domingo, 23 de outubro de 2011

O corpo como objeto e fonte para produção de sentidos

Corpo pressente. Traduz. Reproduz. Intui. Presentifica. Imagina. Simboliza. Não mente. Veicula. Dói. Mostra. Os estudos e as análises sobre o corpo (como objeto e fonte) tornaram-se mais efetivos nas ciências sociais e humanas a partir do século XX, sob diferentes enfoques. Bem no início, mas com os dois pés ainda no século XIX, Freud nos apresentou o corpo que reprime. Sua concepção da repressão do instinto sexual - o mais avassalador de todos os instintos - provocando neuroses constitucionais da psique humana originou um corpus teoreticus que contaminou, ideologicamente, todo o pensamento do século que acabava de começar. Tornou-se a sexualidade reprimida a causa de tudo, e o conceito de sublimação veio aliviar a consciência dos pecados cometidos. O mérito desse neurologista - Freud não era psiquiatra - foi trazer à tona toda a podridão dos falsos valores, disfarçada na moralidade burguesa do século anterior, escondida por detrás das pesadas e grossas cortinas das cortes e salões: os corpos de homens e mulheres eram sexuais e tinham prazer com isso. A psicanálise, tal qual avatar de uma nova era, pretendendo tornar-se um dogma sobre o corpo e a mente, dominou o século XX. Ideologicamente chegaram-nos a certeza e a reflexão sobre o 'corpo reprimido'. Muito significativo em um século que via nascerem os regimes totalitários e cometerem-se as maiores atrocidades sobre milhões de corpos simultaneamente...
SANTOS, Nádia Maria Weber. O corpo como objeto e fonte para produção de sentidos, acesso em 23/10/2011.
Nádia Maria Weber Santos é professora do Programa de Pós-graduação em Memória Social e Bens Culturais/Centro Universitário Unilasalle, Canoas (RS); pesquisadora associada da École des hautes études en sciences sociales.