domingo, 2 de junho de 2024

Tempos Nostálgicos: reminiscências anacrônicas

 Quem não experimentou os intrincados matizes da nostalgia? Em nossa jornada temporal, encontramos áreas cinzentas, limites imprecisos e um emaranhado de histórias em busca de suas próprias versões. Nossas lembranças, não raramente, misturam-se a nossas emoções e podem então padecer de marcado anacronismo. A escrita, quando nos conduz por esses caminhos peculiares, transforma o ato de escrever em um desafio. “Tempos Nostálgicos: reminiscências anacrônicas” reúne seis crônicas. Da primeira à última, há uma ordem de enunciações que passa, inclusive, por esboços biográficos e por desenhos criados exclusivamente para esta edição.

"O Diagnóstico de Cervantes" leva-nos ao universo imortal de Dom Quixote, onde a imaginação luta incessantemente contra a realidade, tornando-se, assim, um desafio para seu próprio criador. É um ensaio especulativo que pretende transcender as fronteiras do convencional, tecendo reflexões sobre o componente nostálgico intrínseco à nossa trajetória. Na ponta da pena ou da caneta o ato de escrever é catártico. A duração nem sempre é sincrônica, resultando frequentemente em perplexidade e angústia diante do descompasso temporal. Há ainda o receio de ser mal interpretado ou incompreendido, quando o meio se torna hipersensível ou quando nós mesmos somos traídos por convicções ciumentamente defendidas contra moinhos imaginários.

Uma figura controversa: “René Guénon”. Crítico guerreiro, ele desafiou o mundo moderno e o homem contemporâneo, que considera superado em sua busca incessante por novos modelos e estilos cada vez mais fragmentados. Na sequência, a terceira crônica que se intitula "A Morte do Homem Moderno". Quem foi o esse “homem moderno” que tanto prometia? Que caminhos ele percorreu até morrer? Nessa crônica, enuncia-se a pós-modernidade, conceito intrincado dificilmente compreendido em toda a sua complexidade, a não ser que se conte com “Jean Baudrillard”, que soube antecipar nosso tempo, e que chega em quarto lugar na ordem das crônicas que integram este livro.

Daí à História o que é da História e à Memória o que ela escolher” procura apresentar, de maneira acessível e por meio de narrativas simples, conceitos complexos, procurando trazê-los para o contexto de nossas vivências pessoais. A História não deve ser um objeto distante; mas a Memória, sua serva obstinada e inflexível, traz à tona suas nuanças em meio às tramas das grandes e pequenas cidades. Em tal descompasso temporal, História, Memória e Nostalgia se revelam como convites intrigantes para uma compreensão de sua diferentes temporalidades e perspectivas.

Ao final desta jornada, deparamo-nos com a figura de Gabriel Tarde, um homem genial que transcendeu as barreiras do mundo jurídico. Gabriel Tarde foi sociológico, psicológico e até mesmo botânico. Sua genialidade fez dele um escritor capaz de transcender o tempo em que viveu, deixando uma obra criativa e ainda atual, não obstante sua densidade.

Tempos Nostálgicos” é um desafio destinado a pessoas que se inquietam com nossos tempos presentes. Não é um livro de verdades, nem de perspectivas claras, mas o resultado de anos de leituras e de reflexões que aprofundaram, em vez de aplacar, as perplexidades da autora.

Boa leitura.

Disponível em:  https://kdp.amazon.com/pt_BR/bookshelf

 

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