quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Cartas

Recorte parcial do trecho em destaque.

"Mary, eu tenho uma tragédia de espírito, que é a fonte de minha angústia e do meu scepticismo. Eu não poderei ver em torno de mim senão o vasio, sempre e sempre. Eu sou dessas naturezas que carregam uma realidade própria, invencível, e que reduzem a essa realidade todas as cousas exteriores, e a ella incorporam todas as emoções e sentimentos, cortando a sua correspondencia com o mundo externo. Essa realidade é susceptivel de alargamento, porém, talvez não de enriquecimento: todas as cousas se sbatem em face della, ella forma por assim dizer um universo fechado. Existirá alguma cousa fora della? Os  fatos, os objetos, os homens, não serão simples reflexos, apenas representações? Tenho lutado para romper este meu mundo fechado, encontrei um caminho uma vez: a comunhão com o todo universal, a solidariedade com todos os homens, pela inteligência ou pelo coração. Escrevi o “carvão”: que exprime este estado. Infelizmente, verifiquei que só no isolamento, só longe dos homens é possível a permanencia de semelhante attitude, e que ella só pode ser gerada em estado de contemplação. Quando se desce para o dominio da acção, encontra-se no homem o inimigo. E este encontro, este choque, quebra aquella atitude. Como única defesa, apresenta-se o recurso e volta a si mesmo, ao seu universo fechado, ao seu refugio."

 Trecho de carta da década de 1930.

Nenhum comentário:

Postar um comentário