domingo, 29 de abril de 2018

Pequenas indiscrições

Figura 10 — Bilhete, provavelmente Porto Alegre, 28/05/1952. 
Fonte: acervo da autora.
Se arquivos são arquivos, sejam pessoais, sejam institucionais, e se, por isso mesmo, se identificam em muitos aspectos, os pessoais, especialmente aqueles que advêm de pessoas comuns, conformam-se de maneira única. Dir-se-ia que são irreplicáveis. Além disso, nem mesmo seu formador teria como prever todos os elementos que, ao longo do tempo, ali seriam inclusos. Se, por um lado, boa parte desses elementos se repetem, como cartões de natal, documentos legais, atestados, certificados, diplomas, etc.[1], por outro, existem aqueles que, aparecendo ocasionalmente, acabam por se integrarem aos demais, porque com estes convivem, contribuindo assim para conferir aos arquivos pessoais uma singularidade notória, devida a um conteúdo quase sempre imprevisto e imprevisível. Exemplo? As pequenas indiscrições que eles não excluem, e que nos fornecem pistas seguras de certo refinamento de espírito onde as reticências se substituem aos discursos.

TOMASINI, Maristela Bleggi. Segredos de arquivo: etiqueta social e cotidiano nas cartas de amor de Francisco para Maria (1922-1937). 2017. Tese (Doutorado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-09042018-125439/>. Acesso em: 2018-04-29.




[1] Cox (2008, p. 164, 165) considera como uma parte essencial dos arquivos pessoais aqueles documentos que marcariam o progresso do indivíduo. Certificados, diplomas, atestados de expertises seriam marcas pessoais que ajudam na construção da identidade.

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