domingo, 6 de agosto de 2017

Reflexos


Cartas

"Maria, meu amor –
Hontem, depois do jantar, quiz escrever-te, para continuar um doce costume tão ligeiro e tão amavel: conversar contigo. Uma necessidade de doçura e de encontro me apontava a folha em branco como o único meio de satisfaze-la. Todas as pequenas imagens adoraveis, toda as sensações deliciosas que a tua ternura morena crêa pairavam em confusão dentro de mim, fazendo-me desejar uma conciencia dolorosa de impossibilidade a tua presença real

Trecho de carta da década de 02/10/1932, Santo Ângelo.


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Cartas

Recorte parcial do trecho em destaque.

"Mary, eu tenho uma tragédia de espírito, que é a fonte de minha angústia e do meu scepticismo. Eu não poderei ver em torno de mim senão o vasio, sempre e sempre. Eu sou dessas naturezas que carregam uma realidade própria, invencível, e que reduzem a essa realidade todas as cousas exteriores, e a ella incorporam todas as emoções e sentimentos, cortando a sua correspondencia com o mundo externo. Essa realidade é susceptivel de alargamento, porém, talvez não de enriquecimento: todas as cousas se sbatem em face della, ella forma por assim dizer um universo fechado. Existirá alguma cousa fora della? Os  fatos, os objetos, os homens, não serão simples reflexos, apenas representações? Tenho lutado para romper este meu mundo fechado, encontrei um caminho uma vez: a comunhão com o todo universal, a solidariedade com todos os homens, pela inteligência ou pelo coração. Escrevi o “carvão”: que exprime este estado. Infelizmente, verifiquei que só no isolamento, só longe dos homens é possível a permanencia de semelhante attitude, e que ella só pode ser gerada em estado de contemplação. Quando se desce para o dominio da acção, encontra-se no homem o inimigo. E este encontro, este choque, quebra aquella atitude. Como única defesa, apresenta-se o recurso e volta a si mesmo, ao seu universo fechado, ao seu refugio."

 Trecho de carta da década de 1930.