domingo, 17 de março de 2019

À Francesa

Na década de 1920, graças a uma resenha crítica aparecida na França e dedicada ao exame de obras publicadas na área da Psicologia Social, constata-se o interesse que a psicologia coletiva vinha despertando, inclusive na Holanda, por exemplo. Tal crítica merece ser aqui aproximada, seja pelo conteúdo, seja pelo estilo, dir-se-ia, inconfundivelmente francês.
Na Revue philosophique de la France et de l'étranger publicada no mês de julho de 1920, A. van Gennep procede a exame sobre um livro então recentemente publicado por H. L. A. Visser[1] e intitulado Collectief Pychologische Omtrekken, Haarlem, Tjeenk Willink et fils, 1920, 236 p. A obra é apresentada como uma sorte de introdução geral ao estudo sistemático da psicologia coletiva, de onde “uma exposição fragmentada em paráfrases muito curtas nas quais muito problemas importantes são antes sinalados que resolvidos” (Gennep, 1920, p. 308). Uma exposição que, segundo ironiza o crítico, muito mais se aproximava do título do que este mesmo daria a entender, uma vez que pode ser traduzido por Contours de la psychologie collective, ou seja, Contornos da psicologia coletiva. O leitor francês ainda teria razões para reclamar a presença de referências bibliográficas em lugar de simples alusões nominais a Comte, Tarde e outros, bem como um maior aprofundamento tanto na abordagem das relações entre a psicologia coletiva e a sociologia, como no capítulo que tratou do papel da imitação na formação dos sentimentos, dos conceitos e gestualidade coletiva. Seria também o caso, ― acrescenta o crítico, ― de reprovar a Visser haver “levado a sério a terminologia nebulosa e os raciocínios confusos de Wundt, do qual as enormes obras, construídas sobre um mínimo de fatos, ainda assim discutíveis, fornecem um belo exemplo de ciência alemã factícia e inútil” (id., ibid.). Em que pese também Visser haver reconhecido em sua obra a importância dos documentos etnográficos e do método comparativo para uma renovação no estudo dos fenômenos da psicologia coletiva, ressalta o crítico: “se existe alguém que nada disso compreendeu, nem a esses documentos, nem a esse método, esse alguém é Wundt” (id., ibid.). A partir do quinto capítulo, o livro consistiria apenas em uma análise do trabalho de Wundt e de outros sábios, como Vierkandt, “que viram melhor e foram além de Wundt na análise e interpretação dos fenômenos de psicologia coletiva” (id., ibid.), ponto no qual Visser se separaria de Wundt para propor suas interpretações pessoais. Finalmente, colocadas tais reservas, o livro “seria útil como exposição de conjunto de uma ciência especial e ainda pouco conhecida do grande publico holandês” (id., p. 309), razão pela qual mereceria “sucesso durável” e, caso reeditado, bibliografia e índice que lhe assegurassem “o valor de um manual cômodo” (id., ibid.).

FONTE: Gennep, A. Van (1920). H. L. A. Visser, Collectief Pychologische OmtrekkenTjeenk Willink et fils, 1920. Revue philosophique de la France et de l'étranger, Paris, LXXXIV-XC, p. 308-309.


[1] Herman Lodewijk Alexander Visser (Amersfoort , 24 de abril de 1872 - Deventer , 28 de maio de 1943). Advogado e filósofo holandês, doutor em direito em 1896 pela Universidade de Amsterdã, com tese cujo tema fora a supervisão psiquiátrica em prisões. Fonte: Wikipédia <https://nl.wikipedia.org/wiki/Herman_Visser>. Acesso em 13/03/2019.

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