capitu, universo de contradições e conflitos, onde ponderações entre o querer e o dever atuam como determinantes de um comportamento inserido em contexto tempo e de lugar determinados. Impõe-se desvelar essa sociedade, iluminar os elementos que compõem esse todo a partir da propositura de um método que, sem repudiar a ortodoxia, não coloque em risco os conteúdos humanos, que não devem sofrer coisificação em sua subjetividade profunda, ou seja, aderir à proposta de uma visão sistêmica, não fragmentada, mas integradora de elementos aparentemente desconexos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Estilo e Ideário

... são duas faces do mesmo corpo, indissociáveis como os dois lados de uma folha de papel: trata-se da forma como são trabalhados os textos e do conjunto de mensagens reflexivas que (eles) comportam. LOPES, Cícero G. Linguagem literária. Palestra proferida em Bento Gonçalves, RS, em 15 de maio de 2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Bienal e Nós

Maravilhar-se

O maravilhoso é a face noturna da existência, é o universo do sonho e da magia que procedem ambos a transformações e metamorfoses (a alquimia das coisas e dos seres) que seriam absolutamente impossíveis na vida cotidiana.

LAPLANTINE, François, TRINDADE, Liana, O que é imaginário. São Paulo: Brasiliense, disponível em http://www.portaldetonando.com.br/

domingo, 13 de novembro de 2011

Bens Culturais 3



Bens Culturais Temas Contemporâneos, o terceiro da série, organizado pelas Professoras Nádia Maria Weber Santos e Zilá Bernd, trata de memória e patrimônio. Na fotos, capa e a apresentação da obra, no Santader Cultural, com Prof. Nádia, à esquerda, e três autores Dedé Ribeiro, Ângela Molin e Lucas Costa Roxo. Logo após, houve sessão de autógrafos 57a. Feira do Livro de Porto Alegre no dia 08 do corrente.

sábado, 12 de novembro de 2011

A Cidade não Vista




A 8a. Bienal de Porto Alegre mostra A CIDADE NÃO VISTA, instalação de Tatzu Nishi. Só é preciso subir 80 degraus, escalando os andaimes instalados em frente ao paço municipal e entrar neste quarto, cuja parede ao fundo é parte da fachada do prédio, habilmente incorporada à obra. Eu estive lá, fotografei e conferi.

domingo, 6 de novembro de 2011

Terra dos Homens

Nosso corpo é nosso mar e o nosso mar é nossa vida e nossos peixes mais bonitos, nossas pérolas e tesouros de uns desejos.
O nosso mar é infinito, como o azul do firmamento e as estrela são uns pontos de luz e de olhar como os seres desse mar.
Agora: tudo se acaba e se fecha num limite, como círculos, esferas e elipses dialogando com a lógica das pesquisas científicas. Uma hipérbole. Uma parábola. A metonímia de uns prazeres. O engenho da fita de borracha. O comprimento focal de uma superficie. A imagem virtual. A magnificaçao e os rádios positivos. O que ali repousa aspira a tornar-se fato, respira por nossos olhos e ouve por nossas mãos.
Pois nosso corpo é nosso mar e ali vivemos e morremos e o que em nós encontra vida ou perece é como um fruto devolvido ou não comido que floresce ou que polui as nossas águas mais profundas.
Até aqui temos apenas discutido o foco da ação do ponto de vista da dinâmica entre os eixos, uma amizade realizada na similitude, de algum modo, sem questionar se por acaso buscamos a perfeição do um, ou seja: é suficiente e necessário que águas imundas, límpidas ou turvas sejam o beijo e a resposta de nossos versos na boca desse abismo que fala e que murmura em nossas vidas, água que borbulha.
Confesso que pesquei.
(Miriam Gomes de Freitas, in "Taipas e Toupeiras") - ler ao som de R. Schumann & Ruckert: widmung - tocado por Dirce Knijnck (como eu, Nádia, que ouvi há anos numa peça de teatro desta minha amiga, onde Dirce tocou...), ou então ouvindo Brahms (Meine liebe ist grün).
Postado em “Bens Culturais”, a pedido de Nádia Maria Weber Santos

sábado, 5 de novembro de 2011

Perspectivas da Cultura

"Não quero de forma alguma dar a impressão de que tudo que é feito com as redes digitais seja bom. Isso seria tão absurdo quanto supor que todos os filmes sejam excelentes. Peço apenas que permaneçamos abertos, benevolentes, receptivos em relação à novidade. Que tentemos compreendê-la, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural. Apenas dessa forma seremos capazes de desenvolver essas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista". LÉVY, Pierre. Cibercultura, tradução Carlos Irineu da Costa ― São Paulo: Ed. 34, 1999,p. 12.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sobre Bloggers

Para cada público, uma linguagem, um estilo de imagens, um tipo de blogger. Saber o que dizer e a quem dizer. Sobretudo, ter o que dizer, pois um blogger ― como forma de comunicação ― é um processo sobre o qual se constrói um discurso que é o seu tema, que é, enfim, o que ele vem a ser no mundo digital.
Um blogger é um processo. Ele acumula memórias, imagens e pode ser uma rica fonte de saberes. Manter bloggers com entusiasmo e, sobretudo, com responsabilidade, implica em disciplina, em aprendizado, em saber o que dizer e a quem. O número de bloggers criados e abandonados na rede é imenso. O entusiasmo desaparece tão logo o brinquedo perde a graça. Acima de tudo, o não ter o que dizer nem a quem dizer qualquer coisa, coloca o praticante em confronto com ele mesmo, pois ainda que se trate apenas de copiar e colar passagens quaisquer, ainda assim, é preciso certa coerência no saber que é destilado dia a dia, postagem após postagem. Esse acúmulo que atravessa o tempo acaba por traduzir vivências e espelhar a realidade desse tempo vivido, vivências estas transformadas em memórias que podem ser facilmente retomadas, como também eliminadas, apagadas ao menos em parte.

As Metas do Historiador

"Pensar o passado, chegar lá, nesse mundo escondido e misterioso da temporalidade escoada, Tentar resgatar e, sobretudo, entender e explicar como os homens de uma outra época davam sentido ao mundo, como se relacionavam com os seus semelhantes e como pensavam a si próprios; descobrir as razões e os sentimentos que mobilizaram um outro tempo e que foram responsáveis por suas práticas sociais; compor tramas, surpreender enredos, supor desfechos de situaçoes outras, distantes no tempo, e, por vezes, aparentemente incompreensíveis... Não serão essas, a rigor, as metas de todo quele que busca tornar-se um historiador?"

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História cultural: caminhos de um desafio contemporâneo in Narrativas, Imagens e Práticas Sociais, org. PESAVENTO, Sandra Jatahy, SANTOS, Nádia Maria Weber, ROSSINI, Miriam de Souza. Porto Alegre, RS: Asterisco, 2008, p. 11