Encontrei em Gustave Lebon (1884) interessantes referências sobre a
fabricação do papel. Sabe-e que, na Idade Média, o suporte para escrita era o
pergaminho, cujo custo elevado[1] fazia
com que, frequentemente, os monges raspassem as obras dos grandes escritores
gregos e romanos para sobre elas gravarem suas homilias. A difusão dos saberes reclamava, pois, a utilização de um substrato, análogo ao papiro egípcio, capaz
de substituir o pergaminho, prestando assim um grande serviço à difusão dos
saberes. Para Le Bon, os árabes foram os primeiros a fazerem essa substituição,
o que se comprovaria pela descoberta, por Casiri, na biblioteca do Escorial[2], de
um manuscrito árabe assentado sobre papel de algodão que remonta a 1009,
anterior, portanto, a todos aqueles existentes nas bibliotecas da Europa.
Reconstituindo o caminho histórico dessa invenção, Le Bon faz lembrar que os chineses, desde tempos imemoriais, dominavam a fabricação de papel a partir de casulos de
seda, fabricação introduzida em Samarcanda[3]
nos primeiros tempos da hégira e, quando os árabes se apoderaram dessa cidade,
aí teriam encontrado uma fábrica já instalada. A utilização da preciosa
descoberta, todavia, encontrava obstáculo na Europa, onde a seda era pouco ou
quase desconhecida. A solução seria substituí-la por outra substância, o quer
fora feito pelos árabes, que empregaram o algodão. Dever-se-ia também aos
árabes a descoberta do papel de trapos, de difícil fabricação, exigindo
numerosas manipulações, porque o emprego deste tipo de suporte entre os árabes
é muito anterior ao uso que os povos cristãos fizeram dele. Afirma Le Bon que o documento considerado como o mais
antigo manuscrito sobre papel existente na Europa é uma carta de Joinville a
São Luiz escrita pouco antes da morte deste príncipe em 1270, ou seja, em época
superior à sua primeira cruzada no Egito. Todavia, haveria manuscritos árabes
sobre papel de trapos anteriores em mais de um século a este documento,
notadamente um tratado de paz firmado entre Afonso II de Aragão e Afonso IV de
Castilla, que data de 1178 e que se conserva nos arquivos de Barcelona. Sua
origem será a celebra fábrica de papel de Xatiba, da qual o geógrafo Edrisi[4], que
escreveu na primeira metade do século XII, fala com elogio.
Fonte : LE BON, Gustave. La civilisation des Arabes, Livre VI :
La décadence de la civilisation arabe. Paris : Firmin-Didot, 1884. Édition
réimprimée à Paris en 1980 par Le Sycomore, Éditeur, 1980.
Imagem: Fragmento de antigo tecido árabe de acordo
com desenho do egiptólogo Prisse d'Avesne.
[1] Lembro-me bem de ter ouvido em minhas aulas de paleografia medieval
que seria necessário o couro de não menos de cem vacas para dar contas de uma
bíblia.
[2] Real Biblioteca del Monasterio de San Lorenzo de El Escorial.
[4] Abu Abdulá Maomé Idrissi (1099-1165), também conhecido como
Idrissi, Xarife Idrissi ou simplesmente Edrisi ou Idris ou, ainda, pelo nome
latino de Dreses, sendo também referido na literatura como o Árabe da Núbia,foi
um geógrafo, cartógrafo e botânico árabe,
famoso pela qualidade de seus mapas,
tanto no desenho quanto na precisão. Fonte : Wikipédia
Nenhum comentário:
Postar um comentário