Quando se escreve um livro, artigo, texto que seja, enfim, consultam-se fontes. Muitas vezes, essas fontes são contemporâneas aos fatos dos quais se trata, e, neste caso, dizemos que elas são fontes primárias. Jornais, fotografias, livros, enfim, tudo que é contemporâneo aos fatos estudados pode ser considerado como fonte primária de pesquisa. Este vídeo foi feito com base em documentos que serviram de fonte ao Livro dos Cem Anos do Laboratório de Psicologia Experimental da Escola Normal Secundária de São Paulo.
Sei bem que nem todo mundo entende o sentido de alguém se dar ao trabalho de fazer um vídeo como este. São simples "fontes" de pesquisa. Notícias de jornais e livros de um quando que não é mais o nosso, um quando do outro que, além de ser outro que não nós, é outro em um tempo ao qual não se pertence. Um abismo nos separa do outro na história, e falo da História mesmo. Transpor esse abismo é lançar-se em uma aventura, percorrer páginas e páginas em busca de pistas, acontecimentos, fatos, indícios de algo. Cada pedacinho desse material valioso será depois transformado em informação. É matéria prima que representa fragmentos do passado. Pesquisar é viajar no tempo. Uma viagem que exige muito mais do que deslocar-se no espaço: não se vai ao passado, porque o passado é irrecuperável. Ele não têm existência, mas versões. Pesquisar o passado, buscar o outro em outro tempo, requer um exercício de sensibilidade, uma adequação a sociabilidades que nos são estranhas. É um trabalho muitas vezes solitário. E poucos são os que entendem o fascínio de uma pesquisa, o gosto da descoberta, por vezes, de uma informação mínima.
Pesquisar é afrontar o Todo Poderoso deus que é o Tempo. É buscar, apesar dele, ver, ouvir, perceber o outro que nos acena do passado. Tenho para mim que, independente do produto obtido em uma pesquisa, independente de seu resultado prático, a exploração das fontes, especialmente quando elas são primárias, já é, em si mesmo, um produto: um arquivo que não raramente o pesquisador guarda em separado com as sucessivas versões daquilo que fez.
Talvez por isso mesmo eu ame tanto pesquisar e arquivar. Colecionar informações para descobrir por quais misteriosas articulações elas nos sugerem sentidos.Como se houvesse uma linguagem inerente às coisas, uma poderosa linguagem que nos descobre padrões mesmo nas menores particularidades. Um trabalho tão rico que nos torna tanto melhores quanto mais velhos ficamos, por termos percorrido décadas e nos habituado a mudanças.
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