sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Velhas Praças

É notável como Francisco descreve a nostalgia que encontra nas praças abandonadas, objeto do poema aqui retratado, sem data, mas muito provavelmente escrito em 1923 e remetido a Maria nesta época. Ele, ao mesmo tempo em que descreve os lugares como são no presente, evoca seu passado, mencionando a fonte com repuxo “antes faiscante do luxo de rica pedraria” e que agora transmite apenas “sua melancólica solidão”, circunstância que ele não deixa de qualificar como irônica, fazendo-nos sentir o quanto o tempo pode tirar às coisas. Percebe-se nisso que Francisco resgata um pouco do luxo perdido, restaurando, na memória, os velhos tempos das praças, quando novas. Essa forma poética de ver a cidade, destacando partes de sua geografia, de retratá-la a partir de dados conformados ao abandono, à solidão, tornam os escritos de Francisco instigantes, repletos de prosopopeias onde mesmo as árvores são belas em sua senilidade. É possível percorrer a cidade imaginária na qual Francisco amou, e que é ainda Porto Alegre descrita com poesia e sensibilidade a partir de diversos lugares que nos são apresentados através da intensa subjetividade franciscana. Nesta cidade existem praças abandonadas, como existem arrabaldes, tema de outro desses poemas escritos nos anos vinte, mais precisamente em 1923.

Da civilidade

"Não posso ver-te. Essa impossibilidade é irremediavel. Resigno-me. Para sua felicidade, a creatura humana, em face do irremediavel, resigna-se facilmente ou difficilmente, conforme a intensidade do golpe. Eu me resigno também, não em toda extensão do acto. A resignação é o último estado da alma. Ella pertence aos sábios e aos philosophos. Mas, falo da resignação total, da resignação bondade, que esquece e perdoa. E na minha alma move-se um turbilhão de paixões diversas e contrarias..."  Trecho de carta de Francisco para Maria, década de 1920.
A civilidade parece impor um custo, uma disputa entre a vontade de agir e uma ordem vigente. Cobra-se, ao menos no que se extrai das afirmativas de Francisco nesta carta. É de bom-tom resignar-se, não obstante as paixões da alma, sacrificado o interesse pessoal à vista das conveniências ditadas pela socialidade e pela civilidade, aspectos que devem ser aproximados por sua vez. É que, ao estabelecer regramentos aplicáveis a tipos ideais, a etiqueta, torna tais tipos efetivamente reais, tão reais quanto o legado epistolar de Francisco.