Recorte parcial do trecho em destaque. |
"Mary, eu tenho uma tragédia de espírito, que é a fonte
de minha angústia e do meu scepticismo. Eu não poderei ver em torno de mim
senão o vasio, sempre e sempre. Eu sou dessas naturezas que carregam uma
realidade própria, invencível, e que reduzem a essa realidade todas as cousas exteriores,
e a ella incorporam todas as emoções e sentimentos, cortando a sua
correspondencia com o mundo externo. Essa realidade é susceptivel de
alargamento, porém, talvez não de enriquecimento: todas as cousas se sbatem em
face della, ella forma por assim dizer um universo fechado. Existirá alguma
cousa fora della? Os fatos, os objetos,
os homens, não serão simples reflexos, apenas representações? Tenho lutado para
romper este meu mundo fechado, encontrei um caminho uma vez: a comunhão com o
todo universal, a solidariedade com todos os homens, pela inteligência ou pelo
coração. Escrevi o “carvão”: que exprime este estado. Infelizmente, verifiquei
que só no isolamento, só longe dos homens é possível a permanencia de
semelhante attitude, e que ella só pode ser gerada em estado de contemplação.
Quando se desce para o dominio da acção, encontra-se no homem o inimigo. E este
encontro, este choque, quebra aquella atitude. Como única defesa, apresenta-se
o recurso e volta a si mesmo, ao seu universo fechado, ao seu refugio."
Trecho de carta da década de 1930.
Nenhum comentário:
Postar um comentário