domingo, 23 de outubro de 2011

Chaves para o Romantismo

O romantismo é um movimento europeu, nascido na metade do século XVIII na Alemanha e na Inglaterra, e difundido na França durante a primeira metade do século XIX. Os grandes nomes do romantismo francês são Chateaubriand, Lamartine, Musset, Hugo e Vigny. Ele se caracteriza por uma recusa aos valores dominantes nos séculos precedentes.
O romantismo, com efeito, rejeita as regras impostas pelo classicismo: no teatro, por exemplo, os gêneros se misturam, as unidades de tempo, de lugar e de ação desaparecem, o drama substitui a tragédia. Depois da evolução política e social de 1789, o romantismo empreende uma revolução poética: “Coloquei um boné vermelho no velho dicionário”, clama Hugo.
Por outro lado, a sobriedade dos clássicos, imposta pela regra social do decoro, não resiste à exaltação romântica que se alimenta da descortesia. Assim, ao racionalismo das luzes, os românticos opõem a valorização de uma sensibilidade exacerbada que predispõe aos amores apaixonados, mas igualmente ao sofrimento existencial (o “mal do século”). Às emoções e aos sentimentos acrescenta-se o contato com a natureza, sucessivamente lugar de recesso fora da sociedade, espelho apaziguador dos estados de alma melancólicos e inesgotável fonte de inspiração poética.
Enfim, a revolta romântica toma uma dimensão política: a geração de 1830, francamente liberal e republicana, condena a ordem burguesa em nome do primado do indivíduo sobre a sociedade. Compreende-se desde então o gosto romântico pelos desertos, as ruínas e o exotismo: todos espaços onde os limites esclerosantes das ordens dogmáticas são abolidos.
O artista romântico figura o porta-voz de uma verdade que ele é o único a poder transmitir. Sua valorização do sonho e do sobrenatural, seu gosto pelos grandes sentimentos e sua paixão pelo inútil opõem-se ao materialismo, ao positivismo e, sobretudo, ao utilitarismo social. Frequentemente incompreendido, marginal ou revoltado contra a antiga ordem, o artista romântico parece-se muito com o “eremita de Croisset”.
Casin-Pellegrini, Catherine, Chaves para o romantismo, in Flaubert, Gustave. Lettres à Louise Colet, Paris: Magnard, 2003, p. 161, tradução minha.

O corpo como objeto e fonte para produção de sentidos

Corpo pressente. Traduz. Reproduz. Intui. Presentifica. Imagina. Simboliza. Não mente. Veicula. Dói. Mostra. Os estudos e as análises sobre o corpo (como objeto e fonte) tornaram-se mais efetivos nas ciências sociais e humanas a partir do século XX, sob diferentes enfoques. Bem no início, mas com os dois pés ainda no século XIX, Freud nos apresentou o corpo que reprime. Sua concepção da repressão do instinto sexual - o mais avassalador de todos os instintos - provocando neuroses constitucionais da psique humana originou um corpus teoreticus que contaminou, ideologicamente, todo o pensamento do século que acabava de começar. Tornou-se a sexualidade reprimida a causa de tudo, e o conceito de sublimação veio aliviar a consciência dos pecados cometidos. O mérito desse neurologista - Freud não era psiquiatra - foi trazer à tona toda a podridão dos falsos valores, disfarçada na moralidade burguesa do século anterior, escondida por detrás das pesadas e grossas cortinas das cortes e salões: os corpos de homens e mulheres eram sexuais e tinham prazer com isso. A psicanálise, tal qual avatar de uma nova era, pretendendo tornar-se um dogma sobre o corpo e a mente, dominou o século XX. Ideologicamente chegaram-nos a certeza e a reflexão sobre o 'corpo reprimido'. Muito significativo em um século que via nascerem os regimes totalitários e cometerem-se as maiores atrocidades sobre milhões de corpos simultaneamente...
SANTOS, Nádia Maria Weber. O corpo como objeto e fonte para produção de sentidos, acesso em 23/10/2011.
Nádia Maria Weber Santos é professora do Programa de Pós-graduação em Memória Social e Bens Culturais/Centro Universitário Unilasalle, Canoas (RS); pesquisadora associada da École des hautes études en sciences sociales.

Ensaios Geopoéticos

Ontem, dia 22, compareceu à 8ª Edição da Bienal do Mercosul ― armazéns 1a, 1b e 1c do cais de Porto Alegre ― o grupo formado por alunos integrantes do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais do Unilasalle, acompanhados pelas professoras Nádia Maria Weber Santos e Zila Bernd, onde foram recepcionados por integrantes da exposição em visita monitorada. A temática ― Ensaios de Geopoética ― aborda política e geografia. Os artistas participantes expressam em suas obras a noção de território, não apenas do ponto de vista geopolítico, mas da perspectiva do simbólico, extravasando conteúdos poéticos inerentes à identidade dos diversos grupos que integram a exposição. Dentre as obras apreciadas e discutidas, a videoanimação do argentino Alberto Lastreto ― El prócer, 2008 ― construída a partir de uma fotografia de estátua eqüestre encontrada em Nova York. A obra retrata um líder desconhecido em pedestais erguidos em diversas cidades fotografadas pelo artista. De registrar ainda a instalação de Barthélemy Toguo, de Camarões, com The new world climax, 2001/2011, mostrando imensos carimbos entalhados em madeira espalhados sobre grandes mesas, inspirados nos que são usados em passaportes. Ao fundo, xilogravuras extraídas desses entalhes. A obra coloca em discussão a questão política das fronteiras à vista da circulação de nacionais que representam as mais diversas culturas colocadas em movimento pela via da imigração.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Produtos Culturais

“De forma simples, produtos culturais são bens e serviços valorizados por seu “significado”. Os produtos culturais não são valorizados porque protegem o consumidor do frio ou movem o consumidor do ponto A ao ponto B. Ao contrário, são valorizados porque o consumidor ou outras pessoas podem interpretá-los de maneira que sejam valorizados pelo consumidor. No nível básico, eles são produtos consumidos em um ato de interpretação em vez de serem usados de algum modo prático para a solução de algum problema prático.”
LAWRENCE, Thomas B., PHILLIPS, Nelson. Compreendendo as indústrias culturais, in Indústrias Criativas no Brasi. Cinema, TV, Teatro, Música, Artesanato, software, coordenadores: WOOD JR, Thomas, BENDASSOLLO, Pedro F., KIRSCHBAUM, Charles, PINA E CUNHA, Miguel. São Paulo: Atlas, 2009, p. 4

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Anunciação ao Poeta

Ave, ávido.
Ave, fome incansável e boca enorme,
Come.
Da parte do Altíssimo te concedo.
Que não descansarás e tudo te ferirá de morte:
O lixo, a catedral, a forma das mãos.
Ave, cheio de dor.
PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p. 79.

domingo, 16 de outubro de 2011

Que educaçao é esta?

No Brasil, a grande maioria das famílias não teve educação formal e está alijada do mercado cultural tradicional. Raras são as residências em que se veem livros, quadros, esculturas e instrumentos musicais. Já a televisão, desde que surgiu, foi entronizada como o meio, por excelência, de veiculação da indústria do entretenimento. Seus valores éticos e morais tornam-se a referência para um povo de baixíssima escolaridade, alijado da cultura tradicional, despreparado para a fruição estética. Ou seja, se a escola não se incumbir da missão de desvelar o mundo mágico da arte, continuaremos a ver formarem-se médicos, engenheiros, advogados, economistas até tecnicamente bem preparados, embora nunca tenham vibrado com a leitura de um romance, nunca umedeceram os olhos com um soneto, nem se elevaram ao ouvir uma sinfonia. Mas que ser humano é esse? Que educação é esta?Alcione Araújo, escritor e dramaturgo, in BERTINI, Alfredo. Economia da Cultura: a indústria do entretenimento e o audiovisual no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 19.

sábado, 15 de outubro de 2011

Da Finalidade da carta

..."tratando de altas questões, que seja grave; de matérias medíocres, harmoniosa (concinna); de matérias humildes, correta e agradável; que, na brincadeira, ela seduza por seu humor e sua graça; no elogio, por sua pompa (apparatu); que, na exortação, seja veemente e apaixonada; na consolação, carinhosa e afetuosa; para persuadir, grave e rica de pensamentos; na narração, clara e descritiva (graphice); para pedir, discreta; para recomendar, solícita; nas circunstâncias felizes, cumprimentadora; na tristeza, séria". ERASMO DE ROTTERDAM
Anônimo de Bolonha; Rotterdam, Erasmo; Lípsio, Justo. A Arte de Escrever Cartas, org. Emerson Tin. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005, p. 55.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Língua e Linguagem

Língua não é linguagem. A primeira tem normas gramaticais, sitematicamente regulamentadas; a segunda, todavia, constitui-se na grande ferramenta de que nos servimos para construir nossas referências do mundo, base sobre a qual se edificarão nossas memórias.

domingo, 9 de outubro de 2011

WWW: World Wide Web


"Precisamente no instante em que se descobriu a imensidão do espaço terrestre, começou o famoso apequenamento do globo, até que, em nosso mundo (...), cada homem é tanto habitante da Terra como habitante do seu país. ... Antes que aprendêssemos a dar a volta ao mundo, a circunscrever em dias e horas a esfera da morada humana, já havíamos trazido o globo à nossa sala de estar, para tocá-lo com as mãos e fazê-lo girar diante dos olhos."

ARENDT, Hannah. A condição humana. 9a. edição, 1999, 262-263, in http://pt.scribd.com/doc/932734/movsociais-cibercultura (acesso às 18h26 em 09/10/1011)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Construção e Comunicação de Cultura na Era Digital




1. Como as diferentes ferramentas e tecnologias estudadas até o momento podem ser aplicadas no seu cotidiano (trabalho, pessoal, dissertação)?



2. De que forma o conceito de Cibercultura está presente no seu cotidiano? Até que ponto as Redes Sociais na Internet diferem das existentes fora da web?



3. De que forma a existência de uma representação digital de memória e patrimônio muda a relação com as representações "reais"?



domingo, 2 de outubro de 2011

Correspondência

O estudo de correspondência ― tipo de documentação que recentemente ganhou importância e destaque como fonte histórica ― ainda tem como objeto privilegiado as cartas trocadas entre figuras de destaque, como intelectuais ou políticos. Há também interesse pelas cartas endereçadas por figuras populares a grandes figuras políticas com o objetivo de encaminhar pedidos. Mas são poucos os trabalhos dedicados à correspondência estritamente pessoal e, nesse caso, a que desperta maior atenção é a correspondência amorosa. São praticamente inexistentes trabalhos que focalizem correspondências domésticas e íntimas de pessoas anônimas, concetradas em descrever relações familiares. Esse pode ser, contudo, um rico instrumento de análise histórica.
FERREIRA, Marieta de Moraes. Correspondência familiar e rede de sociabilidade, in Escrita de si Escrita da história, org. GOMES, Angela de Castro, Rio de Janeiro, FGV, 2004, p. 254.

sábado, 1 de outubro de 2011

Novas Sensibilidades

A fotografia é, por assim dizer, um elemento icônico da modernidade. Não apenas representou um avanço técnico no domínio da captação e reprodutibilidade de imagens da realidade como também correspondeu a uma estetização dessa realidade, pela tomada ou fabricação de representações. Igualmente, a fotografia se presta para exemplificar essa condição da modernidade que é a de realizar-se, simultaneamente, em várias partes de um mundo interligado pelos avanços da tecnologia e pela construção de novos saberes, e percorrido, também, por novas sensibilidades. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras da ordem, limites da desordem: violência e sensibilidades no sul do Brasil, final do século XIX in Sociabilidades, justiças e violências: práticas e representações culturais no Cone Sul (séculos XIX e XX), org. Pesavento, Sandra Jatahy e Gayol, Sandra. Porto Alegre: ed. da UFRGS, 2008, p. 38.