domingo, 7 de abril de 2019

Morte de Scipio Sighele


Na sessão reservada às notícias internacionais, ao subtítulo de Italie, o conservador Journal des débats politiques et littéraires dedica espaço à Mort de M. Scipio Sighele (1913, outubro 24), apresentado como sociólogo e professor que morrera em Florença, aos 45 anos. Nascido no Trentino, ele passara sua juventude em Milão, onde seu pai desempenhava a função de Procurador Geral do Rei. Sua primeira obra fora La foule criminelle, sob o patrocínio de Cesare Lombroso, obra que, junto a alguns ensaios publicados no Mondo criminale italiano firmaram-lhe a reputação de psicólogo e de escritor. Seguiram-se ainda, entre outras, La copia criminalle, L’Inteligence de la foule, La complicité. Sighele foi um fervoroso adepto do nacionalismo, movimento que surge na Itália e que cresce com a guerra na África. Hostil à Áustria, chegou a ser proibido de ingressar no território daquele país. Em Florença, para onde fora por razões de saúde, a morte imprevista o surpreende. A notícia é finalizada com uma carta de Sighele, escrita de Turim, que teria chegado ao jornal no dia 22 de outubro, — a morte de Sighele é dada como ocorrida em 21 de junho de 1913 —, sob o título de “O irredentismo no Trentino”. Para uma melhor compreensão do homem que foi Scipio Sighele no contexto de uma criminologia nascente, sem falar em sua relevante, senão mesmo a mais fundamental, contribuição para com o nascimento da psicologia coletiva, a carta acima mencionada é traduzida na íntegra, tal como publicada no Journal des débats politiques et littéraires.

Ainda que estejam quase completamente absorvidos pelas eleições gerais, os jornais italianos de todos os partidos não negligenciam em registrar o dia a dia dos fatos que se desenrolam no Trentino e as perseguições das quais os elementos italianos são objeto. Esses fatos confirmam, aliás, os resultados e as previsões das pesquisas realizadas no local pelos enviados especiais de dois grandes jornais sempre desejosos de ver um bom acordo reinar entre as duas nações aliadas, o Corrieri della Sera e o Stampa, pesquisas que demonstram claramente que se tratava, da parte da Áustria, da realização de todo um projeto de desnacionalização. Os exemplares desses jornais foram sucessivamente sequestrados em território austríaco, da mesma forma que os jornais italianos que continham artigos que as autoridades do Tirol julgassem de natureza a excitar a opinião pública.
Enquanto quase não fala mais a respeito dos famosos decretos de Holenhole que permanecem intactos como se deveria esperar, notícias de Trento anunciam que reuniões populares tiveram lugar ontem e anteontem em toda a região do Trentino a propósito da eterna questão de uma universidade italiana na Áustria. Os diversos oradores pediram que Trieste fosse escolhida como sede da futura universidade. A agitação tende a estender-se. Ela terá, por certo, algumas repercussões na península.

Referência: Mort de Scipio Sighele (1913, outubro 24). Journal des débats politiques et littéraires, ano 126, n. 295, Paris, p. 2.

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