sexta-feira, 22 de abril de 2011

Lugares de Memória



Antes de abordar a questão dos lugares de memória, quero dizer que a melhor parte deste meu espaço é sua descontinuidade. Não pretendo criar nada linear, até porque o tempo, esta matéria prima da vida, é coisa que disputo aos relógios. Vou simplesmente tecer recordações com palavras. A temática da duração sugere que se ultrapasse, que se transcenda a concepção contínua, seja do tempo, seja da memória, e isso nos acontece se conseguirmos nos fixar no instante. Memórias haverá tantas quanto grupos há, porque a história é uma operação eletiva, que requer intelecto, daí pertencer a todos em geral e a ninguém em particular. Memória Social se desencontra da História, no sentido clássico do termo, justamente aí, onde não se emprega o intelecto, mas os sentimentos, as emoções, que outorgam significado àquilo que vivemos. Todavia, é a História que reconhece os lugares de memória que as sociedades constroem para com isso tentar reparar ou inviabilizar perdas. Lugares de memória dão ensejo a rituais onde as memórias se prendem e se integram, não sem desprestigiar a paisagem urbana. Lugares de Memória são materiais e, simultaneamente, simbólicos.  Nessa funcionalidade, conectam perdas e aquisições. Porque na medida que se perdem memórias, adquirem-se  museus, bibliotecas, praças, bem como ritos, comemorações que buscam compensar o abandono de alguma coisa que foi significativa para o coletivo. Não é o indivíduo que escolhe ou elege um lugar de memória, lugar este que dará, por sua vez, lugar a ritos, onde o grupo se subtrai à linearidade do tempo comum. Emerge daí uma indiscutível sensação de nostalgia, que cresce com a saudade, que aumenta nesses espaços, fazendo reviver uma experiência, uma recordação.
A foto foi tirada na Pinacoteca de São Paulo.