sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Arquivo de Lysia




Por sua singularidade, o arquivo de Lysia não se presta a uma função sistemática, exceto aquela que, no passado, lhe imprimiu sua empreendedora e que persiste ainda em sua organicidade[1]. A questão, parece, poderia estar relacionada ao que Baudrillard observou com relação ao objeto marginal e ao objeto antigo, que escapariam a qualquer sistematização. Singulares, barrocos, folclóricos, exóticos, antigos ― enumera ele ― tais objetos contradiriam exigências de uma ordem funcional e responderiam a desejos de outra ordem: testemunho, lembrança, nostalgia, evasão. “Esses objetos ― acrescenta ― por diferentes que eles sejam, também fazem parte da modernidade, e tomam aí um duplo sentido” [BAUDRILLARD, Jean. Le système des Objets. Paris: Gallimard, 1968, p. 103]. Isso ocorreria, particularmente, quando viessem a integrar um sistema cultural diferente daquele que lhes deu origem. Passariam assim a responder a outras necessidades, num processo equivalente à supressão do tempo, ao menos na ordem do imaginário.





[1] “Organicidade é o termo que designa, na área arquivística, a qualidade segundo a qual os arquivos refletem a estrutura, funções e atividades da entidade acumuladora, em suas relações internas e externas” (CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Os arquivos e o acesso à verdade. In: SANTOS, Cecília MacDowell et al. (org). Desarquivando a ditadura: memória e justiça do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2009a, v.2, p.424-443).

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