O espiritismo, que se desenvolveu intensamente na França durante o século XIX, é examinado em detalhes nesta obra. De notar que, em 1850, aquilo que não passava de uma curiosidade, rapidamente assumiu proporções bem maiores, especialmente depois que um dos principais atores dessa história, Lyonnais Hippolyte Rivail, cujo pseudônimo céltico era Allan Kardec, difundiu o movimento no mundo inteiro, notadamente no Brasil.
Durante muito tempo, afirma Cuchet (2012, p. 13), o espiritismo não reteve a atenção dos pesquisadores, que preferiam evitar um tema tido por alguns como supersticioso e mesmo como uma aberração mental pouco digna de ser elevada à categoria de objeto científico. Nessa linha, Pierre Larousse, em seu Grand Dictionnaire Universal editado em 1865, chegou a escrever que havia lugar não para apreciar o espiritismo, mas para explicá-lo, assinando-lhe uma colocação no quadros das doenças mentais. O cenário mudou, todavia, quando historiadores, sociólogos, etnólogos e antropólogos debruçaram-se sobre o tema na França, tirando o assunto da sombra, em especial no campo da história das religiões, bem como história das técnicas, de mulheres, de cidades, psicologia e morte. Enfim, uma grande massa de trabalhos que pode ser dividida em três grandes grupos. Primeiro, a própria literatura espírita; depois, uma corrente etno-antropológica, com destaque para Roger Bastide que, no caso brasileiro, tem a vantagem de possibilitar a observação in loco de um espiritismo vivo e dinâmico, bem mais tímido na Europa; em terceiro lugar, as produções ligadas à história cultural em sentido amplo, que analisa o problema a partir dos mais variados pontos de vista.
CUCHET, Guillaume. Les voix d'outre-tombe. Tables tournants, spiritisme et société au XIXe siècle. Paris: Seuil, 2012.
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