quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Das idades da Vida

Não são apenas os diversos sexos, são as diferentes idades da vida que disputam entre si a preeminência. Esta luta incessante não se resolve sempre nem em toda parte da mesma maneira; suas soluções sucessivas não se seguem sempre e em todo lugar na mesma ordem. Eu admiro aqueles que pretendem regrar de antemão a sorte desses combates.  Ora, ― e este é o caso ordinário ―, o sexo masculino domina; ora, raramente, o sexo feminino; mas a subordinação deste último é mais ou menos completa e varia muito, num sentido ou noutro, segundo as ideias e as paixões dominantes no curso da civilização.  Do mesmo modo, ora a idade madura, ora a juventude, ora a velhice tem o governo dos negócios.  Pode-se dizer que a gerontocracia é muito freqüente entre os povos primitivos, sem todavia ser constante, que a efebocracia é exceção, e que o reino dos homens maduros, no vigor da idade, ―  o que se poderia chamar antropocracia ―,  é o regime normal, o que não quer dizer habitual.  Não houve jamais uma sociedade em que as crianças comandassem como senhores?  Por uns tempos, é possível.  Mas se esta singularidade houvesse existido, seria fundamento para pretender que a pedocracia é uma fase necessária da evolução social, um dos anéis dessa longa corrente?  Eu não vejo mais razão para atribuir esta mesma importância ao matriarcado, à ginecocracia.

Gabriel Tarde (As Transformações do Direito)

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