É fácil distinguir um texto histórico
de um texto literário. Enquanto este último se deixa marcar por convenções de
ordem ficcional, o texto histórico presume, da parte de seu enunciador, um
profundo comprometimento com a veracidade daquilo que afirma, outorgando-lhe ―
dir-se-ia ― caráter de verossimilhança, a deixar-se aqui a verdade a cargo dos filósofos. Verossímil é quase que uma
modalidade, uma forma de representar ao leitor fatos, acontecimentos, de sorte
a fazê-lo compreender dado contexto, graças à imaginação. “O verossímil é a modalidade
intermediária, mediadora, necessária destas construções tanto nas
representações visuais como naquelas que se apoiam sobre a linguagem”
(LEENHARDT, 1998, p. 43). Existe ainda, da parte do enunciador de um texto que
se pretende expressão da verdade, uma expectativa de que aquilo que diz seja
tomado como tal, ou ele teria incidido em erro. Em caso de ficcionalidade, não
haveria risco de exposição ao erro, uma vez que o leitor não deve esperar
encontrar ali o mesmo conteúdo de verdade que encontra ― ou que deveria
encontrar ― num texto histórico. Para Leenhardt, no debate teórico travado
entre a história e a literatura, seria preciso admitir que a produção da
linguagem da verossimilhança, a colocação estratégica do “efeito de crença”
buscaria apoio “na vontade de fazer crer que as coisas se passaram realmente
assim”, esta produção, enfim, seria devida “menos a uma suposta exatidão dos
fatos do que à função imaginária que preenche o verossímil na construção da
consciência individual e social” (idem, p. 42/43).
LEENHARDT,
Jacques. A construção da identidade pessoal e social através da história e da
literatura, in: LEENHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra (org.). Discurso histórico e narrativa literária.
Campinas: Ed. UNICAMP, 1998.
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