"O homem é uma ovelha pensante. Crédulo e impulsivo, ele se precipita em direção a coisas que não vê e que não conhece. À mercê das ordens que recebe, ele se rebaixa ou se levanta, mergulha corpo e alma na multidão e deixe-se recobrir por ela até tornar-se irreconhecível."
Serge Moscovici, L'âge des foules
Esta passagem de Moscovici nos confronta com um paradoxo: somos seres que pensam, mas que, simultaneamente, se deixam conduzir como rebanhos. A metáfora da "ovelha pensante" é precisa. Raciocinamos, questionamos, criamos, mas frequentemente seguimos correntes, modas e opiniões sem nos perguntarmos o porquê? Arrastados por entusiasmos coletivos, abraçamos causas ou ideias não porque as compreendemos verdadeiramente, mas porque estão "no ar", porque todos ao redor parecem convergir para elas.
Moscovici fala dessa tendência humana de se "precipitar em direção a coisas que não vê e que não conhece". É fascinante como a curiosidade pode também ser nossa perdição quando não temperada pela cautela e pela reflexão. Há algo quase melancólico na ideia de se tornar "irreconhecível" no meio da multidão.
Talvez seja por isso que os momentos de solidão podem ser preciosos. É no silêncio que podemos nos reencontrar. Reconhecer nossa tendência gregária não implica em menosprezo de si. Ao contrário, talvez seja o primeiro passo para uma autonomia mais consciente.
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