Bordeau, J. (1914, janeiro 24) comenta, no Journal des débats politiques et littéraires, edição então recente da Revue
Philosophique, comandada
por Ribot, que reunira, em um único número, uma série de ensaios dedicados à
vida inconsciente e movimentos em psicologia. O destaque editorial foi dado ao
artigo intitulado La paresse et le
moindre effort. Obter a maior soma de prazer e bem estar com o mínimo de
esforço possível consistiria na tendência ao menor esforço, seja no sentido da
preguiça, seja no da economia de forças a serem despendidas na consecução de
objetivos. O artigo diferencia a preguiça, que resulta da apatia e que se
relacionaria aos tipos fleumáticos, daquela que vira a ser o resultado de uma
ação fatigante, mas que jamais levaria alguém a morrer de fome. Deixando de
lado as implicações de ordem moral, do ponto de vista da psicologia, Ribot
teria aí procurado explicar a preguiça sem julgá-la. Ela seria, em geral, uma
espécie de velhice antecipada. A inércia do preguiçoso, todavia, seria congênita;
a do velho, adquirida: feita de causas anatômicas, da decadência física, do
enfraquecimento da memória, do estreitamento da vida afetiva, do empobrecimento
da imaginação, da submissão ao jugo de outrem, — enumera —, porque — explica:
“O velho se incrusta no hábito” (id. ibid). O hábito, todavia, importa, porque
é nele que se sustenta a lei do menor esforço, não apenas em relação à
preguiça, mas ainda à economia. O hábito, atenuando o esforço, favoreceria a
atividade humana, transformando o voluntário no involuntário, e até as virtudes
— diz ele — seriam hábitos adquiridos. Todavia, — e aí vem o que nos importa
referir aqui —, essa tendência quase universal nos indivíduos não se encontraria
nas massas, onde o menor esforça se manifesta menos que nas individualidades.
Daí o empenho da psicologia coletiva em estudar as tendências impulsivas, as
boas e as más, as úteis e as inúteis, nas revoluções, revoltas, tumultos,
lutas, assim como nas assembleias e suas deliberações.
Nota: O Journal des débats politiques et littéraires , fundado por Baudouin em 1789, ocupava-se
dos debates da Assembleia nacional. Dez anos depois, com os irmãos Bertin,
torna-se o Journal de l'Empire, mas reencontra seu nome depois. Conservador,
caracterizou-se pela qualidade da redação e pela diversidade de temas que iam
da política à literatura. Circulou até 1944. (Fonte: Galliga, BNF).
Fonte: Bordeau, J. (1914, janeiro 24). Revue Philosophique. La paresse et le moindre effort, Journal des débats politiques et littéraires, ano 126, n. 23, Paris, capa-2.
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