terça-feira, 2 de abril de 2019

A preguiça e a lei do menor esforço


Bordeau, J. (1914, janeiro 24) comenta, no Journal des débats politiques et littéraires,  edição então recente da Revue Philosophique, comandada por Ribot, que reunira, em um único número, uma série de ensaios dedicados à vida inconsciente e movimentos em psicologia. O destaque editorial foi dado ao artigo intitulado La paresse et le moindre effort. Obter a maior soma de prazer e bem estar com o mínimo de esforço possível consistiria na tendência ao menor esforço, seja no sentido da preguiça, seja no da economia de forças a serem despendidas na consecução de objetivos. O artigo diferencia a preguiça, que resulta da apatia e que se relacionaria aos tipos fleumáticos, daquela que vira a ser o resultado de uma ação fatigante, mas que jamais levaria alguém a morrer de fome. Deixando de lado as implicações de ordem moral, do ponto de vista da psicologia, Ribot teria aí procurado explicar a preguiça sem julgá-la. Ela seria, em geral, uma espécie de velhice antecipada. A inércia do preguiçoso, todavia, seria congênita; a do velho, adquirida: feita de causas anatômicas, da decadência física, do enfraquecimento da memória, do estreitamento da vida afetiva, do empobrecimento da imaginação, da submissão ao jugo de outrem, — enumera —, porque — explica: “O velho se incrusta no hábito” (id. ibid). O hábito, todavia, importa, porque é nele que se sustenta a lei do menor esforço, não apenas em relação à preguiça, mas ainda à economia. O hábito, atenuando o esforço, favoreceria a atividade humana, transformando o voluntário no involuntário, e até as virtudes — diz ele — seriam hábitos adquiridos. Todavia, — e aí vem o que nos importa referir aqui —, essa tendência quase universal nos indivíduos não se encontraria nas massas, onde o menor esforça se manifesta menos que nas individualidades. Daí o empenho da psicologia coletiva em estudar as tendências impulsivas, as boas e as más, as úteis e as inúteis, nas revoluções, revoltas, tumultos, lutas, assim como nas assembleias e suas deliberações. 

Nota: O Journal des débats politiques et littéraires , fundado por Baudouin em 1789, ocupava-se dos debates da Assembleia nacional. Dez anos depois, com os irmãos Bertin, torna-se o Journal de l'Empire, mas reencontra seu nome depois. Conservador, caracterizou-se pela qualidade da redação e pela diversidade de temas que iam da política à literatura. Circulou até 1944. (Fonte: Galliga, BNF).

Fonte: Bordeau, J. (1914, janeiro 24). Revue Philosophique. La paresse et le moindre effort, Journal des débats politiques et littéraires, ano 126, n. 23,  Paris, capa-2.

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