domingo, 26 de agosto de 2018

Nossa humanidade


Separar problemas de ordem moral de problemas de ordem científica ou técnica é quase um requisito, o mais básico talvez, para o exercício da arte de pensar. O problema da igualdade dos homens, este, sobretudo, talvez seja o que mais atenção demanda. Se o Direito, em sua longa trajetória, já superou a questão igualitária ao menos no campo teórico, e se busca cada vez mais afirmá-la em sua prática, na medida em que realiza os seus ideias, a ciência, por sua vez, no decorrer de sua história, coloca-se diante de uma realidade de não pouca complexidade, porque nela a igualdade entre os homens não resulta de um decreto ou de uma convenção. O caráter empírico das ciências põe cobro a muitas expectativas, dentre as quais a de um belo supostamente intrínseco à natureza. A Psicologia, cujo objeto não refoge ao estudo do indivíduo, procura saber, não estimar. Daí tratarem-se de campos distintos de onde os sentimentos, embora sempre inspiradores, devem ser abstraídos. Assim os homens, eles mesmos como parte da natureza que integram, puderam ser tomados como objeto de uma ciência empírica. Essa apropriação, que o século XIX praticou abertamente e sob o aval da cientificidade, não foi sem consequência. Dividido entre corpo e alma, o homem foi e permanece sendo disputado, ora como filho de deus, ora como mero produto natural. Esse mesmo homem, social e individual, ― porque ser humano é ostentar simultaneamente essas duas condições ―, é ora indivíduo, ora coletividade; ora é portador de uma consciência individual, ora coletiva.

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