Eu não diria que cultura popular e alta cultura se equivalem. Pretender que não há diferença entre ambas seria impor verdadeira neutralização da arte e da literatura, nivelando-as ao gosto das massas. Arte, sobretudo, tem uma função incômoda. Eu diria que ela deve ser, no mínimo, perturbadora, senão mesmo corrosiva. A busca de estetizar o mundo vem banalizando a arte, que se aproxima do real, assumindo uma fealdade que a generaliza, expandindo-a diante de consciências que se estreitam e se uniformizam cada vez mais, ao gosto do prêt-à-porter ou do prêt-à-penser, onde parecido se torna igual. Autenticam-se as imitações e o artístico se aproxima do meramente artesanal. Observo uma aproximação que a homogeneização forçada que mistura a arte, a política e o simples dia-a-dia, a prosaica realidade do cotidiano, aniquilando-se aí qualquer possibilidade de transcendência, apanágio da toda verdadeira arte, que é substituída pelos cenários vazios e superficiais produzidos pela propaganda.
Sentidos embriagados perdem em penetração o que ganham em aturdimento e
euforia. O que conta é a embalagem, pois o conteúdo aqui é dispensável. Mais ou
menos como a marca em detrimento do produto, adquirem-se gostos e opiniões para
etiquetar o vazio deixado pela ausência dos significados que só a verdadeira
arte nos faz descobrir, em um processo que não pode ser encenado por nenhuma
dinâmica da indústria cultural, que desumaniza pelo consumo, que destrói a
possibilidade de emergência de uma consciência crítica, que elimina cada vez mais
a possibilidade de escolha. Acredita-se que qualquer coisa pode ser arte e que
qualquer um pode ser artista, destruindo-se assim, também na estética, as
barreiras que, em outros campos, separam a elegância da vulgaridade, a saúde de
doença, o sagrado do profano, suprimindo-se qualquer possibilidade de
assinar-se à beleza uma função transcendente, coisa que só a genuína obra de
arte pode oferecer.
É que a verdadeira arte desiguala, na medida em que requer muito mais que a mera destreza artesanal e a sensibilidade de massa, embotada pela publicidade, que ratifica a fealdade imperdoável na qual mergulha o mundo moderno, onde proliferam bienais e aglomerações urbanas chocantes que vão de favelas a barueris, ambas amostras de padronização, seja da miséria, seja do mau gosto ostensivo que acompanha todo dinheiro novo em seu culto à vulgaridade praticado com todo fervor. Vivemos muito, é verdade, e com notável bem estar material, acesso à tecnologia, aos avanços da ciência. Mas nossas vidas são esterilizadas pela massificação da qual não se pode escapar. O mundo fica cada vez mais espetacularmente feio.
A Modernidade consiste neste movimento político e filosófico que vem
acontecendo nos últimos três séculos da história ocidental e que, portanto,
abrange nossas vidas.
Eis os cinco processos convergentes que caracterizam a modernidade:
a individualização, pela destruição das antigas comunidades de pertinência;
a massificação, pela adoção de comportamentos e de modos de vida estandardizados;
a dessacralização, pelo refluxo das grandes pregações religiosas em proveito de uma
interpretação científica;
a racionalização, pela dominância da razão instrumental através da troca de mercadorias
e da eficácia técnica,
a universalização, pela extensão planetária de um modelo de sociedade implicitamente colocada como único possível racionalmente, logo, como superior.
Dentro desses processos caracterizadores da modernidade, a humanidade é aí percebida como uma soma de indivíduos racionais que, por interesse, por convicção moral, por simpatia ou ainda por temor, são chamados a realizar sua unidade na história. Nesta perspectiva, a diversidade do mundo torna-se um obstáculo, e tudo aquilo que diferencia os homens é percebido como acessório ou contingente, ultrapassado ou perigoso.
Fonte: BENOIST, A. de, CHAMPETIER, C. La Nouvelle Droite de l’an 2000. Élements, 94, Février 1999.
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